Só um candidato a vereador aparecia na urna eletrônica, mas o voto dado ao número 19.111 em Alto Paraíso de Goiás, no interior do estado, "elegeu" cinco pessoas.
O grupo encabeçado pelo advogado João Yuji, 31 anos, nome de cédula, promete um "mandato coletivo" na Câmara. São cinco pessoas, com idades entre 28 e 45 anos, que querem transformar a democracia representativa em "participativa".
Ao contrário de outras experiências de mandato coletivo no Brasil, em que um vereador é orientado por um conselho consultivo, todos os cinco, que têm formações distintas, prometem comparecer às sessões, colocar o voto em debate e tomar decisões coletivamente.
Além disso, querem abrir mão do salário de R$ 5 mil em prol da comunidade, investindo em mutirões de limpeza, insumos para hospitais, internet pública, entre outros projetos. O grupo nega assistencialismo e diz querer investir "sempre em algo comum", se possível, gerido pela própria população.
"Somos cinco, mas queremos ser 50", diz Ivan Anjo Diniz, 45 anos, um dos "eleitos", que é poeta, músico e dono de uma pousada na cidade.
O grupo recebeu 148 votos, entre 4.463 eleitores. Foi o suficiente para se eleger à última das nove vagas na Câmara Municipal.
A campanha foi feita com o nome "Mandato Coletivo" - embora, oficialmente, o candidato registrado na Justiça Eleitoral fosse Yuji, que já havia disputado as últimas eleições para vereador (quando fez 16 votos).
O advogado é filiado ao PTN (Partido Trabalhista Nacional). O partido topou a ideia do coletivo, mas nem todos os eleitos admitem ter afinidade ideológica com a sigla. "Foi uma burocracia necessária", comenta Yuji.
Alto Paraíso de Goiás, ponto de partida para a visitação à Chapada dos Veadeiros, tem pouco mais de 7 mil habitantes, mas uma "população diferenciada", segundo Diniz, o que ajudou a eleger o coletivo. O local recebe turistas do mundo inteiro e abriga um grupo de "alternativos", que se fixam na cidade e se misturam aos "nativos".
Os cinco integrantes do mandato coletivo são de fora - a maioria, de São Paulo. Segundo eles, a candidatura teve boa repercussão entre os dois grupos. Para Diniz, o "descontentamento geral" com a política ajuda a eleger uma novidade.