De 4 a 12 de setembro, o Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, abrirá suas portas para a primeira edição que será marcada pela chegada da vacina contra a Covid-19 – o que permitirá a quase totalidade das atividades formais da feira. Por outro lado, a retirada da vacina contra a febre aftosa no rebanho gaúcho ainda traz incertezas quanto ao impacto que o novo status sanitário terá sobre a participação de animais neste ano. O desafio de mais uma edição está lançado, e o presidente da Federação das Associações de Criadores de Animais de Raça (Febrac), Leonardo Lamachia, acredita que mais uma vez a feira vai se superar e repetirá o recado que deu ao mundo em 2020: é possível realizar um evento em plena pandemia desde que sejam estabelecidos e cumpridos os protocolos por todos os agentes envolvidos na organização.
Jornal do Comércio (JC) - Como está sendo neste ano o interesse das associações de animais de raça pela participação da feira de Esteio?
Leonardo Lamachia – É bem mais forte do que no ano passado, quando havia ainda muito receio por parte dos criadores. Não tínhamos o fato objetivo de hoje que é a vacina. Costumo usar a expressão de que esta será a primeira Expointer com vacina (Covid-19) e sem vacina (aftosa), por isso acredito que será uma feira marcante neste aspecto. Sentimos um interesse muito grande de todas as raças, mas com destaque especial das ovinas, que virão com uma grande representação. Ano passado estiveram no Parque Assis Brasil cerca de 300 exemplares e, neste ano, devem chegar a mil. Todas as raças que participaram em 2019, que foi um ano tradicional, mostraram interesse em estar presentes neste ano.
JC – Qual será o principal desafio da feira neste ano para todos que estarão dentro do parque, em termos de protocolos?
Lamachia – Acho que vai ser uma Expointer desafiadora sim. No ano passado foi em virtude de um quadro mais complexo pelo número de casos de coronavírus e até pela ausência da vacina. Também tivemos uma redução de público expressiva, apenas pessoas envolvidas nos julgamentos e nas provas técnicas puderam comparecer. Ou seja, foram para lá apenas pessoas envolvidas nas atividades com os animais. Neste ano, porém, o que desafio maior é mantermos os cuidados, em que pese que a maioria das pessoas, ou quase todas, estarão já vacinadas, seja por idade ou pelo fato de que a própria Secretaria da Agricultura (Seaprd) colocou a possibilidade de vacinar esses trabalhadores. No entanto, esse novo cenário não pode ser um fator que nos faça baixar a guarda dos cuidados, até porque teremos, diferentemente de 2020, uma série de outras atividades funcionando, caso dos restaurantes, palestras, eventos técnicos e entrega de premiações. No campo da pandemia o desafio é seguir observando os protocolos mesmo com a vida mais próxima do normal. Já estão confirmados julgamentos de praticamente todas as raças, assim como alguns leilões também. É verdade que essa prática dos leilões virtuais veio para ficar, mas alguns devem ser televisionados diretamente do parque Assis Brasil.
JC – Os leilões virtuais de animais vieram para ficar, mesmo com uma vitrine de relacionamentos que é a Expointer?
Lamachia – Acredito que o modelo virtual veio para ficar, sem dúvida. Esse formato tem plenas condições de coexistir com a atividade de forma presencial. Os modelos não se anulam, se agregam, mas isso depende de cada criador e das convicções de cada um, passando ainda pela questão de custos. Há 50 anos a Expointer foi chamada assim porque vieram delegações estrangeiras para dentro da feira. Exatamente 50 anos depois quem vai para fora é a Expointer: tivemos o movimento inverso no ano passado. O parque Assis Brasil invadiu o mundo e esse é o grande legado e avanço do modelo virtual. Para se ter uma ideia, os julgamentos mais concorridos reúnem cerca de 100 a 150 pessoas em torno da pista. Hoje são as mesmas 150 pessoas no presencial e um número infinito delas ao redor do mundo.
JC – O que consideras como aprendizado de 2020 para 2021, em relação ao formato?
Lamachia – O ano de 2020 foi marcante pois mostramos que era possível sim, com muita responsabilidade, realizar as atividades necessárias ao andamento da vida em todos os seus aspectos. Não deixamos de realizar a Expointer no ano mais difícil dos gaúchos, dos brasileiros e do mundo. Com muita responsabilidade e sucesso, mantemos os cuidados exigidos. Acho que 2020 deixou esse marco de que é possível conviver com uma pandemia, com cuidados e fazendo com que as coisas aconteçam. Isso foi um marco, porque, por exemplo, a Exposição de Palermo, uma das mais tradicionais do mundo que acontece na Argentina, foi cancelada.
JC – Como vês essa edição da feira na condição de primeira como status de zona livre de febre aftosa sem vacinação. De que forma essa condição pode impactar positivamente nos negócios com animais e genética?
Lamachia – Tenho usado muito um binômio para definir esse momento: responsabilidade e oportunidade. Ao mesmo tempo em que se abrirão oportunidades, pois o avanço do status sanitário é sinal de desenvolvimento, temos que ter muita responsabilidade para mantermos esse status. Precisamos encarar esse momento importante que precisa ser comemorado – foi a decisão mais relevante da pecuária gaúcha em 30 anos. Então, responsabilidade e oportunidade representam bem esse momento. Acredito que ambas as expressões podem ser trabalhadas por todos os atores da cadeia produtiva, mas no que tange à responsabilidade e considerando uma escada hierárquica, surge o poder público como o primeiro responsável pela manutenção desse status. Isso porque a decisão partiu do poder público. Participamos das reuniões, opinamos e deliberamos favoravelmente, mas a decisão política baseada em critérios técnicos veio do poder público. Me refiro em nível estadual (investimentos permanentes em defesa sanitária) como federal (controle de portos e aeroportos). Houve um investimento já realizado neste primeiro momento até para cumprir a exigência do Ministério da Agricultura, só que para termos tranquilidade o Estado deve manter esses aportes de forma permanente.
JC – E especificamente na Expointer, o que representará esse novo status?
Lamachia – Sempre será um fato positivo para a exposição pois é um sinal de avanço da pecuária gaúcha. Em relação à participação de animais, são os dois lados da moeda: assim como se abrem as portas de Santa Catarina e Paraná, fecham-se as de outros que não são zona livre sem vacinação. Então ainda não saberia afirmar se nesta balança do abre e fecha se teremos um número maior ou menor de animais no parque em função desse novo status. O lado positivo é que os estados que abrem estão próximos, e já temos a confirmação de muitos criadores desses estados, especialmente caprinos, ovinos e bovinos de Santa Catarina.