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Oferta de madeira no RS é afetada pela expansão das lavouras
Valorização dos grãos e baixo preço pago pelas árvores nos últimos anos desestimulou investimento em florestas
Nos últimos anos, a grande rentabilidade que os preços das commodities tem gerado para agricultores incentivou uma expansão do plantio de grãos no Rio Grande do Sul. No entanto, especialmente em pequenas propriedades, essa expansão das lavouras já tem afetado outro segmento agrícola: o de florestamentos para exploração de madeira. Em alguns municípios, indústrias do setor já estão relatando dificuldades para conseguir toras devido à redução de áreas plantadas com eucaliptos e pinus, o que já tem forçado um aumento dos preços da madeira.
De acordo com dados da Emater, no início de abril de 2011, durante o período da colheita da soja, o preço médio pago pela saca de 60kg no Rio Grande do Sul era de R$ 43,97. Na primeira semana de abril de 2021, o valor já havia subido para R$ 164,55, um incremento de 273%. Em comparação, a inflação medida pelo IPCA no mesmo período teve alta acumulada de 73,87%.
Essa valorização incentivou os produtores a aumentarem as áreas plantadas com soja. Em 10 anos, houve um incremento de 64,5% nas lavouras do grão, segundo a Emater. Em 2011, a soja ocupava 4,075 milhões de hectares no Rio Grande do Sul. Em 2021, essa área chegou a 6,075 milhões de hectares.
Nas pequenas propriedades, grande parte desse avanço se deu sobre áreas plantadas com pinus, eucaliptos e acácias. Além da valorização dos grãos, o baixo preço da madeira e os custos com mão de obra tem desincentivado os agricultores a investirem em florestamentos. “É um processo que vem desde o início da década de 2010”, afirma Ilvandro Barreto de Melo, engenheiro agrônomo e extensionista da Emater.
Melo destaca que, em 2010, foi instituído o Programa Florestal RS, que tinha o objetivo de promover e coordenar ações para o desenvolvimento sustentável e melhoria da competitividade da cadeia produtiva de base florestal. “Na época houve uma quantidade expressiva de novos plantios em pequenas propriedades. Isso criou uma quantidade boa de matéria-prima no Estado. Mas o consumo de madeira não evoluiu da mesma forma, e logo começou a haver dificuldades de mercado” lembra.
Com a demanda não crescendo na mesma medida da oferta de produto, o preço caiu. Além disso, muitos produtores, sem motivação para seguir com a atividade, cortaram suas árvores “Hoje quem tem florestamento está arrancando, não tem como manter florestamento quando compara com soja“, afirma Zilmar Tadeu Hoszczaruk, produtor rural em Machadinho, no Norte do RS.
Em uma propriedade de 12 hectares, Hoszczaruk possui 7 hectares plantados com eucaliptos. “A renda deles será a minha complementação de aposentadoria”, afirma. Antes, havia plantado 3,5 hectares com pinus, os quais derrubou há cinco anos. “Em cima dessa terra fiz pastagem e criei gado, para dar tempo de apodrecer a madeira restante e reduzir custo de maquinário para agora, e agora plantei soja”, afirma.
No entanto, o produtor é o único entre os da sua região que ainda possui florestamentos. “Estão pagando R$ 45 a R$ 50 pelo metro cúbico de lenha. Esse valor mal paga os custos de mão de obra para derrubar e transportar as toras. E isso dificulta para quem plantava árvores voltar a investir”, comenta Hoszczaruk.
Redução de oferta já aumenta valor das toras
Segundo Ilvandro Barreto de Melo, da Emater, a desvalorização da madeira ocorrendo em paralelo ao aumento dos preços da soja fez com que vários plantios deixassem de existir e as áreas não foram mais repostas. “Vai chegar um momento em que não terá mais madeira de tamanho adequado disponível em volume suficiente para a indústria”, afirma.
“Há cinco atrás, os produtores estavam dando as árvores de pinus que tinham para quem limpasse o terreno para que o dono da terra pudesse fazer lavoura em cima”, lembra Carlos Patrick Dallagnol, proprietário da indústria MD Madeiras, de Lagoa Vermelha. A empresa, que tem uma produção de 360 metros cúbicos por ano, beneficia madeiras para construção civil e indústria moveleira.
