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Energia

- Publicada em 29 de Junho de 2017 às 08:27

Geração pelo consumidor vai mudar modelo de distribuição

Instalação de placas solares fotovoltaicas nos telhados residenciais se torna um fenômenos cada vez mais comum em todas as regiões do País

Instalação de placas solares fotovoltaicas nos telhados residenciais se torna um fenômenos cada vez mais comum em todas as regiões do País


MOACYR LOPES JUNIOR/MOACYR LOPES JUNIOR/FOLHAPRESS/DIVULGAÇÃO/JC
O cenário da distribuição de energia no Brasil vem sofrendo uma revolução silenciosa. Uma das faces que provocam as mudanças mais significativas é a produção energética pelo próprio consumidor, que vem crescendo muito rapidamente. Desde que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) modernizou a Resolução nº 482/2012 - que regulamenta o setor - e flexibilizou algumas normas, o número desse tipo de ligação às redes de distribuição cresceu consideravelmente: em dezembro de 2015, eram 1.731 conexões. O número subiu para quase 10,5 mil em maio de 2017.
O cenário da distribuição de energia no Brasil vem sofrendo uma revolução silenciosa. Uma das faces que provocam as mudanças mais significativas é a produção energética pelo próprio consumidor, que vem crescendo muito rapidamente. Desde que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) modernizou a Resolução nº 482/2012 - que regulamenta o setor - e flexibilizou algumas normas, o número desse tipo de ligação às redes de distribuição cresceu consideravelmente: em dezembro de 2015, eram 1.731 conexões. O número subiu para quase 10,5 mil em maio de 2017.
Para o presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia (Abiap), Mário Menel, esse crescimento logo vai se destacar na matriz elétrica; e, por essa razão, é necessário um debate desde agora, para que haja tempo de desenvolver um planejamento para as mudanças que estão por vir. Ele acredita, por exemplo, que o monopólio de comercialização de energia pelas empresas de distribuição deixará de existir. "A evolução tecnológica vai levar para que a gente tenha uma separação. A parte de comercialização fica com uma determinada empresa, ou várias empresas, e a parte de fio, para você não ter dois postes concorrendo, vai continuar com um monopólio."
Para o diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energias, Carlos Alexandre Pires, é necessário associar o estímulo para geração distribuída a mecanismos legais que garantam a manutenção do sistema de distribuição, inclusive para que a complementação da energia gerada pelo consumidor chegue até ele. "Isso está acontecendo em todos os lugares do mundo, onde a energia eólica e a solar estão ganhando importância, porque, ao extremo, você não teria distribuidora de energia."
Menel explica que, em países como Portugal, esse modelo que separa distribuição e comercialização de eletricidade já é uma realidade. "Mesmo que você não queira colocar energia no seu telhado, você escolhe o seu fornecedor de energia. E esse fornecedor, que é uma empresa com expertise em colocar, olha para o seu caso e diz: eu vou botar o painel em cima do teu telhado e você vai comprar energia de mim, mas essa energia é minha", projeta. Para ele, o caminho é inevitável. "São arranjos comerciais que vão surgindo em função do avanço tecnológico, que não tem como você ser contra", afirma.
No Brasil, os grandes consumidores, como redes de hotelaria e indústrias, já escolhem seus fornecedores de eletricidade. O presidente da Abiap explica que, em cerca de cinco anos, esse modelo chegará ao consumidor residencial. Para que a transição entre os modelos ocorra de forma tranquila, ele explica que é necessário haver planejamento desde agora. "Não podemos esquecer que quem lastreou a expansão do sistema como nós conhecemos hoje, em contratos de longo prazo, foram as distribuidoras, o mercado cativo. Agora vão deixar de lastrear, então o sistema financeiro vai ter que entrar no setor elétrico e oferecer produtos que nos deem capacidade para financiar essa expansão."
Atualmente, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) é o único que financia o setor elétrico brasileiro, com linhas de crédito de até 80% para energia fotovoltaica (solar), por exemplo. Devido a projetos de eficiência energética no Ministério de Minas e Energia e na Aneel, desde o ano passado, a geração de energia a partir de fontes não renováveis não está mais entre as opções de financiamento para o setor.
Para o presidente da Abiap, é necessário ir além e atrair outros bancos privados, criando um funding, ou seja, uma captação de recursos para investimento, que poderá ser saudável para a produção de energia. "Naturalmente, isso vai implicar em custos reais. Pode ter um aumento no começo? Pode. Mas a competição acaba diminuindo os custos."

