Luiza Fritzen
Quais são os traços que se perpetuam de uma geração para a outra? Na tentativa de responder à questão, a fotógrafa brasileira Fifi Tong fez retratos de diversas famílias ao redor do Brasil para mostrar a influência da carga genética na construção social brasileira. As fotos compõem o livro Origem - Retratos de famílias no Brasil (Auana Editora, 134 páginas, R$ 80,00) e podem ser conferidas na exposição de mesmo nome que inaugura nesta quinta-feira, às 18h30min, no Margs (Praça da Alfândega, s/nº).
Com curadoria de Diógenes Moura, o trabalho é resultado de 15 anos de pesquisa e reúne 31 retratos de famílias de diferentes histórias, etnias, níveis sociais e religiões. A ideia surgiu ao acaso, quando Fifi decidiu fazer um retrato reunindo as quatro gerações de sua família posando com vestidos chineses encontrados nos pertences de sua avó. "Quando revelei a imagem, percebi que o projeto tinha um potencial - foi aí que comecei a fazer a pesquisa com conhecidos buscando famílias e suas gerações."
A proposta inicial era fotografar apenas mulheres, mas o foco foi ampliado a cada viagem que a fotógrafa realizava e cidade que conhecia. "Ao longo do projeto, comecei a detectar as misturas das famílias brasileiras e reparei que a maioria carregava traços no tempo." Queixos demarcados, covinhas, olhares, posturas, trejeitos, bocas e expressões foram alvo das lentes de Fifi, que incorpora a força do DNA em seus registros.
Além de traços no tempo e de histórias familiares, Fifi se deparou com legados humanos como a ética, a solidariedade e a generosidade. A herança de comportamento e de visões de mundo muitas vezes vinham à tona nas fotos ou nas conversas sobre as origens e os percursos dos fotografados.
Para a fotógrafa, somos seres de repetição e reinventamos o outro que veio antes de nós dando continuidade às suas características. A exposição, assim como o livro, traz uma legenda explicativa sobre as fotos, a origem e a história das famílias fotografadas. "A literatura agrega à foto, o que eu acho muito importante para contar o legado dessas pessoas", explica.
Através de 50 retratos que trazem filhos e netos de africanos, europeus e asiáticos, o livro tem como objetivo propor a discussão do valor da família e mostrar a diversidade que compõe a população brasileira. Em suas fotos, Fifi registra a influência da imigração no fenótipo da população do País e a cultura favorável à miscigenação. "O Brasil é uma mistura de raças. Quando você fotografa e reflete sobre a imagem, isso se destaca e mostra que o País é um caldeirão de raças e etnias", afirma.
Em uma época de fotografias digitais, em que pouco se revelam fotos, o trabalho da fotógrafa relembra a prática realizada antigamente, quando famílias se reuniam em estúdios para celebrar e registrar datas importantes. Os retratos foram feitos de forma analógica, em preto e branco - todo o processo de revelação também ocorreu pelas mãos da fotógrafa.
Atrás das lentes, Fifi explica como se dava a relação com os fotografados: "o que senti é que todas as famílias querem e gostam de estar juntas e, ao fotografar, você consegue perceber como é a dinâmica da relação entre elas, se são amorosas ou não, próximas ou não". Fifi Tong destaca, ainda, o valor que a própria família tem em sua trajetória. "Família é a única coisa que podemos contar para qualquer problema e é o que vai sobrar para gente no fim."
Nascida em Passo Fundo, Fifi Tong começou a fotografar aos 17 anos. De origem chinesa, seus pais vieram de Xangai. A fotógrafa mora em São Paulo desde 1992 e é conhecida no meio publicitário como uma das grandes retratistas brasileiras. A exposição segue aberta para visitações com entrada franca, de terça-feira a domingo, das 10h às 19h, até 6 de novembro.