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entrevista especial

- Publicada em 25 de Setembro de 2016 às 22:20

Servidores devem ser secretários adjuntos, defende Chiodo

'No último dia de registro da candidatura, mudaram o jogo e eu fui o último a saber', diz Chiodo

'No último dia de registro da candidatura, mudaram o jogo e eu fui o último a saber', diz Chiodo


fotos: MARCO QUINTANA/JC
Em meio a uma campanha conturbada, Marcello Chiodo, candidato do PV à prefeitura de Porto Alegre, aposta no próprio histórico profissional para mostrar potencial para o cargo. A partir da atuação como secretário adjunto do Trabalho e Emprego de Porto Alegre, em 2013, Chiodo passou a defender que o cargo seja ocupado por servidores de carreira. "Eles estão a par de todos os serviços e obras. Quando entra um político que quer começar tudo do zero, atrapalha um pouco o planejamento. Um funcionário de carreira como adjunto vai servir para criar a memória da secretaria", acredita.
Em meio a uma campanha conturbada, Marcello Chiodo, candidato do PV à prefeitura de Porto Alegre, aposta no próprio histórico profissional para mostrar potencial para o cargo. A partir da atuação como secretário adjunto do Trabalho e Emprego de Porto Alegre, em 2013, Chiodo passou a defender que o cargo seja ocupado por servidores de carreira. "Eles estão a par de todos os serviços e obras. Quando entra um político que quer começar tudo do zero, atrapalha um pouco o planejamento. Um funcionário de carreira como adjunto vai servir para criar a memória da secretaria", acredita.
Chiodo quase ficou de fora da disputa, devido a um entrave com os diretórios municipal e estadual do seu partido, que, mesmo depois da sua aprovação como candidato em convenção, decidiram apoiar a chapa de Nelson Marchezan Júnior (PSDB).
Contrariado com a decisão, que considerou unilateral, Chiodo conseguiu na Justiça uma liminar que garante sua permanência no pleito. "Havia pessoas de outros partidos da coligação ligando para me dar parabéns antes de eu ficar sabendo", conta.
Passados alguns dias do início da disputa, outro entrave: o indeferimento da chapa por inelegibilidade do candidato a vice. Chiodo e alguns membros da executiva municipal decidiram colocar um novo nome para a disputa no cargo. O partido contestou, mas a Justiça Eleitoral reverteu a decisão e deferiu a nova composição.
"A população precisa de lideranças novas", afirma, ao defender sua candidatura como mudança ao atual modelo de política. Mesmo se apresentando como novidade, Chiodo exalta como pontos positivos para conquistar votos sua atuação no Sindicato dos Salões de Beleza e Estética (Sinca) - o candidato possui um salão no Centro da Capital -, na Secretaria Municipal do Trabalho e Emprego e uma passagem pela Câmara de Vereadores.
Jornal do Comércio - O que o diferencia dos demais candidatos?
Marcello Chiodo - Eu sou novo, não sou um político profissional, minha profissão é outra. A parte da política é missão, não profissão. Tenho ideias novas, sou uma pessoa com transparência, com ética, o que está faltando na política. Na minha carreira sempre cuidei disso. Esse é o diferencial que a população está procurando.
JC - Que experiências tem e como pode trazê-las para uma futura gestão?
Chiodo - Eu fui vereador suplente e assumi o mandato por dois anos. Apresentei um projeto para retirar carros abandonados das ruas e desde então (a lei entrou em vigor em 2012), foram retirados mais de 1.800 carros. Apresentei também o "Zeladoria na Praça", projeto que está em fase de regulamentação na Smam (Secretaria Municipal do Meio Ambiente). O zelador é uma pessoa que irá fazer a manutenção, o cuidado e a fiscalização da praça. Pode ser voluntário ou pago pela associação do bairro. Na secretaria (Municipal do Trabalho e Emprego) fiquei quatro anos e, nesse período, formamos mais de 40 mil pessoas em cursos de qualificação. Conseguimos que as pessoas procurassem abrir o seu próprio comércio. A gente junta os bancos com o microcrédito, o Sebrae na parte de gestão, a secretaria, dando os cursos e também o acompanhamento para abrir o negócio junto com a Smic (Secretaria Municipal de Indústria e Comércio), emitir o alvará, a licença para trabalhar. Isso tudo foi um trabalho em conjunto que deu muito certo. A gente cria cooperativas com essas pessoas que estão fazendo curso e eles conseguem abrir o seu negócio.
JC - Esse formato de negócio prosperou na Capital?