Fontes renováveis e eficiência são metas para o Brasil

Baixo custo e facilidade de estocagem ainda favorecem as hidrelétricas

Baixo custo e facilidade de estocagem ainda favorecem as hidrelétricas


ALEXANDRE MARCHETTI/ALEXANDRE MARCHETTI/ITAIPU BINACIONAL/DIVULGAÇÃO/JC
Em meio a danos ambientais cada vez mais aparentes no mundo, especialistas defendem o uso de energias renováveis para diminuir impactos como a emissão de gases de efeito estufa e o aquecimento global. Um dos meios para isso é a substituição do petróleo como elemento principal da matriz energética global por formas de maior eficiência, como solar e eólica.
Segundo o diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Carlos Alexandre Pires, essa é uma das principais linhas de investimento do governo federal em geração de energia. O Brasil tem pouco mais de 40% de sua energia gerada por fontes renováveis. Em relação à geração de eletricidade, as hidrelétricas são as principais forças, responsáveis por quase 65% da produção.
No entanto a matriz, ainda pouco diversificada, não garante segurança energética, resultando muitas vezes em problemas de abastecimento, como a crise enfrentada pelo Brasil em 2015. O País caminha para disseminação de fontes alternativas de energia, ao contrário de países da Europa, como a Alemanha, onde a necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e o pouco potencial para gerar algumas energias renováveis levaram ao desenvolvimento de uma matriz renovável, como a fotovoltaica (solar) ou a eólica.
Segundo Pires, essas fontes são o futuro da geração de energia no mundo, e o Brasil também caminha para expandi-las. "É aquela velha história de não colocar todos os ovos em uma mesma cesta. Em termos de administração e de operação de uma rede tão complexa, como é a de energia, você precisa ter várias fontes ofertando em diversos momentos do dia e se complementando, quando necessário", afirma.
A lógica da complementariedade seria parecida com a que já funciona atualmente no sistema integrado: nos períodos de seca, em que as hidrelétricas operam com menos capacidade, a geração de eletricidade acaba sendo suplementada pelas termelétricas. A intenção é de que, cada vez mais, as formas de energia renovável ganhem espaço.
Dados do Boletim de Capacidade Instalada de Geração Elétrica - Brasil e Mundo 2016, do Ministério de Minas e Energia, ainda não demonstram esse movimento. Embora 90% do total dos 9,5 GW de potência instalada tenham sido de fontes renováveis, as fontes hidráulica e de biomassa permanecem liderando essa expansão.
Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia (Abiap), Mário Menel, embora o setor tenha um planejamento indicativo, é difícil controlar essa expansão, já que, em um leilão, prevalece a fonte que oferece o menor custo. Ele explica que a matriz elétrica brasileira comporta todas as fontes e tem bastante variedade, mas fatores como o baixo custo e facilidade de estocagem ainda favorecem as hidrelétricas.
"A melhor forma que nós temos de armazenar energia é nos reservatórios das hidrelétricas. Se eu tenho um vento favorável e estou gerando muita energia eólica, eu economizo água, então aumento o volume do reservatório e estoco energia, praticamente dentro do meu reservatório. Enquanto parou o vento, eu libero essa água para produzir energia elétrica", explica Menel.
Esse cenário, no entanto, também vem sofrendo mudanças devido a outros fatores, como a questão ambiental, que limita, cada vez mais, a construção das hidrelétricas; e também a seca severa que algumas regiões vêm sofrendo. "O Nordeste, por exemplo, que sofre com falta de água nos últimos dois, três anos, só não teve um racionamento na região graças à (energia) eólica, que está fornecendo hoje cerca de 30% da necessidade da região."

