Lançado no SXSW 2018, o livro Mude ou Morra: tudo o que você precisa saber para fazer seu negócio e sua carreira na nova economia, de Renato Mendes e Roni Bueno, mostra como a mentalidade das startups pode servir de inspiração para empresas se ajustarem a todas as transformações do mercado.
Em uma conversa com o Marcas de Quem Decide, feita por WhatsApp enquanto Mendes circulava pelo maior evento mundial de inovação, em Austin (Texas), nos Estados Unidos, o consultor e sócio da Aceleradora Orgânica comentou alguns princípios que caracterizam a atual fase de transição da velha para a nova economia. "Nunca foi tão arriscado você ficar em uma posição segura, porque não existe mais segurança", garante.
O consultor também defendeu a ideia de que os governos podem adotar a mentalidade de startups, não para obter lucro, mas para atender, de uma maneira mais condizente, às exigências do cidadão. "O governo pode ser orientado ao seu contribuinte", propôs. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Marcas de Quem Decide - Atualmente, uma marca tem de administrar uma quantidade enorme de mudanças, provocadas por variáveis conjunturais, circunstanciais e tecnológicas. Para garantir a sobrevivência, o que é melhor: ter ideias originais ou capacidade de adaptação?
Renato Mendes - A primeira coisa é que as pessoas precisam entender que a gente vive, agora, no cenário de transformação recorrente. A mudança permanente e a transformação são a nova rotina. Empresas e profissionais que não entenderem isso não conseguirão ser bem-sucedidos no cenário da nova economia. Nunca foi tão arriscado você ficar em uma posição segura, porque não existe mais segurança. O segundo ponto: a capacidade de adaptar a sua estratégia de acordo com a mudança de cenário é fundamental. Estas mudanças de cenário estão pautadas pelo consumidor, por um concorrente, pelo surgimento de uma nova tecnologia, e a gente tem que tentar o tempo todo antecipar as situações. O terceiro ponto: qual é a melhor forma de fazer isso? Conectando--se ao consumidor. É ele quem vai dar o norte da sua próxima inovação, da sua estratégia de negócios. Não tenho que fazer tudo o que o meu cliente pediu, mas tenho que estar em contato permanente e aberto com ele para ter insights. As empresas da velha economia estavam acostumadas a olhar para dentro e a ter o foco em produto. As empresas vencedoras da nova economia são aquelas que conseguem traduzir os insights dos clientes e transformar isso em inovação. O quarto ponto: a inovação é um negócio cada vez mais difícil, lento e caro. A saída é trabalhar com modelos de inovação aberta, trazendo as universidades e as startups para esse processo. As startups vão fazer com que os processos de inovação dentro das empresas sejam cada vez mais rápidos, baratos e eficientes.
Marcas - Estas diretrizes são exclusivas para as pequenas empresas e aquelas que já carregam no seu DNA uma predisposição à inovação ou as empresas de maior porte também podem seguir?
Mendes - As grandes empresas também vão ter que passar por esta transformação. As empresas com DNA da economia tradicional são as que mais estão sofrendo. O que costumo dizer é que elas não serão startups, mas podem aprender a pensar e agir como uma. Como se faz isso? Passando pelos mesmos pontos que descrevi anteriormente. Ela precisa fazer um estudo aprofundado deste cliente e entender que ela existe por uma razão, resolver o problema de alguém. As empresas de fast-food, por exemplo, são o estado da arte da Revolução Industrial: processo, escala e velocidade. Não tente mudar uma parte deste processo, porque você vai mudar toda a dinâmica. A nova economia é diferente. O cliente tem muito mais força. Faço duas perguntas quando começo um trabalho de consultoria: você está disposto a perder dinheiro no curto prazo e você está disposto a modificar processos internos? Normalmente, eles respondem que sim, mas sei que estão mentindo.
Marcas - A lógica da startup é uma postura inteligente para enfrentar as transformações do mercado, da economia e dos padrões do consumidor. Mas como se preparar para enfrentar mudanças determinadas por outros contextos, como o político?
Mendes - É imponderável. Por exemplo, no aspecto regulatório, que afeta muito as empresas. O que temos visto algumas empresas fazer: tentar plugar no cliente, e isso faz sentido. Um exemplo é a batalha regulatória que o Uber enfrenta desde que entrou no País, em que a postura da empresa foi sempre se posicionar como uma empresa que defende o interesse do consumidor. Ela coloca o poder público como vilão e se posiciona como herói nessa narrativa. Entendo que a saída é, sempre, colar no cliente. Quando você pensa em fatores de crise macroeconômica, é possível usar a tecnologia a seu favor. Não há uma receita pronta. Tem um misto de sempre se colocar no lugar do cliente, jogar com storytelling em uma questão regulatória e usar tecnologia para automatizar processos.
Marcas - Qual é o papel do setor público na criação de um ambiente favorável à inovação e à gestão?
Mendes - A lógica das startups também vale para o governo, mas com algumas correções, porque contribuinte não é consumidor. O papel do governo não é o mesmo papel de uma empresa que precisa maximizar os seus lucros. Quando a gente fala de governo, a perspectiva muda, os princípios, no entanto, não mudam. Quando se aplica os princípios de startup ao governo, a gente está falando de um governo que pode ser orientado ao seu contribuinte, ao seu cidadão. Como isso acontece na prática? Com uma gestão muito mais aberta ao diálogo. Não uma conversa burocrática por meio de um e-mail que não é respondido, mas um prefeito se abrir, em uma livestream, e responder as perguntas, as dúvidas e as críticas do cidadão, com uma comunicação mais transparente. Eles podem também ter uma gestão mais eficiente a partir da dinâmica de uso de dados, ou usar a rede a seu favor, usar a comunidade a seu favor.