Chiodo - Quando estávamos fazendo os cursos nas comunidades, víamos as pessoas abrindo negócio desse jeito (cooperativas), só que sozinhas. Então pensei que, entrando na secretaria, eu poderia dar o suporte para a pessoa. O nome era Escola de Negócios e funcionou muito bem. Na parte de experiência, pensamos em um aplicativo para todas as secretarias. Hoje toda secretaria tem uma parte que fiscaliza os serviços, mas quem fiscaliza o seu trabalho é a própria secretaria, é o gestor. Quando fui secretário (adjunto), vi que existem cargos comissionados (CCs) em que não se pode mexer, são apadrinhados de alguém. O que a gente quer? Que a fiscalização seja do cidadão, que ele pegue o aplicativo e vá ver um serviço que foi feito. Se foi mal feito, ele vai denunciar e vai dar nota, avaliar o gestor. Com isso, a gente vai acompanhar o serviço deles, se o gestor vai mal a gente muda, se tiver que qualificar, a gente qualifica. Isso é o principal, a gente fiscalizar todas as secretarias, mas a população, imagina, mais de 1 milhão de pessoas fiscalizando é muito melhor.
JC - Essas denúncias iriam para onde?
Chiodo - Cada secretaria vai ter o seu aplicativo e o seu acompanhamento. Vai passar para o gestor, o próprio prefeito vai acompanhar esse serviço e vai ver se está indo bem ou não e pela avaliação das notas poderá fazer essas mudanças.
JC - E sobre a ideia de que o secretário adjunto seja um funcionário de carreira...
Chiodo - Eu fui secretário adjunto e, quando eu entrei na secretaria, não tinha memória da pasta. Troca o secretário, entra outro, entra o adjunto, todos políticos e ninguém entende muito bem a secretaria. Quem entende é o funcionário público de carreira. Tinha funcionário lá com 10, 20 anos de carreira. Eles estão a par de todos os serviços e obras. Quando entra um político que quer começar tudo do zero, atrapalha um pouco o planejamento. Um funcionário de carreira como adjunto vai servir para criar a memória da secretaria. Pode haver mudança? Pode, mas existe uma memória, o secretário não vai ficar perdido e os projetos estão andando. E outra, incentiva os funcionários a buscarem subir de nível, até chegar a secretário adjunto.
JC - Que outras ideias tem para os servidores de carreira?
Chiodo - É muito grande a quantidade de CCs, que trabalham politicamente e não para a secretaria. Às vezes são mais cabos eleitorais. Tem que diminuir os CCs. E o funcionário, se trabalhar em outra secretaria, tem que ganhar a mesma coisa. Quando eu era secretário adjunto, muitas vezes a gente perdia funcionário para a Saúde, para a Fazenda, porque ganhavam mais e tinham a mesma função. Então a pessoa nem queria mais ficar na secretaria. Não tinha estímulo e queria sair, isso é ruim. É preciso nivelar as funções, ter o mesmo salário e não ter esse desnível. Isso dá um incentivo para ficar na secretaria. Muitas vezes trocam só para ganhar mais. Importantíssimo a gente trabalhar com o plano de carreira.
JC - Vocês tem algum projeto sobre redução de CCs?
Chiodo - Eu não estudei a quantidade, mas a gente vai diminuir, isso é certo. Não é aceitável o mesmo número de funcionários para o mesmo número de CCs ou até mais por secretaria. Muitas vezes o funcionário trabalha o dobro e o CC não trabalha. Pretendemos diminuir as secretarias também, juntar as secretarias de ponta, como a do Trabalho e a Smic, a de Desenvolvimento e a Inovapoa, e fazer uma secretaria só, porque todas as secretarias falam em desenvolvimento. Uma faz o curso e a outra licencia. Por que não juntar as peças? A Smam pode virar a Secretaria da Sustentabilidade. A gente pretende que ela cuide de todas as obras que entram no município, tem que ver se é energia limpa ou renovável. Se não for, a gente vai ter que estudar uma maneira de fazer com que essas obras tenham essa energia. Em prédios públicos, por que não utilizar energia solar ou eólica? A gente tem que estudar isso. Captação da água da chuva, por que não? Isso gera economia e isso volta para o município em obras e serviços. Os prédios, se tem coleta da água da chuva, o ônibus elétrico. A sustentabilidade tem que ser geral. A gente precisa que se mude esse conceito de cidade para um conceito de sustentabilidade, se não a gente tem um futuro perigoso. Podemos dar incentivo para quem está buscando essa energia, diminuir os impostos, para conseguir mudar a cultura atual.
JC - Essa é uma bandeira do Partido Verde (PV). Vocês têm estudo de alguma cidade que já funcione assim?
Chiodo - A gente não tem esse estudo, mas sabe que algumas cidades já têm essa cultura. Acho que a parte mais dolorida é no início, porque modifica toda a estrutura. A gente tem que mostrar o que Porto Alegre quer, o que o governo quer, o que o PV quer. Daqui para frente toda obra, temos que cuidar para que todos os serviços que serão feitos em Porto Alegre tenham ou energia solar ou eólica, limpa e sustentável. Para a iluminação de postes, por que não energia solar? O zelador na praça já é para isso, para cuidar da natureza, fazer hortas nas praças, fazer nas escolas hortas comunitárias. Tudo isso é sustentabilidade.