Segundo Dallagnol, a oferta de madeira na região de Lagoa Vermelha já está muito baixa. “Acho que daqui uns cinco anos não haverá mais árvores de pinus por aqui. Na nossa região as terras são boas para plantação, e os preços dos grãos estão altos. Com isso, está valendo mais a pena arrendar as terras para plantar soja do que plantar pinus”, comenta. Além disso, o empresário destaca que a exportação de toras também tem crescido, fazendo com quem muita matéria-prima antes destinada para a indústria local seja agora enviada para o exterior.
Com isso, os preços da madeira já estão subindo rapidamente. “Em cinco anos o preço dobrou. Em 2016 a gente pagava cerca de R$ 250 o metro cúbico de pinus. Hoje pagamos R$ 500, e até o fim do ano deve chegar a R$ 750. Para 2022, já tem empresários do ramo que acreditam que pode chegar a R$ 1 mil”, afirma Dallagnol
Sindicato acredita que genética e manejo podem ser soluções para o mercado
O Sindicato das Indústrias Madeiras do Rio Grande do Sul (Sindimadeira-RS) reconhece que existe uma redução na área de plantio efetivo e também um movimento de conversão de áreas de florestas para lavouras. Entretanto, a entidade afirma que, devido à genética e ao manejo aplicado nas florestas, ainda não há um desequilíbrio entre oferta e demanda no Estado.
Segundo o Sindimadeira-RS, estima-se que aproximadamente 15% das florestas de pinus gaúchas serão convertidas em lavouras. Em contrapartida, a produtividade dos novos florestamentos é superior em 30% se comparada aos plantios dos últimos 15 anos. “Pode-se dizer que alguns sortimentos tem menor oferta devido a tendência de ciclos mais curtos de colheita, mas o estoque global ainda não chegou ao seu equilíbrio. Atualmente há oferta de toras”, destaca o sindicato.
De acordo com a entidade, os preços das matérias primas estavam estagnados ou até mesmo recessivos nos últimos 10 anos. Esse fator desestimulou os produtores a reflorestarem suas aéreas, além do fato de que a produção de grãos vem atraindo mais os proprietários de áreas rurais devido a sua remuneração mais rápida em razão dos ciclos desses cultivos serem anuais. “Apenas nos últimos 10 meses pode-se dizer que houve recuperação dos valores devido a vários fatores locais, tais como exportação de serrados e laminados motivados pela migração de empresas de outros estados, além da demanda mundial em alta devido a vários fatores causados pelo período de pandemia”, aponta o sindicato
No entanto, o Sindimadeira-RS salienta que os preços gaúchos apenas estão indo ao encontro dos já praticados nos demais estados do Sul do Brasil. “Além disso, os custos de plantio, colheita e logística estão subindo e precisam ser compensados”, afirma a entidade.
Além disso, o sindicato aponta que o RS ainda é ofertante de matéria prima, fato que vem atraindo várias empresas vindas de outros estados do Brasil. “O Rio Grande do Sul caracteriza-se por vender um grande percentual de sua matéria prima principalmente ao estado vizinho de Santa Catarina, o qual tem uma indústria consumidora mais desenvolvida em termos de demanda. É importante atrairmos mais empresas para o RS a fim de equacionar a oferta e a demanda, o que tornaria mais atrativo reflorestar novamente”, destaca o Sindimadeira-RS.
Tamanho das florestas gaúchas
Segundo informações da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), entre 2016 e 2019 (último ano com dados disponíveis) a área de florestas plantadas no Rio Grande do Sul aumentou 32,4%, passando de 780,9 mil hectares para 1.033,9 mil hectares. Desse total, eucaliptos ocupam 668,3 mil hectares, seguido por pinus ( (289,7 mil hectares) e acácia (75,9 mil hectares).
No entanto, de acordo com a Ageflor, esse crescimento não deve ser vinculado ao aumento efetivo da área plantada no período, mas à constante regularização ambiental das propriedades rurais, o que coloca mais informações corretas nos sistemas oficiais de controle, assim como a uma melhor metodologia de aquisição de dados pela disponibilidade de imagens de alta resolução espacial.