Atualizada às 17h30min
O governo do Rio Grande do Sul vendeu nesta sexta-feira (27) 2,9 milhões de ações, desta vez de seu estoque de ordinárias (com direito a voto) na bolsa de valores. Não houve divulgação antecipada de que ocorreria o leilão no pregão eletrônico da B3 (ex-BM&FBovespa).
No leilão, foram vendidas 2,6 milhões de ações, e o restante ao longo do pregão da bolsa. Até operadores e analistas de mercado que acompanham os papéis do banco se disseram surpresos com a oferta. Em 10 de abril, quando o Estado vendeu 26 milhões de ações preferenciais, a divulgação ocorreu 24 horas antes em comunicado do Banrisul.
Às 16h50min desta sexta, o governo lançou em seu site uma nota informando sobre a venda de ações ordinárias, neste caso da BRSR3 ON, único papel ordinário negociado na bolsa. O volume de papéis foi vendido pelo preço mínimo R$ 17,65, estipulado para o leilão. Com isso, o valor bruto obtido ficou em R$ 52,5 milhões. Em 10 de abril, a venda de 26 milhões de preferenciais resultou em R$ 484,9 milhões. O governo tinha 99,58% das ações ordinárias antes da venda de hoje e 50,62% do capital do banco. O estoque de ordinárias do banco é de pouco mais de 98% do total.
O valor unitário negociado nesta sexta ficou mais de R$ 8,00 abaixo do fechamento do mercado da BRSR3 nessa quinta-feira (26), quando a ação encerrou a sessão a R$ 25,73. "Uma queda, portanto, de 31,4%", observa a economista Laís Martins Fracasso, analista da Fundamenta Investimentos. Laís lembra que o valor bruto só será repassado ao governo em três dias úteis (regra do mercado). A última vez que a BRSR3 havia ficado abaixo de R$ 18,00 por ação foi em 26 de julho de 2017.
"Imagino que, se governo tivesse mais tempo, poderia fazer vendas melhores, mas se está vendendo a mercado assim, é porque o aperto das contas públicas está complicado", especula a analista da Fundamenta. O leilão começou com 2 milhões de ações e, mesmo com preço que não saía do mínimo, a corretora responsável pela operação ampliou o volume.
Em 10 de abril, a venda das preferenciais passou pela mesma situação: o lote saiu por R$ 18,65, valor mínimo e abaixo da cotação de um dia antes, que fechou a R$ 19,15. Um analista de uma corretora gaúcha que acompanha de perto o banco se disse surpreso com a oferta, lembrando o fato de não ter ocorrido divulgação prévia e ainda por um valor bem abaixo do último pregão. Até a ampliação da oferta de ações, que costuma ocorrer quando há maior interesse e para elevar preço, chama a atenção, diz ele, pois a negociação se manteve no mínimo pedido.
"Nunca vamos ver um controlador da Gerdau, por exemplo, fazer isso. Se fizer tudo bem organizado, com encontros com investidores, road-show etc, o Estado conseguiria aumentar muito o obtido hoje", aposta o analista. "Quem comprou as ações hoje pelo valor ofertado agradece", ironiza ele, lembrando que mesmo o governo federal, outras estatais e até prefeituras costumam dar publicidade a operações que envolvam ativos.
Na nota, o governo diz que, "com o sucesso alcançado nesta operação inicial de ações ON, o Banrisul seguirá ainda mais fortalecido em sua gestão profissional, que vem registrando resultados importantes em favor da própria instituição, seus acionistas e colaboradores, assim como para a economia gaúcha".
O governo chegou a anunciar em setembro passado que venderia ações ordinárias no limite do controle, mas depois desistiu alegando que o valor das ações estava abaixo do esperado. Este ano o banco anunciou que fará abertura de capital da Banrisul Cartões, uma operação muito esperada pelo mercado. Analistas e investidores tinham expectativa de privatização do banco, que depende de plebiscito ou alteração da legislação estadual excluindo a consulta. O governo Sartori tem descartado a proposta. Para aderir ao acordo de renegociação da dívida com a União, o Estado quer fazer plebiscito sobre a venda ou federalização de CEEE, Sulgás e Companhia Rio-grandense de Mineração (CRM).
Leilão durou uma hora
O pregão na B3 (novo da BMF&Bovespa) ocorreu entre 11h e 12h05min. Na tela do pregão, não é identificado o detentor das ações. Aparece que a oferta foi lançada pela corretora do BTG. Como o maior volume de ações ordinárias pertence ao Estado - antes do leilão eram 204 milhões, analistas não têm dúvida que é o Estado que está vendendo. "O outro acionista que tem mais ações é a Fundação Banrisul, o fundo de pensão dos funcionários do banco, mas que tem 449.054 ações. Então, só pode ser o Estado vendendo", conclui um analista de uma corretora gaúcha.
O Jornal do Comércio buscou informação com o Banrisul para confirmar a operação pela manhã, mas o banco disse que não comentaria o assunto. O BTG também foi contratado para fazer a corretagem, o que incluiria vender tanto ações preferenciais como as que foram ofertadas nesta sexta. Também haveria um valor mínimo de oferta.
Na oferta anterior, o Estado se manifestou por nota justificando que a venda foi motivada "pela busca do equilíbrio fiscal" e para "cumprir compromissos financeiros essenciais". Mas não houve detalhamento se o dinheiro seria usado para pagar salários. Mercado e entidades sindicais apontam a razão como maior fator. Questionado sobre o resultado do negócio, o governo não comentou se a negociação frustrou as expectativas de arrecadação. A Secretaria da Fazenda explicou, à época, que, apesar de fechar abaixo da cotação de mercado, a venda foi efetuada por mais de R$ 18,00, que era o valor mínimo pré-estabelecido.
Com os quase R$ 500 milhões a mais em caixa (venda do primeiro lote de ações do banco público), o Estado coincidentemente anunciou nesta sexta que pagará na segunda-feira (30), véspera do 1 de Maio (Dia do Trabalho) até R$ 4,5 mil de salário aos servidores, bem acima de R$ 1,2 mil dos meses recentes e valores até abaixo de R$ 1 mil em 2017. O valor total que entra na conta de 268.287 matrículas será de R$ 590 ,6 milhões. A cifra sobe a R$ 709 milhões porque também será paga a quarta parcela do 13º de 2017.
Laís Fracasso analisa que o fato de vender pelo preço mínimo, após alta no dia anterior, poderia ter provocado uma revisão na venda, para elevar o valor mínimo. "Em um leilão, o objetivo sempre é que saia pelo maior preço, dependendo da demanda. Se saiu pelo mínimo, provavelmente a demanda não foi tão forte", cogita a economista.
As duas operações de venda de ações na B3
1. Dia 10 de abril
- Volume: 26 milhões de ações preferenciais
- Valor obtido: R$ 484,9 milhões (R$ 18,86 por ação)
2. Dia 27 de abril
- Volume: 2,9 milhões de ações ordinárias (BRSR3)
- Valor obtido: R$ 52,5 milhões (R$ 17,65 por ação)