O presidente argentino, Mauricio Macri, afirmou que vê em Michel Temer a continuidade da coligação que venceu a eleição no Brasil em 2014. "Convenhamos que quem está governando é o vice-presidente (da coligação) do PT, que ganhou a eleição passada", observou o presidente. "Independentemente de quem tenha convocado para o gabinete, é uma continuidade. Não importa o que ocorreu na coalizão governante", opinou Macri, que receberá Temer na próxima segunda-feira (3), na Casa Rosada.
Na residência oficial de Olivos, o argentina disse nessa quarta-feira (28) a jornalistas brasileiros que não tem dúvida da legalidade da queda da ex-presidente Dilma Rousseff. Também descartou que sua posição tenha qualquer afinidade ideológica com o atual governo brasileiro. Macri lembrou que Dilma recebeu seu adversário na eleição, o kirchnerista Daniel Scioli, e sua primeira viagem, depois de eleito, foi para visitar a então ainda presidente.
"Brasil e Argentina estão acima da política conjuntural. Posso trabalhar com quem o Brasil decidir que governa. Mas, se me perguntarem, qual é a figura mais relevante, a que me desperta mais respeito na política brasileira nos últimos 20 anos, claramente é Fernando Henrique Cardoso", acrescentou. FHC visitou Macri na semana passada. O argentino reconheceu o governo de Temer sete minutos após a posse.
O chefe do governo vizinho reforçou que discorda da alegação de que houve um golpe no Brasil. "A Justiça é um poder independente, foram feitas investigações, iniciou-se um impeachment, o Congresso votou. Acho que as instituições funcionaram. Internamente, pode haver diferentes opiniões ou dirigentes na América Latina que pensem diferente. Institucionalmente, o País seguiu todos os passos que correspondem. É um processo institucional que vai potencializar todas as qualidades do Brasil", disse.
Há quase dez meses no cargo, Macri leva adiante um ajuste com pontos em comum aos que Temer pretende implementar. "Não sei se me cabe dar conselhos. (Sugiro) ao presidente afastar-se de discursos, medidas, ações demagógicas, populistas que só trazem mais pobreza para o futuro." A possibilidade de protestos contra o presidente brasileiro nas cerca de cinco horas que estará em Buenos Aires não preocupa o anfitrião. "Na Argentina, todo mundo tem a possibilidade de se expressar. Estimulamos que seja em ordem."