Mauro Soares foi o grande intérprete de Pai de Deus, peça de Valter Sobreiro Junior que revisitou a memória da ditadura. Também tivemos a oportunidade de conhecer uma versão reduzida de Gota d'água, de Chico Buarque e Paulo Pontes, bonito espetáculo mas parcialmente equivocado em seu final, além de outro trabalho de fora do Estado - Três dias de chuva que, embora assinado por Jô Soares a partir de um texto do dramaturgo norte-americano Richard Greenberg, não chegou a convencer. Foi mais interessante, sem dúvida, a produção local A mecânica do amor, texto e direção de Julio Conte, que mostrou um dramaturgo em plena criatividade.
Em agosto, o grande impacto foi provocado por outra produção local, Perto do fim, dirigida por Bob Bahlis, para a interpretação de Gisela Sparremberger, sobre o suicídio da poeta norte-americana Sylvia Plath. O ambiente inusitado transformou o espetáculo em uma espécie de ritual de despedida, permitindo à atriz um excelente momento em sua performance.
Sucederam-se, de fora, Histeria, novo trabalho assinado por Jô Soares, além de um emocionante Rainhas do Orinoco, do dramaturgo mexicano Emilio Carballido, com direção de Gabriel Villela, de certo modo, antecipando as atrações do Porto Alegre em Cena que se desenrolou ao longo do mês de setembro.
A destacar, entre outros, De algún tiempo a esta parte, monólogo de Max Aub, para a extraordinária interpretação de Gabriela Iribarren, sob direção de Mariana Weinstein. Não obstante, outros espetáculos iniciaram temporadas ou visitaram a cidade, como Enfim, nós, de Bruno Mazzeo; Movimentos sobre rodas paradas, que retornaria numa segunda temporada em novembro; uma comemoração ao aniversário de falecimento de Caio Fernando Abreu, com O homem e a mancha; e a abertura de um novo espaço na cidade, o do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, com o texto de Julio Zanotta Ulisses no país das maravilhas, dirigido por ele mesmo.
Em outubro, além do Festival de Teatro de Bonecos de Canela, pouca coisa nova aconteceu em nossos palcos. Mas se alguém imaginou que o ano terminara, enganou-se. Novembro entrou revitalizado com a estreia de O método Arbeuq, direção de Jessé de Oliveira a partir de dramaturgia de Viviane Juguero, crítica inteligente ao mecanismo despersonalizador do sistema capitalista. O espetáculo destacou-se na temporada, inclusive pelas atrizes Carol Martins e Juliana Barros e os atores Álvaro RosaCosta, Elison Couto e Renato Santa Catharina.
Uma nova versão de Hotel Rosa Flor, agora transformado em Hotel Rosa Schock, devolveu-nos uma dramaturga e diretora revitalizada, Patsy Cecatto, trazendo-nos a emocionante interpretação de João Carlos Castanha e os excelentes figurinos de Kika Freitas. A temporada de Mithos, do grupo Falos & Stercus, acabou cancelada por causa de alguns quiproquós surgidos junto à Secretaria de Estado da Saúde, responsável pelo Hospital São Pedro, onde o espetáculo iria ocorrer, e que não ficou muito bem explicado.
Enfim, conhecemos God, trabalho relativamente frustrante de Miguel Falabella, além de Como ter sexo a vida toda com a mesma pessoa, com Tania Bodezan, ambos os espetáculos vindos de fora do Estado. A temporada parece ter-se encerrado, soberbamente, com a estreia de Ramal 340, de Jezebel de Carli, numa criação conjunta do Coletivo Errática, que também se coloca entre os melhores trabalhos desta temporada, destacando-se, ainda, a cenografia de Rodrigo Shalako e a iluminação de Lucca Simas, além do já mencionado Movimentos sobre rodas paradas, que colocou em destaque o diretor Carlos Ramiro Fensterseifer, os atores Nelson Diniz e Álvaro RosaCosta (mais uma vez) e a atriz Liane Venturella.
O ano parecia terminar, mas a Secretaria Municipal de Cultura anunciou, na primeira semana de dezembro, ainda três novos espetáculos: Tabataba, no projeto Novas caras, além de Os cegos e Romances impossíveis. Ou seja, atrações é que não faltaram neste semestre (e neste ano).