A presidente do Podemos, deputada Renata Abreu (SP), personifica o clima do troca-troca partidário que se instalou pelo Congresso desde o início da janela. Ao esbarrar com um dos seus alvos pelos corredores da Câmara, ela aborda o parlamentar com um abraço e a pergunta: "E aí, Podemos?". Assim que alguém assina a ficha de filiação, é saudado com um animado "Bem-vindo à família Podemos".
O envolvimento da deputada com o tema já virou motivo de brincadeira. Pré-candidato à Presidência pelo partido (ex-PTN), o senador Alvaro Dias (PR) apelidou Renata de "janeleira". O deputado Esperidião Amin (PP-SC) disse que ela deveria ter "claustrofobia", porque não perdia a oportunidade de tentar "abrir uma nova janela".
Quando chegou à Câmara, em 2015, a deputada tinha a missão de fazer o PTN crescer. Na época, o partido era presidido pelo seu pai e tinha status de nanico, com apenas quatro deputados. Hoje, rebatizado para Podemos, a legenda tem 18 deputados e deve chegar a 22 até o dia 7 de abril.
Assim que assumiu, Renata conta que organizou a "pasta da vitória", com os nomes e as fotos de todos os outros 512 deputados. Queria conhecer cada um deles, para saber quem abordar e como convencê-los a migrar para a legenda. Ela também costuma apresentar projetos e liderar articulações que têm como objetivo fazer o partido crescer. "A janela dura apenas um mês, mas esse é um trabalho que vem sendo feito há muito tempo", afirma Renata.
No ano passado, em meio à votação da reforma política, tentou aprovar uma emenda para abrir uma "portabilidade" dentro janela que começaria em março. A ideia era que deputados que mudassem de partido levassem junto o tempo proporcional de TV e os recursos do fundo partidário. Sem apoio, desistiu. Neste ano, propôs mais uma exceção, desta vez para permitir que vereadores também pudessem mudar de partido durante a atual janela partidária. Também não obteve sucesso.
Por ter eleito uma bancada pequena em 2014, o partido tem pouco tempo de TV e poucos recursos do fundo partidário. O Podemos, no entanto, conseguiu engordar o caixa com o fundo eleitoral, que vai render à legenda cerca de R$ 36 milhões. "Nós não somos a favor da infidelidade partidária, mas houve muitas movimentações no cenário político, só queríamos zerar o jogo para as próximas eleições", diz.