Ana Goelzer, desde 2010, é licenciada pelo TED para organizar o TEDxLaçador. Ela atua como speaker coach, orientando as pessoas na elaboração do conteúdo de suas palestras, aulas e textos, tendo treinado mais de 400 pessoas. Como curadora de eventos, já selecionou mais de 200 palestrantes. Formada em Publicidade e Propaganda, é descrita pelos colegas como uma apaixonada pelos trabalhos que realiza, bem como exímia observadora de tendências e comportamentos - na web e na vida. Nessa entrevista, ela conta mais sobre a 16ª edição do TEDxLaçador em Porto Alegre, patrocinado pela Superplayer, que ocorreu no último sábado.

Ana Goelzer - É um dia inteiro de evento, que chamamos, na verdade, de experiência porque as reflexões também são feitas junto com a plateia e os palestrantes. Essa é uma característica do evento, não tem uma área vip. Todos ficam juntos, os palestrantes ficam na plateia o dia todo.

Ana - O guarda-chuva deste ano foram novos olhares. A gente teve desde a Lak Lobato, que falou sobre surdos oralizados. São pessoas surdas que fazem leitura labial e usam a língua portuguesa como forma de comunicação. A Letícia Andrade, que é aqui de Porto Alegre, falou sobre a situação dos moradores de rua e o projeto Banho Solidário, que seria um novo olhar sobre a população de rua. E a Karina Oliveira, que é de um coletivo do Rio de Janeiro e falou sobre racismo.

Ana - Nós e os palestrantes somos todos voluntários e sem fins lucrativos. Os palestrantes passam por uma preparação um pouco rígida, às vezes. Alguns precisam refazer suas apresentações até que se consiga um resultado satisfatório. Porque, para falar nesse tempo (de três a 18 minutos), tem que ter clareza, objetividade, saber defender, em um curto espaço de tempo. Para isso, tem de ter uma preparação. Senão, as pessoas sobem no palco e se perdem.

Ana - Tal qual uma reportagem ou texto jornalístico: precisa ter começo, meio e fim. Por mais óbvio que isso possa parecer, às vezes, não acontece. Tu vens com um primeiro texto, com uma história quase que familiar. E não é isso. Algumas pessoas, por causa do lugar de fala, precisam dizer onde moram e onde nasceram. Para que exista uma representação no palco. Não é um evento só de homens brancos. A line-up é feita levando muitos critérios em consideração. Então, se tem uma gama de palestrantes bastante diversificada.

Ana - Temos representatividade de mulheres, de negros, porque sabemos que muito mais do que cuidar que tenham mulheres na lista de palestrantes, sabemos que a questão racial é muito maior. Embora seja uma minoria em termos de representatividade, sabemos que a população negra é muito maior. Só que eles não são convidados para a maioria dos eventos. Se tu olhares a lista de palestrantes da maioria dos eventos, tu não vês isso. E nós temos isso como pauta. Quando faço a curadoria, peço ajuda para as pessoas que conheçam bem quem está defendendo ideias e não estão só na questão do ativismo. Já tivemos cineastas, escritores, mas que tenha essa representatividade na line-up do evento.

Ana - A curadoria nunca para. Diariamente, estou lendo, vendo documentários, escutando programas, lendo comentários no Facebook, vendo grupos. E sempre tem alguém que se destaca. Eu vou montando. Tenho um banco de futuros palestrantes. Se fores olhar, não tem gente famosa. Raramente tem. Neste ano, teve o Ronaldo Fraga, estilista. Mas não é uma característica da curadoria que eu faço. Geralmente, são pessoas que não estão no mainstream, são pessoas que fazem coisas bacanas, que têm ideias bacanas para compartilhar. E às vezes peço ajuda para essas pessoas, que me indicam outros palestrantes e vou atrás.