As preocupações levantadas quanto à segurança do centro de triagem de presos provisórios, inaugurado pelo governo gaúcho há menos de um mês em Porto Alegre, tiveram uma primeira confirmação na quinta-feira. Dois detentos escaparam pelo teto da estrutura, após entortarem as grades de uma das celas. A fuga de Mateus Carvalho Brochado, 23 anos, e Richard Lopes Severo, 21, foi confirmada pela Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe). Até o fechamento da edição, o Comando de Policiamento da Capital (CPC) não havia recapturado os fugitivos.
De acordo com apuração preliminar da Susepe, o cenário mais provável é que, após escaparem da cela, os presos tenham pulado um dos muros, sem serem notados pelos agentes. Uma sindicância será aberta para determinar as responsabilidades pela fuga. A previsão original era de que 30 agentes penitenciários atuariam no centro, mas a Susepe não informou quantos estavam de fato no local quando os detentos escaparam.
A estrutura, erguida em uma parceria da Secretaria de Segurança Pública (SSP) com o Exército, é uma tentativa de desafogar as delegacias, que acabaram superlotadas devido à demanda de presos provisórios, maior do que o ritmo de abertura de vagas nos presídios. A capacidade total do centro de triagem, erguido em terreno contíguo ao Instituto Psiquiátrico Forense (IPF), é para 84 presos, mas apenas 22 estavam nas duas celas do espaço no momento da fuga, segundo a Susepe. O investimento na obra foi de cerca de R$ 270 mil.
O secretário de Segurança, Cezar Schirmer, já havia admitido que as precariedades na segurança tinham contribuído para a decisão de manter o centro de triagem funcionando abaixo da lotação. Durante a inauguração, era possível constatar os muros baixos, alguns sem arame farpado, e a ausência de guaritas e outros espaços de vigia. "Nós avisamos que não tinha condição", lamenta o presidente do Sindicato dos Servidores Penitenciários do Rio Grande do Sul (Amapergs), Flávio Berneira.
No primeiro dia de atividades do centro de triagem, o secretário Cezar Schirmer afirmou ao Jornal do Comércio não acreditar em fugas, resgate de presos ou guerra de facções dentro da estrutura. "Aqui não é uma prisão, é um espaço de transição. Estamos tendo todos os cuidados, faremos a separação das facções", assegurou. Há o plano de erguer, no mesmo terreno, uma segunda estrutura para presos temporários, capaz de conter mais 90 pessoas.
Contatada pelo JC, a SSP afirmou que não se pronunciaria sobre a fuga. O secretário Cezar Schirmer encontrava-se, na tarde de quinta-feira, em agenda com o governador José Ivo Sartori, em preparação para a visita do ministro da Justiça, Osmar Serraglio, e não atendeu à reportagem. Na sexta-feira, estava prevista a entrega de novas viaturas para reforçar o policiamento no Estado, com a presença de Serraglio na cerimônia.