O comportamento do dólar ante o real acabou por surpreender o mercado nesta quinta-feira (5) resistindo à tendência de baixa esperada inicialmente. Pela manhã, a desmontagem de posições compradas levou a divisa a cair mais de 1%, como reflexo da rejeição do habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O movimento não demorou a perder força e a moeda passou a operar com viés de alta no período da tarde. Ao final dos negócios, o dólar à vista foi negocia o a R$ 3,3405, praticamente estável (+0,01%).
"Foi um dia bem fora da normalidade, dada a alta nos dias que precederam a votação no STF. O movimento foi mais técnico, mas mostra que o dólar não tem força para cair", disse Roberto Serra, sócio e gestor da Absolute Invest. Para ele, a resistência da divisa em um dia em que se esperava queda significativa mostra que as cotações podem buscar novos tetos informais, acima dos R$ 3,35.
Para José Faria Junior, diretor da Wagner Investimentos, há um componente positivo na alta do dólar e um negativo. O positivo é evidenciado pelo bom desempenho do Índice Bovespa e do mercado futuro de DI, dois importantes termômetros de risco para os ativos do País. Com a maior busca por ações e por contratos de DI, haveria, naturalmente, uma procura por hedge no câmbio, o que explicaria em parte a alta da divisa hoje.
"O fator negativo é a mudança de patamar da moeda, que no longo prazo está mudando de lado. Antes, a dinâmica era o 'sobe-vende'. Agora, o que se observa é o 'cai-compra'. Com isso, podemos ter um dólar oscilando no intervalo entre R$ 3,35 e R$ 3,40", disse.
Um dos principais fatores de pressão no dia foi a influência do cenário internacional, onde o dia foi de fortalecimento generalizado do dólar e de ganhos também nas bolsas de Nova York. Operadores citaram alguma tensão na expectativa pela divulgação do relatório de empregos dos EUA, o payroll, amanhã. A possibilidade de um aumento acima do esperado na geração de empregos e, principalmente, no rendimento médio do trabalhador americano, mantém a cautela em relação à política monetária do Federal Reserve.
No front doméstico, o resultado do julgamento de Lula no STF também não gerou o entusiasmo esperado nos mercados, devido à percepção de que a batalha jurídica tende a se estender, mantendo nebuloso o cenário eleitoral. O diretor executivo da Fitch Ratings no Brasil, Rafael Guedes, disse hoje que o cenário político do Brasil este ano é "muito desafiador e difícil de prever", com ou sem Lula nas eleições. "Estamos a seis meses das eleições e é extremamente difícil de prever (o resultado), com ou sem Lula. Temos um cenário bastante pulverizado", afirmou o executivo.