Pesquisa e desenvolvimento possibilitam elevação dos ganhos na produção do País

Pepitone lembra que País tem R$ 1 bilhão para investimentos na área

Pepitone lembra que País tem R$ 1 bilhão para investimentos na área


ANEEL/ANEEL/DIVULGAÇÃO/JC
O setor de Energia do Brasil deve investir, nos próximos 12 meses, R$ 450 milhões em eficiência energética e R$ 400 milhões em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Os recursos são resultado da Lei 9.991, de 2000, que determina a aplicação de 1% da receita operacional líquida de todas as empresas do setor elétrico nessas áreas.
No setor de distribuição, o valor é de 0,9%, dividido em 0,5% em P&D e 0,4% em eficiência energética. "Não existe, a rigor, como executar eficiência energética em lugar nenhum do mundo sem uma grande soma de investimento", afirma Carlos Alexandre Pires, diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia.
A regulação dá liberdade às empresas para escolherem os temas em que vão investir. Mas, desde 2008, a Resolução Normativa nº 316 da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) permite que o governo ordene os investimentos por meio das chamadas estratégicas. "Quando o tema é muito relevante, a gente acena para o mercado: 'Olha! O investimento nesse tema já está pré-aprovado', ou seja, já é caracterizado como investimento em eficiência energética ou P&D", diz o diretor da Aneel André Pepitone.
Ao longo desses anos, já foram realizadas 21 chamadas estratégicas; a última delas, com o armazenamento de energia como tema. O resultado desses investimentos é um estado de constante transformação do setor, com a entrada de novas fontes de energia ou ainda o desenvolvimento de soluções para demandas. "A gente tem um país que está com dificuldade orçamentária, e você ter disponível praticamente R$ 1 bilhão para investimento nesse segmento (mostra que) tem recurso e tem iniciativa, ou seja, os agentes estão respondendo a contento com esses investimentos", diz Pepitone.
"Eficiência energética significa consumir menos energia para o mesmo nível de produção ou aumentar o nível de produção tendo o mesmo consumo de energia", explica Pires. O governo brasileiro trabalha com esse entendimento desde 1984, quando, motivado pela crise do petróleo, criou o programa de etiquetagem e, em seguida, o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel).
Segundo Pires, para o Ministério de Minas e Energia, a eficiência energética pode ser dividida em dois componentes funbdamentais: um que demanda investimentos para evoluir e outro que pode ser classificado como desperdício e, portanto, não requer nenhum investimento para sua correção. Neste ano, o Comitê Gestor de Eficiência Energética publicou o Plano de Aplicação de Recursos do Procel, que destina mais de R$ 107 milhões para projetos na área de eficiência.

Gás biometano tem avançado como alternativa para o combustível fóssil

Itaipu mostra possibilidade de uso de esgoto, restos orgânicos e grama

Itaipu mostra possibilidade de uso de esgoto, restos orgânicos e grama


ITAIPU/ITAIPU/DIVULGAÇÃO/JC
A emissão de gases de efeito estufa por veículos e atividades como a agropecuária ainda são um desafio para o Brasil, que tem na geração de energia limpa um grande aliado: o biometano. Combustível menos poluente, o biometano é mais econômico do que o etanol e ainda é produzido por dejetos e efluentes, o que garante a destinação adequada a esses resíduos.
O biometano é produzido por meio da decomposição de matéria orgânica, na ausência do oxigênio. No entanto, para atingir a quantidade de metano necessária para uso como combustível veicular, o material passa por um processo de purificação.
Em 2015, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) regulamentou o biometano, reconhecendo o gás como combustível similar ao Gás Natural Veicular (GNV), com a vantagem de não ser de origem fóssil e, portanto, não poluente.
Segundo o assessor de Energias Renováveis da Itaipu Binacional, Paulo Afonso Schimidt, mais do que uma tendência, o biometano é uma necessidade. "Há um estudo que demonstra que, se a gente considerar todo o potencial de produção de biogás do País, é algo superior ao volume de produção de Itaipu, então isso demonstra que há um potencial enorme a ser explorado."
Em 2014, a empresa integrou à sua frota o uso de veículos movidos por biometano e instalou em suas dependências um posto para abastecimento. Posteriormente, a frota cresceu e, recentemente, a maior produtora de energia hidrelétrica do mundo inaugurou a primeira planta de biometano que usa como matéria-prima a mistura de esgoto, poda de grama e alimentos descartados por restaurantes.
A tecnologia totalmente desenvolvida em Foz do Iguaçu pela Itaipu Binacional é pioneira. Até então, o biometano do Brasil era produzido unicamente por dejeto de animais. Os resíduos resultantes do processo de produção serão transformados ainda em biofertilizantes.
"Retiramos os resíduos que seriam potenciais poluentes da natureza, transformamos em energia sustentável, renovável e devolvemos os nutrientes ao planeta. Então, com isso, nós, na verdade, imitamos a natureza com um processo que é absolutamente natural", afirma Schimidt.
A unidade de demostração de Itaipu tem capacidade de produzir até 4 mil m3 de biometano por mês e já abastece 70 veículos, mas pode garantir combustíuvel para até 300 carros por mês. De acordo com os pesquisadores do Centro Internacional de Energias Renováveis-Biogás (CIBiogás), o gasto por quilômetro rodado de combustível biometano é de R$ 0,26, enquanto o do etanol tem custo de R$ 0,36.