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Tour busca agregar valor ao polo cervejeiro de Porto Alegre
Com dezenas de fábricas na cidade, roteiro atrai público doméstico e turistas de negócios
Porto Alegre já é considerada por muitos a capital das microcervejarias. São quase 30 fábricas artesanais, além das empresas ciganas, que se associam para utilizar os equipamentos e fazer sua própria cerveja. Além da quantidade, as bebidas são reconhecidas pela qualidade, ganhando a maiorias dos prêmios nos festivais que ocorrem pelo País.
Todo esse potencial de polo cervejeiro vem sendo explorado pela Diretoria de Turismo da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SMDE), que abraçou projeto organizado por um grupo liderado pela Cervejaria 4Beer, localizada no 4º Distrito da Capital. Desde março deste ano, já ocorreram seis edições do Tour Cervejeiro, realizado pela Linha Turismo da prefeitura, com saídas mensais em ônibus panorâmico, que parte da frente do antigo Largo da Epatur, na Travessa do Carmo, 84.
Durante o passeio, com a duração de três horas, mestres cervejeiros de cada local visitado se revezam no trajeto, passando informações ao público sobre a fabricação artesanal do produto. Em cada estabelecimento, é oferecido um tipo de cerveja, em um copo de 100 ml, para degustação. Além disso, as diferentes opções produzidas estão disponíveis para compra. De acordo com o guia de Turismo da prefeitura, Roque Lemanski, o Tour Cervejeiro tem sido "um sucesso". "O ônibus tem capacidade para 57 pessoas, e em média saímos com 50 passageiros por passeio", calcula.
"Estou achando muito legal conhecer os pontos turísticos de Porto Alegre, saber da história dos lugares, e ainda beber uma cervejinha gelada", comenta o administrador de empresas Leonardo Lima de Oliveira, 39 anos, recém-chegado do Ceará. No primeiro domingo de outubro, ele percorreu o trajeto ao lado da professora Cristiane Foppa, 42 anos, graças à dica de um amigo. "Não sabíamos que ocorria este passeio, estou achando ótimo", concorda Cristiane. "Achamos o esquema bem organizado e estamos contentes, porque conhecemos novos estilos, como a cerveja belga apimentada."
O roteiro inclui o caminho dos cervejeiros, no 4º Distrito, e passa também pelos bairros Anchieta e Azenha, com visita a quatro cervejarias por edição. Os ingressos para a Linha Turismo custam R$ 30,00 e a degustação das bebidas, R$ 40,00. O passeio, no entanto, pode sem feito sem incluir a degustação. Apesar de parecer contraditório, isso não é incomum.
No dia 1 de outubro, o diretor de Distribuição da CEEE, Júlio Elói Hofer, 50 anos, levou a esposa, Cristina Lima Hofer, 47 anos, e os filhos João Pedro, 18, e Joaquim Lima, 17. O caçula da família se limitou a observar e aprender sobre fabricação das bebidas. "Além de prestigiar o passeio e as cervejas, queremos aproveitar o domingo em família para explicar o que é uma coisa e outra, e os limites pessoais de cada um com a bebida", destaca Hofer. "Como nossos filhos são adolescentes, trocar experiências em um ambiente como este permite que eles se disponham a nos ouvir, sem maiores resistências", brinca o diretor da CEEE.
Apreciadores de cerveja artesanal, o casal Giovani Hennings e Soraya Ismail também aprovaram o roteiro. "Além de poder observar melhor coisas que, no dia a dia, nem nos damos conta dentro da cidade, como prédios históricos e monumentos, aprender sobre a fabricação e ainda degustar as cervejas está sendo uma ótima ideia", opina Soraya, que pretende repetir o passeio.
"Temos tido bastante movimento também durante os fins de semana", comenta o proprietário da 4Beer - Cerveja e Cultura, Rafael Diefenthaler. Segundo o empresário, os turistas de negócios têm sido público cativo, uma vez que sites de viagens, como o Tripadvisor, sugerem o passeio aos visitantes da cidade. "Acho que Porto Alegre pode atrair um público de fora ainda maior, como já ocorre no Vale dos Vinhedos", observa o diretor comercial da Cervejaria Continente, localizada na Azenha, João Henrique Xavier. "A cidade vem buscando se estabelecer como um polo regional da cerveja, mas precisa de um esforço coletivo (a exemplo do Tour Cervejeiro) para que isso possa acontecer."
Roteiros variam a cada edição
Para contemplar todas as microcervejarias inclusas no polo de produção artesanal estabelecido na cidade, o Tour Cervejeiro da prefeitura varia a cada edição. Empresas como Microcervejaria Irmãos Ferraro, Cervejaria Seasons; Baldhead Craft Beers e Cervejaria Oito (localizadas no bairro Anchieta); Cervejaria 4 Árvores, Sagrada Cervejas Artesanais e 4Beer (bairro São Geraldo) são alguns exemplos das fábricas que já foram visitadas.
Situada mais próxima do bairro Cidade Baixa, a Cervejaria Continente estreou na rota no primeiro domingo de outubro. Durante a apresentação para os visitantes, o diretor comercial da empresa, João Henrique Xavier, explica que, além do nome inspirado na obra de Erico Verissimo, também os rótulos das bebidas "contam histórias, a fim de transmitir cultura junto com a apreciação a bebida".
A exemplo da maioria das fabricantes, também na Continente, além da sala de brasagem e do fermentador, os visitantes passam por um ambiente mais descontraído, onde podem degustar a cerveja com tranquilidade. Na cervejaria da Azenha, há lugar para sentar embaixo de árvores, enquanto o público escuta como são elaborados os sete estilos de chope preparados na empresa, que tem capacidade produtiva de 4 mil litros/mês.
Entre uma visita e outra, os turistas vão conhecendo a cidade: o roteiro também inclui bairros como Moinhos de Vento e Floresta. "Passamos por belos monumentos, como o dos Açorianos, o da Mãe com Bebê, na frente do Centro Administrativo, e a estátua em homenagem a Gambrinus (Deus da Cerveja), localizada no prédio do Shopping Total, que antigamente abrigava uma cervejaria", comenta o guia da prefeitura Roque Lemanski. "Além disso, vamos mostrando a arquitetura da cidade e contando um pouco de sua história. Exemplo disso ocorre quando passamos pelo Parcão (parque Moinhos de Vento), herança dos alemães, que trouxeram, além da cerveja, também um modelo arquitetônico para o Brasil."
De acordo com o proprietário da Cervejaria Oito, Luciano Passos, a ideia é que o projeto evolua e contemple cada vez mais empresas. "Está sendo um teste, para começar a fazer novas rotas, queremos expandir", garante. Passos lamenta apenas o fato de que a infraestrutura da cidade esteja bastante precária. "O nosso bairro (Anchieta), até pouco tempo, alagava; e a Associação de Moradores teve que fazer uma vaquinha para conseguir melhorar as condições de trânsito." O empresário reclama que a região está esquecida pelo poder público. "É uma pena, estamos perto do aeroporto, e poderíamos receber muitos turistas com mais facilidade."