O brasileiro comum não consegue entender por que a crise econômica é tão grande. Estamos longe de uma crise externa, aquela que conhecemos nos anos 1980 e 1990, quando o País não tinha dólares para pagar sua dívida e foi obrigado a recorrer, de pires na mão, ao FMI (Fundo Mentário Internacional). Hoje temos US$ 370 bilhões em reservas, suficientes para pagar à vista toda a dívida externa se isso for necessário.
As cotações das commodities agrícolas e industriais exportadas pelo Brasil, como soja, milho e minérios, estão em alta, e a balança comercial apresenta um superavit anual próximo a US$ 50 bilhões.
A inflação, um velho calvário brasileiro, está comportada há muito tempo e ameaça cair abaixo de 4% em 12 meses. A agricultura vai colher a maior safra da história, de 222 milhões de toneladas de grãos, o que ajuda a controlar a alta dos preços internos.
As ações das empresas listadas na bolsa subiram bastante, e o índice Bovespa atingiu o nível mais alto em cinco anos. Empresas abertas recuperaram boa parte de seu valor de mercado.
O cidadão comum olha para tudo isso e pensa: ué, mas por que, então, continuamos em uma recessão tão severa e com um nível de pessimismo tão elevado? Em fevereiro, foram criados 35 mil empregos formais, mas o número de desempregados ainda está em torno de 13 milhões.
Sim, os números sobre o desempenho geral da economia são trágicos. No ano passado, o PIB teve uma queda de 3,6%. Em apenas dois anos, a produção geral caiu 7,2%, e a renda per capita, 9%.
Esse infortúnio se deve a erros cometidos por administrações anteriores, embora não se possa ignorar o efeito da crise externa. Parte dos erros, alguns graves, foi corrigida, mas isso é o passado.
O País deve olhar para a frente, para buscar novos rumos. E isso só é possível se forem reconhecidos também erros do presente, que estão sendo cometidos agora e que retardam a recuperação.
Por que, afinal, o País está demorando tanto a retomar o crescimento? Porque não existe mentalidade favorável a isso. Entende-se que a expansão econômica virá automaticamente após os ajustes internos e o controle da inflação. Mas não é bem assim. Os ajustes são necessários, mas as políticas de desenvolvimento também, para que os primeiros sinais de recuperação que estamos vendo hoje virem crescimento continuado.
O Brasil manteve nos últimos anos a maior taxa de juros do mundo sem que houvesse nenhuma preocupação com a devastação que essa política estava promovendo. Feita a devastação e reduzida a inflação, ainda mantemos hoje a taxa nominal de 12,25% ao ano. Que barbeiragem!
Claro que uma taxa de juros dessa magnitude acaba com os investimentos produtivos. Se isso não bastasse, o câmbio está desfavorável à exportação de manufaturas e as portas de financiamento para investimentos continuam travadas. Bancos privados e públicos, mesmo os voltados para o desenvolvimento, estão sentados em recursos que beiram o trilhão, aplicados em títulos públicos.
Por mais que se olhe com otimismo para aquelas informações positivas do início do artigo, não é possível pensar em volta de crescimento sustentado se não houver uma nova mentalidade: a desenvolvimentista, gostem ou não dessa palavra os neoliberais.
Diretor-presidente da CSN e presidente do conselho de administração da empresa.