Um apelo pelo engajamento e pela participação intensa de todo o cidadão, mas de forma especial da classe empresarial, na vida política do Brasil foi feito, na manhã de ontem, em Bento Gonçalves, por Oscar Motomura, fundador e CEO do Grupo Amana-Key. Ele participou, ao lado de Clovis Tramontina, presidente do Conselho de Administração da Tramontina, e de Antônio Joaquim de Oliveira, presidente da Duratex, do 4º Meeting Empresarial da Fiema Brasil, que teve como tema central as atitudes éticas e sustentáveis nos negócios. "Precisamos de um grande mutirão nacional para resgatar os valores e a ética no Brasil", resumiu Motomura. O evento reuniu em torno de 350 pessoas.
Para o empresário, a existência de uma empresa sustentável transcende ao que ela faz em termos de produção ou prestação de serviços. Defendeu a conduta de cidadania empresarial, que se preocupa com a adoção de ações que atendam às demandas da sociedade. "O propósito só é legítimo e genuíno quando contempla uma visão para todo o país. É preciso ir além de somente pagar os impostos e achar que fez sua parte", provocou o palestrante.
Motomura sustentou que o Brasil precisa adotar a conduta de omissão zero. Segundo ele, se este comportamento tivesse sido incorporado por muitas pessoas, que viram desvios, mas não se manifestaram no momento certo, o Brasil não estaria nas condições atuais. "Omitir-se não é comportamento ético do cidadão", advertiu.
Clovis Tramontina enfatizou que, se cada um fizer a sua parte, de forma simples e objetiva, usando sempre o bom-senso, estará contribuindo para tornar o Brasil melhor. Segundo ele, costumam defini-lo como um otimista quando fala das crenças que têm no País. Afirmou ser um realista e apontou a população de 207 milhões de brasileiros, que falam a mesma língua e tem costumes muito parecidos, como grande trunfo para o desenvolvimento econômico e social.
Ao comentar pesquisa de satisfação feita na Duratex com funcionários, que a apontaram como empresa ética, Antonio Joaquim de Oliveira, afirmou estar triste com a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela situação a qual chegou o País. "Houve comprometimento ético de grandes empresas e políticos", criticou.
Resultados gerados precisam ter qualidade, afirmam empresários
O fundador e CEO do Grupo Amana-Key, Oscar Motomura, observou que o conceito de sustentabilidade tem passado por mudanças sistemáticas e deixou de ser apenas ligado à ecologia. "No momento, a empresa sustentável precisa pensar no todo e, necessariamente, gerar resultados com qualidade, sem destruir a natureza. Processos não éticos para conquistar mercados não se justificam", reforçou.
Motomura definiu sustentabilidade com um processo de longo prazo e intergeracional, com preocupações nas futuras gerações e gratidão com as anteriores. "Tudo começa com o resgate de valores no País, sem os quais é impossível otimizar a economia. Este é o desafio coletivo prioritário", sentenciou. Ele afirmou que é preciso trabalhar a liderança consciente, resultado da visão global de cidadão e de empresa, antenados com o que acontece em todas as partes do mundo. "As ações não podem ser pensadas apenas na economia, tampouco ser egoístas. É preciso saber como as decisões locais se refletem nos demais países. Uma nação do bem atrai investidores com mais facilidade", reforçou.
Clovis Tramontina destacou que, em 2014, a empresa criou o Comitê Ambiental na estrutura diretiva, visando criar um pensamento único na área de sustentabilidade. Ele detalhou várias ações incorporadas nas fábricas, que resultaram em ganhos efetivos econômicos e sociais. Tramontina citou, por exemplo, a redução superior a 11 milhões de litros de água, em 2017, na unidade de cutelaria, pela adoção do processo de reutilização. Também comentou que 39% água usada na empresa vêm de captação da chuva.
Ele lembrou que o grupo produz média de 70 milhões a 80 milhões de peças por mês, o que torna inaceitável ferramentas que consideram normais perdas de 1%. Tramontina também comentou que atualmente não se aceita mais o tradicional controle de qualidade. "Ou se tem, ou não se tem qualidade", resumiu. Os participantes também concordaram sobre a importância de valorizar o ser humano nas organizações. "Na Tramontina, esse é o grande diferencial. Por isso temos colaboradores devotados à empresa. São pessoas que gostam de trabalhar e de estar na corporação. Elas estão satisfeitas e, portanto, atuam com afinco para que todos também fiquem satisfeitos ao utilizar os produtos e serviços da marca", compartilhou Tramontina.
Esse é um dos pilares da ideia de sustentabilidade que o gestor defende: manter empregos bons, saudáveis, em um ambiente de trabalho positivo. A razão para essa crença é simples: é nas organizações que os colaboradores passam a maior parte do tempo.
É fato que as organizações precisam se reinventar, atualizando seus propósitos e alinhando sua atuação à evolução natural dos conceitos. A Duratex fez esse exercício - caminho detalhado por Antônio Joaquim de Oliveira. "Nosso comitê de sustentabilidade avalia muito mais do que procedimentos ecologicamente recomendados.
Ele estuda para onde a companhia deve ir e de que formas pode chegar a seus objetivos. Entendemos que sustentabilidade também é perenidade, é preservar valores", explicou. Segundo ele, a Duratex usa o conceito de sustentabilidade como alavanca de valor. Uma das metas para 2025 é que 95% dos consumidores reconheçam os atributos de sustentabilidade associados à marca.