Lidamos com uma nova realidade: o desemprego aumenta, e a recuperação da economia está sendo muito mais demorada do que se esperava quando, com a reviravolta política, os índices de confiança começaram a melhorar.
Alguns percalços mostram que, a despeito da melhora das expectativas gerais, a economia real não avança. O principal deles se deu na produção industrial, que teve em agosto uma queda surpreendentemente forte, de 3,8%, mudando as projeções para o segundo e o terceiro trimestres, antes positivas em razão do crescimento verificado nos cinco meses anteriores.
Aos poucos, vai se revelando a óbvia realidade de que a economia precisa de estímulos para crescer. Na Europa desenvolvida, que enfrentou a crise de 2008 com ferozes programas de austeridade, um número crescente de autoridades já defende abertamente a volta dos gastos públicos.
No Reino Unido "pós-brexit", agora sob a liderança de Theresa May, há um novo discurso sobre a necessidade de investimentos governamentais em infraestrutura. Em vários outros países, com o aplauso e o apoio do Fundo Monetário Internacional, as autoridades voltam a adotar a ideia de que é preciso gastar para estimular a economia.
Durante os anos que se sucederam à debacle de 2008, e mesmo antes dessa crise, os governos adotaram políticas fiscais extremamente austeras impostas pela ortodoxia da União Europeia e deixaram para os bancos centrais a tarefa de, por meio da redução de juros, estimular o consumo. Em menos de uma década, consolidam-se evidências de que esse estímulo, sozinho, não funcionou. Mesmo com taxas de juros negativas em alguns países, as famílias não estão suficientemente seguras para se entregar ao consumo.
É nesse contexto que autoridades públicas defendem a volta dos gastos governamentais com investimentos, principalmente em infraestrutura.
E no Brasil? Somos diferentes? A aprovação da PEC 241 na Câmara, na semana passada, teve um importante significado, ao impor um teto para os gastos públicos, com o objetivo de impedir deterioração da relação dívida/PIB: aplausos. Mas, como mostrou a experiência na Europa, a austeridade fiscal não leva automaticamente ao crescimento. Lá, mesmo com todo o apoio da política monetária, ainda se espera por firme expansão econômica e criação de empregos.
Aqui, estamos em um momento difícil. Constatamos que não bastam expectativas favoráveis para reativar a demanda e os investimentos.
A indústria brasileira precisa de modernização tecnológica, e não há nem sombra de projeto nessa área. As taxas de juros precisam ser rapidamente reduzidas para diminuir o custo dos financiamentos, mas esse processo é moroso e medroso. O endividamento de empresas e famílias precisa ser repactuado. Mesmo com o teto de gastos, que obviamente deveria impor maior contenção às despesas correntes, os investimentos em infraestrutura precisam ser retomados no setor público e induzidos no privado. O real se valoriza e ameaça o bom ritmo das exportações.
Nesse cenário, tudo o que se vê são esforços políticos para a aprovação da PEC dos Gastos e discursos a favor das reformas tributária, trabalhista e previdenciária. São iniciativas positivas e necessárias, mas não suficientes. A economia precisa de estímulos urgentes, e talvez possamos buscar algumas ideias na Europa e no próprio FMI. Quem diria!
Diretor-presidente da CSN e presidente do conselho de administração da empresa.