O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, pediu ontem que sejam investigados por crime de ódio dois bispos que chamaram o regime de corrupto na missas do Dia de Nossa Senhora Divina Pastora. No domingo, Víctor Hugo Basabe, bispo de San Felipe, no estado de Yaracuy, pediu a Nossa Senhora que livrasse o país "da peste da corrupção política que conduziu o país à ruína moral, econômica e social". Já Antonio López Castillo, arcebispo de Barquisimeto, no estado de Lara, pediu que livrasse os venezuelanos da fome e da corrupção. "Não acreditamos na miséria. Já chega de fome", disse o monsenhor durante a missa. Os dois foram aplaudidos pelos fiéis.
Maduro encarou as declarações como ataques ao regime e solicitou à Justiça, ao Ministério Público, à Controladoria-Geral e à Defensoria do Povo - todos controlados por ele - a investigação. "Basabe chamou o povo chavista de peste, deveriam ver se as palavras emitidas por alguns desses personagens não correspondem a verdadeiros delitos de ódio que pretendem gerar enfrentamentos", disse. "Somos cristãos, já não acreditamos em intermediários e menos ainda nesses diabos de batina, amamos nosso Deus criador, nossa Divina Pastora, mas veio um diabo de batina a incitar ao enfrentamento entre venezuelanos."
Criada pela Assembleia Constituinte, composta por aliados do regime, a Lei Constitucional contra o Ódio, pela Convivência Pacífica e a Tolerância prevê penas de até 20 anos a quem promova o que a Justiça julgar como o ódio. Também propõe a cassação do registro de partidos e o fechamento de organizações e meios de comunicação que o fizerem. A oposição acusa o chavismo de usar a lei para ilegalizar qualquer tipo de organização crítica. Os primeiros a serem enquadrados na nova legislação foram um homem e uma mulher presos no dia 3 de janeiro em Naguanagua, em Carabobo, em uma manifestação contra a falta de comida.