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Cânion Fortaleza funciona com pouca sinalização
Falta de verbas impede melhor conservação e melhorias na infraestrutura dos espaços
Visitar o Parque Nacional de Aparados da Serra e "perder o ar" em meio à exuberância dos cânions é uma das programações mais badaladas da Serra Gaúcha, famosa também pelo mainstream de Gramado e Canela. Difícil chegar ao local sem uma expectativa grande, alimentada pelas imagens fotográficas da região do Cânion Itaimbezinho, localizado entre os municípios de Cambará do Sul (RS) e Praia Grande (SC).
Mais difícil ainda é não se encantar com a magnitude do desfiladeiro, cuja extensão de 5,8 km é formada por paredões, cachoeiras, cascatas e, no fundo do vale, o Rio do Boi. Mas quando o olhar se torna um pouco mais atento, em meio ao êxtase da experiência, surgem os gargalos estruturais do local, que é a principal atração turística de Cambará do Sul. A situação é ainda pior no Cânion Fortaleza, situado a 23 km da cidade, no Parque Nacional da Serra Geral. Ali, o visitante precisa ter cuidado, pois a sinalização é precária, e não há infraestrutura para receptivo de turistas.
Mesmo no Itaimbezinho - onde há placas e cercas de isolamento que limitam a proximidade com o penhasco - assusta assistir as investidas de algumas pessoas que insistem em desrespeitar os avisos e demarcações para fotografar os cânions. De acordo com o chefe de unidade de ambos os parques, Deonir Zimmermann, esta situação está prestes a ser resolvida, com a implementação de telas de proteção em alguns mirantes. No entanto, nem todos os pontos serão contemplados.
"Um dos fatores que contribuem para a dificuldade de investir em melhorias na estrutura é a pendência no que se refere à regularização fundiária dos parques", explica o gestor. Desde a fundação do Aparados da Serra, em 1960, até hoje, 77% da área foi desapropriada judicialmente, mas naquele local ainda há 27 propriedades privadas aguardando indenizações. "Os processos não estão conclusos por uma série de motivos, desde a morosidade da Justiça, até perda de documentos e falta de recursos para pagar os proprietários dos terrenos", explica Zimmermann.
Em vista da demora referente à regularização fundiária, a gerência dos parques - subordinada à administração do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) - fica limitada para realizar melhorias e manutenção das trilhas. Na passagem pela trilha do Vértice, por exemplo, mais de um banco para contemplação está em péssimas condições. Outro empecilho é a não disponibilidade de verba, apontada como o principal motivo para a falta de estrutura de recepção de turistas no Cânion Fortaleza. "Apesar de estar entre as 10 unidades do ICMBio que mais arrecadam dinheiro, o Aparados da Serra gasta três vezes mais (com folha de pagamento de funcionários, vigilantes, internet, energia, manutenção de veículos, entre outros custos) que o valor que entra via ingressos no parque", afirma Zimmermann.
Anualmente, mais de 100 mil pessoas visitam o Itaimbezinho. A entrada no parque custa R$ 8,00 por pessoa, sendo que crianças, idosos e estudantes em grupos organizados por escolas não pagam. Em 2015, foram arrecadados R$ 800 mil.
Já o Parque Nacional da Serra Geral não cobra pela visitação. Lá, a maioria dos cânions permanece fechada ao público. Um dos mais conhecidos, o Malacara, deixou de receber visitas porque sua borda está localizada dentro de uma das propriedades que integram os 115 processos judiciais para a regularização fundiária (conclusa em apenas 57%). "A borda Sul, onde se encontra o Cânion Fortaleza é uma propriedade que foi adquirida pela União, por isso o passeio é aberto ao público", comenta Zimmermann.
Parque Nacional dos Aparados da Serra não recebe obras de recuperação desde 1996
O secretário de Turismo de Cambará do Sul, Fernando Athaíde Nóbrega, lamenta que a última recuperação ocorrida no Parque Nacional de Aparados da Serra tenha ocorrido há duas décadas. Entre 1994 e 1996, o local fechou para a implementação do atual Centro de Visitantes, com banheiros, com um box de informação e controle, além de alojamentos para funcionários, brigada de incêndio e pesquisadores de universidades que realizam trabalhos na área; além de toda a sinalização nas trilhas. A estrutura conta ainda com guarida de entrada e estacionamento. Já teve restaurante, mas hoje em dia não há local nem para comprar água.
"Estamos sempre demandando por melhorias, pois é de total interesse para o município, mas as solicitações esbarram nos recursos financeiros orçamentários e extraorçamentários do governo federal, que é quem responde pela manutenção dos parques", explica Nóbrega. A cidade, que conta com uma população de 7 mil habitantes, depende muito destes produtos turísticos, afirma o gestor. "Mas em vista da quantidade de visitantes que chegam, também é preciso recuperar o que vai sendo degradado - causa preocupação, por exemplo, que haja controle do número de veículos que adentram na unidade."
Por outro lado, as empresas de turismo receptivo que têm nas trilhas pelos cânions um de seus principais atrativos, a regra é avisar os turistas das limitações. "O acesso ao Fortaleza, por exemplo, é difícil, com precariedade das estradas. Mas conseguimos atender a demanda, apesar das atividades na área também serem restritas", comenta a agente de turismo da agência Cânion Turismo, Bruna Machado. "Infelizmente, os parques não recebem recursos suficientes para que se possa ampliar os produtos, apesar de ter um dos Planos de Manejo mais bem constituídos dentre os 47 parques nacionais do País", lamenta o guia turístico e empresário, Josemar Contesini.
De acordo com o Ministério do Turismo (MTur), a crescente demanda turística dos parques nacionais e o aumento das visitações são vistos como prioridade estratégica do Plano Nacional do Turismo (PNT). Em nota, a assessoria de imprensa informa que especificamente para o Parque Nacional de Aparados da Serra, em 2015, a firmou uma parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), para a elaboração de um plano estratégico para o desenvolvimento do turismo regional. O documento contempla um diagnóstico da região, um plano estratégico e um plano operacional, e recebeu R$ 1,4 milhão de investimento do BID. "Além disso, o MTur investe recursos em obras de infraestrutura turística em vários municípios brasileiros para melhorar a experiência dos moradores e turistas que visitam o País. Entre esses municípios, está o de Cambará do Sul", diz o texto. Procurado, o ICMBio alegou não haver tempo hábil para se pronunciar a respeito do repasse de verbas para a manutenção dos parques.