Não é por acaso, evidentemente, que as gigantes mundiais de alimentos voltam seus olhos aos produtos saudáveis. O setor vem crescendo a passos largos nos últimos anos e, mais do que isso, parece longe de atingir todo seu potencial. Segundo a Euromonitor, o mercado brasileiro de produtos saudáveis movimentou R$ 92,5 bilhões em 2017, com um crescimento médio anual, desde 2012, de impressionantes 9,5%. A projeção da consultoria é de que o setor continue a crescer em torno de 2,9% reais ao ano até 2022.
"É impossível negar o significado cada vez mais amplo de 'saúde' na cabeça dos consumidores, que estão desenvolvendo um sentido maior sobre eles mesmos, seus gostos e necessidades, um movimento que reflete na forma como eles compram alimentos", argumenta a analista da Euromonitor, Angelica Salado. A consultoria classifica como produtos "saudáveis e de bem-estar" os alimentos processados e embalados que possuam quantidades reduzidas de açúcar, sal e gordura; que sejam naturalmente saudáveis (como integrais e orgânicos); ou fortificados. Nessa linha, segundo a Euromonitor, o Brasil seria o quarto maior mercado do mundo, atrás de Estados Unidos, China e Japão.
O interesse tem a ver, também, com o envelhecimento médio da população brasileira, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Pesquisas encomendadas pela entidade apontam que 66% das pessoas leem a informação nutricional antes de comprar um produto, e que 65% dos entrevistados consomem ativamente produtos saudáveis (enquanto a média global seria de 51%). Outra pesquisa de mercado, encomendada pela Abras à Nielsen, mostra que a América Latina é o continente com as maiores taxas de clientes que seguem dietas restritas em gordura (39%), açúcar (32%) e sódio (24%).
"Isso tem muito a ver com o estágio de desenvolvimento em que cada país se encontra. O nível de informação hoje é muito maior, e as pessoas começam a procuram alçar outros tipos de necessidades", argumenta o coordenador do Programa de Administração de Varejo (Provar/FIA), Claudio Felisoni Ângelo, que cita o aumento da renda como ponto principal para o crescimento na procura por alimentos saudáveis. Mesmo com a crise dos últimos anos, Felisoni acredita que a troca de informações com outros países mais avançados no segmento ajuda a manter o crescimento por aqui.
De certa forma, o segmento se destaca em relação aos concorrentes tradicionais, embora, em geral, encolhendo menos. Segundo a Abras, no ano móvel até abril de 2017, o volume de vendas de alimentos no Brasil caiu 7,2%, enquanto os saudáveis reduziram 3,7%. A principal diferença foi vista na mercearia salgada, na qual os saudáveis chegaram a crescer 2,1%, contra uma retração de 3,8% quando levados em conta todos os produtos do setor.