Apesar da unificação da mobilização, o primeiro dos dois dias de greve nos hospitais foi de baixa adesão dos trabalhadores. Nos principais estabelecimentos de Porto Alegre, como os hospitais Mãe de Deus, Moinhos de Vento, Clínicas e São Lucas, os atendimentos ocorreram normalmente. A exceção foi o Grupo Hospitalar Conceição (GHC), que desmarcou todas as consultas agendadas tanto para ontem, quanto para hoje.
O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) calcula que os estabelecimentos paralisados somam 60% dos leitos totais de internação e 66% das vagas do Sistema Único de Saúde (SUS) da Capital. Na Região Metropolitana, a fatia é de 40%. No total, 12 hospitais aderiram à paralisação: o GHC (Cristo Redentor, Fêmina, Conceição/Criança Conceição) e UPA Zona Norte), Clínicas, Moinhos de Vento, Mãe de Deus, São Lucas, Ernesto Dornelles, Parque Belém, Porto Alegre e Vila Nova.
Segundo o GHC, os atendimentos de urgência e emergência funcionaram como usual. Nos ambulatórios dos hospitais Cristo Redentor e Conceição, as consultas programadas foram reagendadas previamente para depois dos dois dias de paralisação. Os pacientes com os quais o estabelecimento não conseguiu contato foram informados na porta sobre o adiamento. As cirurgias de urgência também estavam sendo feitas, assim como as de proctologia, mastologia, urologia, gerais, vasculares e cardíacas. Os piquetes foram realizados o dia inteiro em frente às instituições de saúde. Os trabalhadores se revezavam para participar das manifestações e realizar os atendimentos.
O mesmo aconteceu com Ronaldo Ferreira da Silva, de 72 anos. "Vim fazer uma consulta e foi tranquilo. Demorou uma hora e meia mais ou menos, o que está dentro do normal", relata. O aposentado e sua esposa, Vaida Maria Silva, de 67 anos, souberam da paralisação através de anúncio na televisão, mas resolveram ir à consulta mesmo assim. "Sempre que há alguma alteração, eles ligam para nos avisar em reagendar. Como isso não aconteceu, viemos", explica Vaida. O único transtorno sentido pelo casal foi que, devido à movimentação gerada pelo piquete, a trajeto para acessar o Clínicas foi maior, uma vez que Ronaldo usa cadeira de rodas e só consegue entrar no prédio por acessos específicos.
A emergência do HCPA está funcionando com atendimento restrito, o que não tem a ver com a greve. A restrição se deve à limpeza do ar condicionado central, desde o dia 2 de novembro. Somente casos encaminhados pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e situações com risco de morte estão sendo acolhidas. De 12 a 24 de novembro, o serviço ficará totalmente fechado.
Assembleia amanhã avaliará paralisação por tempo indefinido
Conforme o vice-presidente do Sindicato dos Profissionais de Enfermagem, Técnicos, Duchistas, Massagistas e Empregados em Casas de Saúde do Rio Grande do Sul (SindiSaúde-RS), Júlio Appel, a greve se dá em virtude da falta de avanços na negociação junto ao Sindicato de Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (Sindihospa). "Na terça-feira, fizemos uma audiência de conciliação e, seis horas de reunião depois, a única proposta era a anterior, de 4,95% de reajuste, o que repõe apenas metade da inflação deste ano. No último momento, eles nos ofereceram 6%. É muito abaixo ainda, então não aceitamos", relata. A categoria reivindica 15% de aumento. Amanhã, às 7h, os trabalhadores de hospitais têm nova assembleia geral, na qual definirão se manterão a greve por tempo indeterminado ou não.
O SindiSaúde-RS aponta adesão de 600 trabalhadores do GHC, a maioria do bloco cirúrgico, e de 700 profissionais do Clínicas, representando 50% dos serviços. No Cristo Redentor, foi feito um revezamento, sempre com cerca de 30 pessoas participando dos piquetes. A Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Zona Norte, de acordo com o sindicato, aderiu totalmente à paralisação, não realizando nenhum atendimento que não fosse de emergência.
Appel revela que a própria categoria decidiu manter o atendimento acima do previsto em lei, de pelo menos 30%. "Onde tem dez funcionários, quatro cruzam os braços e seis ficam trabalhando, e depois eles trocam. Será assim enquanto a administração dos hospitais não radicalizar nas cobranças. Se houver corte de ponto, a adesão será de 70%", garante.