Como médico veterinário, habitualmente, pesquiso matérias que tenham relação com a profissão. Eis que fui surpreendido pelo Projeto de Lei "Um dia sem carne" (nº 087/2018), de autoria da deputada Regina Becker. Confesso que, numa lida rápida no projeto, a argumentação inicial da parlamentar para justificar tal iniciativa já se revela inconsistente. Sob o pretexto de debater a obesidade infantil - tema relevante e, certamente, preocupante -, a deputada propõe que crianças e jovens de escolas da rede pública e privada não consumam o alimento de origem animal por um dia. Mas, logo nos parágrafos seguintes, a integrante da Assembleia Legislativa volta seu discurso opositor contra os pecuaristas.
Ora, usar jovens e crianças como pretexto para atacar, de forma tão rasteira, aqueles que são responsáveis pelo crescimento econômico gaúcho é não só desconhecer a cadeia produtiva em que estão inseridos, mas também não compreender claramente os benefícios do consumo de alimentos de origem animal.
A deputada, ao querer proibir o consumo de carne nas escolas, por um dia que seja, sob a alegação das condições em que os animais são criados ou mesmo os alimentos são produzidos, mostra total desconhecimento das premissas de bem-estar animal e normas de boas práticas amplamente difundidas na cadeia produtiva. A carne, além de fornecer proteína, é a maior fonte de cinco importantes vitaminas: tiamina, niacina, riboflavina, vitaminas B6 e B12. Além disso, contribui com minerais, principalmente o ferro e o zinco. Negar acesso à carne para crianças e jovens nas escolas pode significar deixar de fornecer, eventualmente, a única fonte de proteína diária destas pessoas. A sociedade espera que os parlamentares estejam preparados para construção de políticas públicas de soluções práticas, que visem à reeducação e ao ensino responsável e propositivo. E que os legisladores resistam ao poder do canetaço, buscando alternativas que introduzam o debate na sociedade sem medidas proibitivas.
Médico veterinário, ex-presidente do CRMV-RS