Apesar do avanço do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) de dezembro para janeiro (0,54% para 0,64%), o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) André Braz considerou que o aumento na margem foi menor do que o previsto. Além disso, Braz afirmou que as pressões devem diminuir tanto no atacado quanto no varejo em fevereiro, permitindo uma desaceleração no índice no próximo mês.
Essa previsão é baseada na expectativa de que o minério de ferro continue desacelerando mais, embora ainda esteja em patamar alto (17,53% para 13,08% em janeiro), aliviando os produtos industriais no atacado, que se elevaram de 1,52% para 1,73% na leitura deste mês. Outra contribuição baixista para o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) deve vir dos combustíveis, uma das principais influências de alta em janeiro, uma vez que a Petrobras anunciou recuo nos preços da gasolina e do diesel nas refinarias na semana passada.
"Para fevereiro, está garantido que o diesel, que tem peso grande no IPA (2,7%), vai reverter seu papel e contribuir para o alívio na inflação", disse.
Além disso, as pressões sazonais no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) estão muito brandas neste ano, segundo Braz, o que contribuiu para segurar o IGP-M em janeiro e deve dar mais alívio em fevereiro.
Por exemplo, o economista citou a ausência de reajustes de ônibus urbano nas cidades de Rio de Janeiro e São Paulo, que têm maior peso no índice, além de uma inflação mais comportada do grupo Alimentação (0,70%, de 0,21%) do que é normalmente observado no período.
Por outro lado, os reajustes escolares impediram que o IGP-M de janeiro apresentasse resultado ainda mais tímido, assim como a elevação de combustíveis no IPA.
Para fevereiro, o impacto dos aumentos dos cursos educacionais vai ser bem menor, pois só vai restar 1/3 dos aumentos, conforme Braz. Além disso, o ritmo de elevação dos preços dos alimentos também deve ser menor, porque o pico da sazonalidade desfavorável por conta do clima acontece em janeiro.
Outro alívio esperado para o IPC do próximo mês é em Habitação, que foi o maior destaque de alta da inflação doméstica neste mês. Braz explicou que a redução das quedas em energia elétrica foi provocada pelo fim do efeito da mudança para bandeira verde em dezembro, o que não deve mais trazer impacto em fevereiro.
A gasolina nas bombas, no entanto, deve seguir em alta, em parte porque a queda no preço na refinaria não deve chegar aos postos e também porque o etanol deve continuar pressionado pelo deslocamento da produção de cana para o açúcar.
Itens de destaque entre as maiores pressões inflacionárias no ano passado, os alimentos devem ter trajetória relevante de desaceleração neste ano e ter grande participação na condução da inflação para o centro da meta de 4,5%, avaliou André Braz.
Segundo Braz, as promessas de clima favorável este ano e, por consequência, de boas safras deve permitir que os preços dos alimentos sigam comportados. O IGP-M deste mês já mostrou isso: a pressão sazonal no grupo foi bem tímida para o período (0,70%, de 0,21%). O economista só pondera que os alimentos são bem voláteis e podem mudar o comportamento ao longo do ano.
Os preços livres também devem contribuir para convergência para meta neste ano devido aos reflexos da recessão, explicou Braz. Por outro lado, os preços monitorados devem ser grande fonte de pressão, principalmente por conta dos reajustes nas contas de luz e da expectativa de aumentos na gasolina em consequência da esperada desvalorização cambial.
Os aumentos nas tarifas de energia elétrica, segundo Braz, podem chegar a 9% devido a uma dívida de R$ 65 bilhões que a União tem com as empresas transmissoras e que deve ser repassada para a conta do consumidor, conforme antecipado em reportagem do Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado. Já a gasolina deve ter um reajuste, em seus cálculos, de 3% a 4% este ano por pressão do câmbio, que agora está no patamar de R$ 3,15 e, conforme previsões, deve terminar o ano em R$ 3,40.
Mas Braz avaliou que o alívio esperado no grupo Alimentação deve ser suficiente para compensar a alta esperada nos administrados, permitindo a convergência da inflação para 4,5%. "Minha projeção atual é só um pouco acima, de 4,7%", completou.
A continuidade do processo desinflacionário abre espaço, segundo o economista, para o Banco Central promover mais um corte de 0,75% na Selic no Copom de fevereiro e pode permitir que a taxa básica de juros termine o ano em um dígito.