A Odebrecht anunciou nessa quinta-feira (3) um acordo com a empresa privada Petrocity Portos para fazer os estudos de engenharia e construção de um megaporto no Espírito Santo. O empreendimento, de R$ 2,1 bilhão, é o maior conquistado pela empreiteira desde a Operação Lava Jato, em 2014.
O anúncio vem na esteira de diversos problemas enfrentados pelo grupo. Na semana passada, a empreiteira deixou de pagar uma dívida de R$ 500 milhões com investidores estrangeiros e corre contra o tempo para fechar um acordo com os bancos para um novo empréstimo de R$ 2,5 bilhões.
Se não conseguir concluir as negociações nas próximas três semanas, a empresa entrará oficialmente em processo de default (calote). Na prática, isso permitiria que outros credores solicitassem a antecipação do pagamento da dívida e a Odebrecht não teria como pagar a todos - a empreiteira deve quase R$ 11 bilhões na praça.
A situação se agravou porque a empresa - que perdeu reputação no mercado por causa do escândalo de corrupção - não tem conseguido recompor sua carteira de obras. Desde que a Lava Jato descobriu sua participação em crimes, como o pagamento de propina, o estoque de projetos da empreiteira caiu para menos da metade, de US$ 33 bilhões para US$ 14 bilhões (em reais, pelo câmbio de ontem, a carteira encolheu R$ 66 bilhões).
Um pequeno alívio para essa sangria veio em março quando a construtora conseguiu assinar um contrato de R$ 578 milhões para a ampliação da térmica Santa Cruz (RJ) da estatal Furnas, do grupo Eletrobrás. Foi a primeira licitação de obra pública vencida pela empreiteira desde a Lava Jato.
No porto do Espírito Santo, o diretor da Petrocity, José Roberto Barbosa da Silva, afirma que a escolha da empresa se deve à ampla experiência da Odebrecht na construção de terminais portuários mundo afora. "Foram 55 portos implementados pela empresa em todo o mundo. Por isso, escolhemos a empresa, pelo aspecto técnico", diz ele, ressaltando que a situação econômica da empreiteira não influencia na decisão.
O projeto do Centro Portuário São Mateus foi idealizado em 2013 para atender o boom da indústria de petróleo. Mas, com a crise, o empreendimento perdeu força e passou por uma reestruturação acionária, afirma Silva.
O grupo privado é formado por operadores portuários, executivos do setor financeiro e outros investidores menores. O diretor da Petrocity não quis dizer, no entanto, o nome dos acionistas sob o argumento de haver cláusula de sigilo. O único nome informado foi o da italiana Marmi Bruno Zanet.
Silva explica que o projeto do megaporto ressurgiu em 2017 com um novo formato para atender uma demanda reprimida de carga na Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo. "Com um rearranjo de cargas, o empreendimento ganhou viabilidade econômica, com retorno do investimento em oito anos", diz o executivo. A expectativa é que as obras comecem no primeiro trimestre de 2019, criando até 2,5 mil postos de trabalho. De acordo com o cronograma, a operação teria início em 2021.
Nos próximos meses, caberá à Odebrecht fazer todos os estudos do projeto (de morfologia da costa e geofísica), incluindo o material que vai embasar o processo de licenciamento ambiental. O memorando assinado entre as empresas "assegura que, em contrapartida pelo desenvolvimento dos estudos de engenharia, a construtora terá exclusividade na execução das obras do empreendimento".
Além do porto e da obra de ampliação da térmica de Furnas, a Odebrecht também participa de uma licitação internacional para a construção de uma hidrelétrica no valor de US$ 3 bilhões na Tanzânia - local onde não foi afetada com o escândalo.