A China quer surpreender uma delegação comercial dos Estados Unidos nesta semana, organizando uma reunião com o presidente Xi Jinping e se comprometendo a reduzir tarifas e relaxar regulamentações. É provável que isso seja insuficiente para impressionar os visitantes norte-americanos e evitar uma guerra comercial iminente.
A reunião, que começa na quinta-feira, deve ser de alto risco. Os EUA, irritados com a suposta pressão da China para que empresas norte-americanas transfiram tecnologia para parceiros chineses, ameaçam impor tarifas contra US$ 150 bilhões em produtos chineses e proibir compras chinesas de tecnologia dos EUA.
A missão comercial dá a ambos os lados a chance de aliviar essas tensões, mas a probabilidade de uma resolução rápida é mínima.
A equipe dos EUA planeja adotar uma postura mais dura, dizem funcionários do governo, que não acreditam que as promessas chinesas serão muito relevantes. Os EUA não enviaram a Pequim um grupo para negociações preliminares, como de costume. Em vez disso, quando os dois lados se encontrarem, os EUA podem simplesmente repetir as ameaças de tarifas e as queixas do presidente Donald Trump e esperar para ver o que os chineses oferecem. É uma estratégia arriscada, que pode ajudar a produzir mudanças profundas na economia da China se for bem sucedida, mas aprofundar as hostilidades se não tiver o efeito desejado.
"Se a viagem não for bem coordenada e a China não tiver noção dos limites dos EUA, as discussões serão improdutivas", disse Michael Hirson, ex-representante do Tesouro dos EUA em Pequim, hoje analista do Eurasia Group. Segundo ele, é provável que os EUA imponham tarifas sobre dezenas de bilhões de dólares de produtos chineses nos próximos meses.
O anúncio de Trump, em 24 de abril, de que enviaria uma equipe de negociadores a Pequim ajudou a tranquilizar os mercados e gerou expectativa de que as duas nações pudessem chegar a um acordo.
Segundo autoridades chinesas, Pequim pode propor uma redução da tarifa de 25% sobre veículos importados; aumentar a quota de filmes estrangeiros que são exibidos na China sob um modelo de partilha de receitas; comprar mais produtos norte-americanos para ajudar a reduzir o enorme déficit comercial dos EUA; e negociar um acordo de livre comércio entre EUA e China.
Mas há limites para as concessões que a China pode fazer. Pequim não deve suspender seus planos de desenvolver tecnologia avançada por meio de subsídios e outras formas de assistência, algo visto como crucial para a competitividade do país. Também não vai valorizar o yuan para ajudar as exportações dos EUA. A percepção entre autoridades chinesas é de que os EUA forçaram o Japão a fazer isso nas décadas de 1980s e 1990s, prejudicando a economia japonesa. "A China não é o Japão", disse um alto funcionário do governo chinês.
Do lado dos EUA, membros do governo têm opiniões divergentes sobre como lidar com a China. O secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, está encarregado de negociar um acordo de serviços financeiros com a China e quer reduzir as tensões comerciais entre os EUA e o país asiático.
O representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, não queria viajar para Pequim agora, segundo pessoas envolvidas nas discussões, por acreditar que o poder de barganha dos EUA aumentou à medida que a imposição de tarifas pelo país foi se aproximando.
Em reunião na Casa Branca em 20 de abril, Trump aprovou a viagem de Mnuchin, dizendo que seria bom ouvir o que os chineses tinham a oferecer, disseram pessoas envolvidas com a decisão. Ele incluiu na missão Lighthizer e o assessor comercial da Casa Branca, Peter Navarro, um crítico de longa data da China, além o diretor do Conselho Econômico Nacional, Larry Kudlow, um aliado de Mnuchin. Criou, assim, uma equipe de rivais.
O envolvimento de Navarro incomoda Pequim. Autor de livros com títulos provocativos, "Morte pela China" e "As Próximas Guerras da China", Navarro é visto em Pequim como um forte crítico da China. "Não vamos nos envolver com Navarro", disse uma autoridade chinesa em uma reunião a portas fechadas no ano passado, de acordo com uma fonte.
Na China, o governo alinhou os políticos mais proeminentes do país para se reunir com a equipe dos EUA, incluindo Xi, seu conselheiro econômico mais próximo, Liu He, e o vice-presidente Wang Qishan. Alguns no governo acham que a personalidade negociadora de Trump acabará levando a um acordo, principalmente porque a retaliação chinesa teria como alvo os agricultores dos EUA, uma influente base de apoio do Partido Republicano.