O setor avícola gaúcho planeja reduzir a produção de frangos em 10% no Rio Grande do Sul para compensar a elevação dos custos dos insumos para as criações. A medida, que foi definida nesta quarta-feira (28), segundo a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) pode resultar em reajustes de preços aos consumidores nos últimos meses do ano.
Segundo a Asgav, dados de analistas de mercado do setor avícola apontam que, nos últimos 12 meses, os principais insumos de alimentação das aves tiveram uma alta muito maior do que as dos preços da carne de frango. Enquanto o farelo de soja sofreu elevação de 110% e o milho 95%, o valor pago pelo frango subiu apenas 30,3% no mesmo período.
Ao mesmo tempo, há pouca oferta de grãos no mercado nacional, devido aos baixos estoques (em parte pela queda de produção causada pela estiagem no verão) e o incentivo às exportações, com o aumento dos preços internacionais e a alta do dólar. "Essa conjuntura de aquecimento dos embarques para o exterior, elevação do câmbio, a pandemia de Covid-19 e os efeitos climáticos tem gerado lentidão nas vendas de milho no mercado interno e eleva os preços a patamares insuportáveis", explica Segundo José Eduardo dos Santos, presidente executivo da Asgav.
O descompasso entre custos de produção e valores de venda estão preocupando as indústrias. Segundo o dirigente da Asgav, esta situação impacta drasticamente o fluxo produtivo e, para amenizar os impactos negativos no setor, haverá diminuição na produção de carne de frango.
"O setor busca um ponto de equilíbrio. Não queremos espantar o consumidor, mas precisamos manter as atividades da cadeia produtiva, repassando custos", afirma. Segundo Santos, um reajuste na faixa de 20% a 25% na carne de frangos nos próximos dias será de extrema necessidade para as indústrias.
Santos lembra que, para ajudar o setor, o governo federal suspendeu a cobrança do imposto de importação do grão, farelo e do óleo de soja, até 15 de janeiro de 2021, e de milho, até 31 de março do próximo ano. No entanto, a medida não surtiu efeitos no mercado. Agora, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) já estaria estudando a retirada da cobrança de PIS/Cofins sobre os insumos. "A suspensão do imposto de importação provou que o governo pode mexer em tarifas para ajudar o setor de proteína animal", afirma Santos.
Atualmente, o Rio Grande do Sul abate cerca de 68 milhões de frangos por mês, segundo a Asgav. Com a redução, em torno de 7 milhões de aves deixariam de ser alojadas nas próximas semanas, reduzindo o consumo de milho e farelo de soja pelos aviários. A situação do Estado é similar ao que avalia a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) em recente comunicado, onde informa que uma redução de produção de carne de frango na faixa de 10% resultaria numa diminuição de 1,4 milhões de toneladas de milho até meados do próximo ano.
De acordo com o presidente executivo da Asgav, caso a redução de produção não gere efeitos no mercado, medidas mais drásticas para cortar custos e repor perdas poderão ser tomadas no futuro. Entre elas, Santos não descarta maiores cortes nos alojamentos, férias coletivas de funcionários e, até mesmo, paralisações de linhas de abate e demissões.
Sobre os efeitos da menor oferta de aves no mercado para o consumidor final, Santos acredita que o impacto no bolso dependerá do comportamento dos supermercados. "Se mantiverem os preços e reduzirem as margens de lucro, talvez não tenha efeitos para os compradores, ou não seja do mesmo nível que ocorre na indústria", afirma.
O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, acredita que esse tipo de medida é contraprodutiva. "O consumo está aquecido, com o final de ano chegando e os auxílios emergenciais gerando liquidez entre a população. Não há como manipular o mercado, quem manda é consumidor", afirma. De acordo com Longo, se o preço do frango das indústrias gaúchas ficar muito caro, os supermercadistas poderão buscar o produto em outros estados. "As lojas vão comprar de quem oferecer melhor preço e atender às quantidades que o mercado está buscando. Não se pode criar uma nova lei de oferta e procura", avisa.