Luiza Fritzen
Após trabalhar com suspense (Amnésia), ficção-científica (A origem) e super-heróis (Batman), Christopher Nolan eleva as apostas em seu primeiro épico baseado em fatos reais. Dunkirk, que chega aos cinemas hoje, conta a história dos 400 mil soldados dos aliados encurralados pelas tropas alemãs na praia de Dunquerque, Norte da França - o filme manteve, no título, o nome original em inglês.
No fim de maio de 1940, a Força Expedicionária Britânica, juntamente com tropas francesas, belgas e canadenses, se viram forçadas de volta às praias de Dunquerque. Além de lidar com a falta de alimentos e água, os soldados não podiam voltar para casa, pois a maré baixa proibia que os grandes navios de guerra resgatassem os homens. Foi então que os papéis se inverteram e os civis foram ao resgate dos soldados em pequenos barcos particulares após um pedido do governo inglês.
O britânico Nolan - que escreve, dirige e produz o filme - quis homenagear o resgate histórico de forma respeitosa, intensa e inovadora no que é, até agora, seu projeto mais experimental. Para isso, o diretor leu vários livros, encontrou sobreviventes veteranos da Operação Dínamo (como ficou conhecida a evacuação) e contou com a consultoria histórica de Joshua Levine, autor do livro Forgotten Voices of Dunkirk (As vozes esquecidas de Dunquerque), que inspirou o filme.
A ideia do diretor era transformar o resgate em uma experiência imersiva, colocando o público diretamente na praia, a bordo do barco que atravessava o Canal da Mancha e dentro dos caças britânicos, o que foi possível graças à combinação da tecnologia Imax com o filme de 65mm.
Nesse sentido, são justas as críticas feitas por Nolan às exibições em telas pequenas, e ao lançamento de filmes diretamente em plataformas de streaming. As sensações que Dunkirk provoca só existem graças à imensa tela e ao poder sonoro de uma sala de cinema tecnológica - o que compensa o valor mais caro do ingresso Imax.
A história é contada em três pontos de vista: na terra, na água e no ar. Cada eixo possui seu “protagonista”, como o soldado Tommy (interpretado pelo ex-One Direction Harry Styles); o patriota Dawson (Mark Rylance, de Ponte dos espiões); e o piloto Farrier (Tom Hardy, que repete a parceria com Nolan). Para cada soldado envolvido no conflito, os eventos ocorreram em diferentes temporalidades. Em terra, alguns ficaram presos por uma semana na praia; em alto-mar, o trajeto levava um dia; e nos céus, os aviões teriam uma hora de combustível. Entrelaçar essas três estruturas tornou o filme de Nolan ainda mais experimental.
Quem espera profundos diálogos ou se agarrar a um personagem pode acabar se decepcionando. O épico não é um filme para quem valoriza roteiros – que, aliás, não explica muita coisa – ou uma narrativa contada através de um protagonista. Aqui, Nolan valoriza ao máximo o cinema como contador de histórias por meio de enquadramentos e da sonoplastia, e opta por deixar que as imagens e o som informem o que vem a seguir.
A guerra sob o ponto de vista de Nolan foge dos patrões do gênero com corpos decepados, rastros de sangue e combate corpo a corpo. Os alemães estão presentes só nas falas e no medo evidente nos rostos dos soldados britânicos.
Quem nos aproxima do inimigo é a construção sonora, que mantém o suspense e a tensão ao longo de todo o filme com explosões e silêncios bem construídos. A música, composta brilhantemente por Hans Zimmer, assim como outras qualidades técnicas, coloca Dunkirk como um dos favoritos ao próximo Oscar.
Por fim, o longa se revela não um filme de guerra e sim de sobrevivência e esperança, e consagra Nolan com o êxito de sua proposta imersiva.