Somos movidos por causas. E por mudanças. O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul consolidou seu nome e sua militância, nas últimas duas décadas, com a defesa aguerrida da saúde e o alerta para temas que comprometem esta condição - que abrangem desde a estrutura e os serviços disponíveis para a população até o trabalho dos médicos. Esse legado esteve expresso em nosso slogan - A Verdade Faz Bem à Saúde. Agimos chamando a atenção e intervindo em áreas como saúde mental, o poder avassalador das drogas, o dano gerado pelo álcool e o sufocamento de hospitais diante de recursos escassos, o que afeta a vida de todos, pacientes a médicos.
Em 2017, iniciamos uma jornada que nos levou a mudar. A Verdade Faz Bem à Saúde exprimiu nossas lutas com a força que somente a verdade tem. Mas sentíamos que era preciso ampliar a mensagem, construir novas pontes, instaurar um novo potencial para melhorar a vida das pessoas. A transformação em curso nos aproxima ainda mais dos médicos, das suas lutas e causas diárias e nos dá ainda mais instrumentos para sermos força-motriz de mudanças necessárias na saúde, impactando mais a sociedade, trazendo-a conosco. Em meio a essas iniciativas, estamos liderando um movimento na luta pela saúde, colocando luz nas necessidades da população e na fragilidade absoluta dos sistemas saúde.
Desde outubro do ano passado, lançamos com toda a nossa força e convicção uma campanha para salvar o Hospital Beneficência Portuguesa, instituição cuja marca sempre esteve vinculada à história de, literalmente, milhares de vidas porto-alegrenses. Agora, essa história está ameaçada. Além de buscarmos a reabertura de leitos - quase 200 -, buscamos também salvar um legado. Por isso, o Simers abraçou essa causa numa luta que não é fácil, mas que fará toda a diferença caso seja vitoriosa - e acreditamos que será.
Durante décadas, bebês vinham ao mundo no Beneficência, uma das principais maternidades do Rio Grande do Sul até os anos de 1960. Temos levado aos meios de comunicação depoimentos emocionantes de personalidades que nasceram no hospital. As pessoas estão ouvindo os escritores Luis Fernando Veríssimo e Martha Medeiros lembrarem do local onde vieram ao mundo. O comunicador Lauro Quadros narrou que sua mãe foi trazida pela Lagoa dos Quadros, no Litoral Norte, para fazer o parto no Beneficência. O diretor de cinema Jorge Furtado também começou a história de sua vida na instituição.
Infelizmente, o Beneficência atravessou os anos recentes com dificuldades. A operação para impedir que o hospital feche se revelou um grande quebra-cabeças. Em um primeiro momento, tivemos de buscar as partes, entender o tamanho do problema, promover reuniões com gestores públicos, com agentes políticos de governo, de Câmara de Vereadores e Assembleia Legislativa e bancada gaúcha em Brasília. Ao lado da compreensão da crise financeira instalada, era fundamental criar um ambiente de confiança, e vimos em dirigentes do conselho da mantenedora do Beneficência e médicos a vontade de entrar nessa luta. Então, unimos esses atores todos até que o primeiro efeito veio com o anúncio do Ministério da Saúde de que seria feita uma ampla consultoria para emitir um diagnóstico e o tratamento do "paciente". O Hospital Sírio-Libanês foi designado para a tarefa.
Em um retrospecto de apenas cinco meses, percebemos que não foi exagerada a comparação que fizemos com a recuperação da Santa Casa entre o final dos anos 1970 e o início dos 1980. Graças à liderança do arcebispo Dom Vicente Scherer, que dirigia o conselho da instituição, e à sensibilização da comunidade, governos e empresários, o hospital deu a volta por cima, transformando-se em um complexo de saúde reconhecido internacionalmente.
Temos excelentes perspectivas de, em breve, ver o Beneficência operando a pleno. O Sírio-Libanês começou seu trabalho em fevereiro e está levantando as condições técnicas e administrativas do Beneficência. O próximo passo será apontar as modificações necessárias para transformá-lo novamente em um hospital de referência para todo o Estado.
Mas enquanto lutamos para manter duas centenas de leitos, não podemos deixar de registrar as contradições de um País tão carente em saúde. O governo federal editou, no final de 2017, a Medida Provisória 795, já popularmente apelidada de MP do Trilhão - por garantir a multinacionais do petróleo isenções fiscais estimadas em R$ 1 trilhão até 2040, além do perdão de R$ 54 bilhões em dívidas de impostos. Considerando-se que o orçamento do Ministério da Saúde para 2018 é de R$ 130 bilhões, as benesses da MP equivalem a sete anos e sete meses de tudo que o País terá para cuidar de 200 milhões de brasileiros.
Mas não vamos esmorecer. Afinal, estamos mais do que nunca "Na Luta pela Vida".
Confira o depoimento de Paulo de Argollo Mendes durante o evento Marcas de Quem Decide 2018: