O tempo em que apenas condomínios-clube - com grande concentração de moradia e infraestrutura mais completa - contratavam terceiros para administrar questões internas é passado. A rotina agitada dos moradores dos grandes centros e o acúmulo de responsabilidades fez com que a tarefa de gerir condomínios torna-se pouco atrativa. A partir disso, a figura do síndico profissional foi democratizada. Hoje, até mesmo prédios com apenas quatro apartamentos buscam por auxílio especializado.
Este é o caso do condomínio Gabriela, localizado no bairro Rio Branco, que contratou os serviços da Procond Síndicos Profissionais há quase um ano. O síndico responsável é Alex Sandro D'Avila, que acumulou experiência de 22 anos no mercado imobiliário antes de montar a empresa há quatro anos. Em sua avaliação, quanto menor o condomínio mais pesa, na equação a criação de vínculos entre os moradores, que, muitas vezes, interfere na tomada de decisão. "Como alguém de fora, me torno isento", diz.
Formado em Administração de Empresas, D'Avila argumenta que a realidade de fluxo de caixa, conselhos e demonstrativos financeiros fazem os condomínios, cada vez mais se assemelharem a corporações. A afirmação vai ao encontro do pensamento da vice-presidente de condomínio do Sindicato da Habitação (Secovi-RS), Simone Camargo, que lembra que, quando a opção é por terceirizar a gestão, o papel do conselho de moradores, que pode ter caráter consultivo e fiscal, torna-se ainda mais importante para o bom funcionamento do residencial.
Sem citar números, Simone argumenta que a praticidade de entregar a administração dos conjuntos habitacionais a terceiros tem aumentado exponencialmente a procura por síndicos profissionais. A demanda na Procond, por exemplo, aumentou em 1.200% em quatro anos, ao passar de dois clientes, em seu início, para 26 atualmente. Essa realidade, aliás, não é restrita a marca. "Tenho outros colegas com números bem semelhantes", comenta o diretor da Procond.
Outra explicação para a falta de interesse de moradores administrarem seu próprio condomínio está na remuneração, que é definida por convenção interna. "Muitas vezes não compensa pelo empenho necessário", comenta. Para os síndicos profissionais, a Associação de Síndicos do Rio Grande do Sul (Assosíndicos-RS) estima uma renda mensal de um salário-mínimo a R$ 16 mil, a depender do tipo de contrato.
Na Procond, o preço mínimo cobrado pelo pacote básico para prédios menores do que sete apartamentos é de R$ 450,00. "Esse valor varia conforme a demanda de serviços em cada caso, como de portaria e limpeza", exemplifica D'Avila.
A representante do Secovi-RS lembra que cada residencial tem suas particularidades e, por isso, é necessário qualificação, oferecida por algumas universidades, além da participação em palestras de órgãos de classe como o próprio Secovi-RS e a Assosíndicos-RS.
Falta de regulamentação permite a entrada de aventureiros no mercado
À medida que a demanda por síndicos especializados aumenta em Porto Alegre, cresce também o debate sobre a regularidade da profissão. A Associação dos Síndicos do Rio Grande do Sul (Assosíndico-RS), criada por um grupo de profissionais que almeja as melhores práticas no setor, defende o estabelecimento de norma que crise parâmetros de trabalho.
No momento, o Projeto de Lei nº 20.225/11 é a única matéria que tramita sobre o assunto junto ao Congresso Nacional e foi arquivada em 2015 por uma questão de prazos, conforme o regimento interno da Câmara dos Deputados. Pela falta de regulamentação, a vice-presidente de condomínios do Sindicato da Habitação (Secovi-RS), Simone Camargo, prefere referir-se aos autônomos que trabalham na administração de condomínios como síndicos terceirizados, e afirma que a falta de norma abre brecha para que aventureiros aproveitem-se do crescimento da procura por pessoas qualificadas na área.
Para evitar golpes, Simone orienta que os condomínios contratantes solicitem a carta de clientes completa da empresa a ser contratada e se escolha aleatoriamente quais conjuntos residenciais contatados. Assim, se evita que as chamadas referências estejam viciadas.
Além disso, ela lembra que a contratação dos serviços deve ser feita a partir de um Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) para que se evite encargos trabalhistas. "Se for pessoa física, qualquer chamada fora de expediente vai gerar hora extra e adicional noturno, se for o caso", lembra.
A preocupação é acompanhada pela presidente do Assosíndico-RS, Mauren Gonçalves. Apesar de julgar que a atual conjuntura política impede celeridade no processo de regulamentação, sua preocupação, diz, recai sobre a possibilidade de criação de vínculos entre síndico profissional e condomínio através da lei, o que encareceria o serviço.
"Sei que existem profissionais que trabalham desta maneira, mas não queremos que o texto de regulamentação trate isso como uma exigência", argumenta, lembrando que a maioria dos que atuam são autônomos.