JC - A discussão sobre a segurança pública entrou com força nessas eleições. Quais são seus projetos para essa área?
Chiodo - Quando fui secretário, apresentei para o prefeito um projeto de cercamento de Porto Alegre, entrada e saída com monitoramento eletrônico, com câmeras. Leva um segundo para identificar a placa, se o carro foi roubado ou se está em ocorrência de crime. Esse sistema já existe em outros estados, e a empresa que faz esses serviços é aqui do município. E o custo não é tão alto. Dá para dividir entre Estado e município. Eu conversei com o Sindicato das Seguradoras e eles têm todo o interesse de participar. Isso já vai reduzir muito o que está acontecendo.
JC - A sua experiência no Sindicato da Beleza também pode contribuir em sua gestão, caso seja eleito?
Chiodo - Entrei no sindicato há seis anos e passei confiança para toda a área da beleza. Buscamos a regulamentação e conseguimos. Agora estamos conseguindo o MEI (Microempreendedor Individual) para a nossa área e a primeira carteira profissional do Brasil. Tem uma feira em Novo Hamburgo em que participam 10 mil pessoas, feita pelo sindicato. Essa experiência foi boa para levar para a própria secretaria. Conhecer, estudar a secretaria, ver o que precisava. A primeira ação, quando entrei na secretaria, foi que eu cheguei no Sine e não falei com ninguém, ninguém sabia que eu era secretário. Eu vi que as pessoas queriam buscar emprego e o visual não era muito bom, e não tinham dinheiro nem para a passagem. Então conseguimos uma parceria com o Senac e com a Embeleze para fazer o tratamento visual dessas pessoas, e foi fantástico. Elas ganharam corte de cabelo, maquiagem, unha, tudo de graça para poder fazer uma entrevista com mais segurança. São coisas simples em que a gente pode ajudar. Outra coisa foram os moradores de rua. A gente tem um projeto para separar 10% de todas as vagas de emprego das terceirizadas do município para os moradores de rua. Isso vai ajudar muito, há mais de 1.500 moradores de rua na Capital. A gente vai conseguir dar emprego e cidadania para eles. Com isso, quem estiver morando em um local e pagando, servirá de exemplo para outros moradores de rua. Porque hoje não existem esses exemplos. 
JC - Sobre sua candidatura, ocorreram alguns entraves...
Chiodo - O que eu achei estranho é que no dia 24 (de julho), quando escolheram o meu nome, estava presente lá o presidente da executiva estadual, e a executiva municipal toda. No dia 5 (de agosto), último dia de registro, mudaram o jogo, eu fui o último a saber. Havia pessoas de outros partidos da coligação me ligando para me dar parabéns antes de eu ficar sabendo, isso é incrível, olha a ética. Às 19h, eu recebi um ofício dizendo que eu não seria mais candidato a prefeito, e perguntando se gostaria de ser coordenador da campanha do Marchezan (PSDB). E aí eu achei muito incrível essa ética toda na política que falam... E entrei com a ação, consegui ganhar a liminar e aí houve ações, uma atrás da outra, e a gente foi conseguindo até agora. Eles não conseguiram derrubar porque foi tudo legal. Eu continuo transparente e ético, e é isso que eu quero passar para as pessoas, que confiem em mim porque estou trazendo uma política diferente, não de oportunismo de querer cargos. Uma política para melhorar a cidade e sair dessa política suja que hoje existe.

Perfil

Marcello Francisco Chiodo nasceu em 27 de março de 1968 em Porto Alegre. Com 18 anos, fez um curso para cabeleireiros no Senac, e desde então atua na área. Inicialmente, trabalhou com o professor do curso em um instituto de beleza no bairro Moinhos de Vento. Alguns meses depois, abriu o próprio negócio, que administra até hoje no Centro da Capital. Com ele, trabalham a esposa e o cunhado. Em 2016, formou-se no curso de tecnólogo em Recursos Humanos na Faculdade Anhanguera. No currículo, Chiodo concorreu a uma vaga na Câmara dos Deputados em 2006, pelo PTB. Ao Legislativo municipal, soma três disputas: pelo PTB em 2004 e 2008, e pelo PSB em 2012. Suplente em 2008, assumiu uma cadeira por dois anos. Em 2013, foi nomeado como secretário adjunto na pasta do Trabalho e Emprego da gestão de José Fortunati (PDT). Chiodo também é presidente do Sindicato dos Salões de Barbeiros, Cabeleireiros, Institutos de Beleza e Similares do Rio Grande do Sul (Sinca). Está filiado ao PV desde fevereiro deste ano.