O Ministério da Saúde indica que, em 2013, 1.348 pessoas morreram no Brasil por dengue, e, apenas no começo de 2016, já foram registrados 396.582 casos prováveis da doença. Neste mesmo período, foram notificados também 3.748 casos de febre chikungunya e três óbitos confirmados pelo zika vírus. Tocados por casos como esses e diversos outros em que epidemias dizimaram e abalaram populações inteiras, um grupo de cientistas da área da saúde resolveu criar a Epitrack.
A startup de Recife, idealizada pelo epidemiologista Onício Leal, 29 anos, liderada também pela epidemiologista Juliana Perazzo, 27, e pelo PhD em Computação Jones Albuquerque, 45, desenvolve softwares para que a população de determinado local possa informar o seu estado de saúde. A ideia é mapear as doenças com a colaboração dos usuários e, com os dados obtidos, auxiliar o governo no combate. Considerando todas as plataformas criadas, somam-se mais de 110 mil usuários. "Tomamos como nossa missão unir tecnologia e saúde pública para impactar a vida das pessoas, proporcionando novas formas de combate de epidemias", declara Leal.
O primeiro projeto foi realizado em parceria com o governo federal na última Copa do Mundo, através do aplicativo Saúde na Copa. Atualmente, o grupo está trabalhando em um novo projeto para as Olimpíadas deste ano, o Guardiões da Saúde - que já pode ser acessado no online. O objetivo é, além do mapeamento de doenças, pontuar geologicamente as farmácias e UPAs, além de oferecer dicas de saúde aos usuários.
A Epitrack, fundada em 2013, não visa apenas o Brasil. Já foram desenvolvidos projetos para os Estados Unidos, Canadá e Porto Rico. Agora, a equipe concorre com startups do mundo inteiro no concurso The Venture, que busca "empresas que vão mudar o mundo". O evento ocorre em julho, mas, a partir de 9 de maio, torcedores podem votar na iniciativa preferida para ajudar a escolher o ganhador do prêmio extra de US$ 250 mil.
Caso a Epitrack vença a premiação principal, de US$ 1 milhão, o montante será utilizado na realização das novas metas da startup. Segundo Leal, o objetivo é "ampliar o escopo de atuação para também entender as epidemias que alguns tipos de câncer têm causado".
"Isso seria feito a partir da utilização de biossensores, pequenos aparelhos que coletariam amostras de sangue dos pacientes e apresentariam, em tempo real, o cenário epidemiológico da doença", descreve sobre a nova empreitada.
Pelo direito de acesso
Quem depende do Sistema Único de Saúde (SUS) sabe o quanto pode ser difícil, em alguns casos, descobrir qual local procurar para conseguir um medicamento, um tratamento, uma consulta e outros serviços gratuitos. Percebendo esta carência, os advogados Paulo Roberto Levy, 36 anos, Thiago de Almeida, 31, e Ararê Almeida, 41, criaram a ONG Saúde Para Todos. A ideia é que eles doem seus conhecimentos e atenção para quem precisa e não pode pagar por isso.
O principal serviço da organização é a consultoria, prestada por e-mail, telefone, Facebook ou pessoalmente. Levy conta que este acolhimento "talvez seja a melhor coisa que proporcionamos, pois, às vezes, as pessoas só precisam ser ouvidas". Além da consultoria, se necessário, os voluntários também iniciam um processo jurídico gratuito e acompanham o caso até seu desfecho.
A iniciativa, que começou em 2011, já atendeu mais de 1.500 pessoas e soma casos vitoriosos. Uma história marcante lembrada por Levy é a de uma jovem de Bento Gonçalves, diagnosticada com Síndrome de Irlen, uma doença degenerativa que atinge a retina. Ela precisava fazer exames em um centro específico de Belo Horizonte, mas não conseguiu o agendamento através dos procedimentos administrativos indicados.
A ONG, então, entrou com o processo judiciário. Após recorrer, o atendimento ocorreu e a menina ainda ganhou o direito às lentes de contato especiais, que a dão a possibilidade de trabalhar e viver normalmente.
O advogado se orgulha com o braço social da iniciativa. "Uma pessoa que conseguimos ajudar com medicamentos para câncer foi lá na entidade e disse que nós tínhamos ajudado ela a sobreviver. A todo momento, as pessoas vão lá agradecer por ter conseguido um leito, um medicamento", diz ele. "Receber esta gratidão em um momento tão difícil e complicado, e ver que conseguimos ajudar, é espetacular", completa.
O projeto, que nasceu no escritório de advocacia dos três colegas, pretende se tornar sustentável para que possa "ser maior do que os seus criadores e andar com as próprias pernas". "Desde o começo, o desejo era este, criar uma iniciativa que fosse duradoura, ajudar muitas pessoas e sobreviver mesmo quando não estivermos mais nela", explica Levy.
A organização possui 10 voluntários, entre seis advogados e quatro ajudantes administrativos, e funciona apenas com recursos próprios.
Sangue: que nunca falte e nem sobre
O Sangue Social, idealizado em Santa Maria, nasceu a partir da tragédia da boate Kiss. Na época, houve um período de carência de sangue no hemocentro. Após a divulgação na mídia, no entanto, o quadro se inverteu e começou a sobrar litros do fluído - que tiveram de ser descartados.
Comovido pela situação, Alessandro Matias, 36 anos, proprietário da DG5 Comunicação, sugeriu a sua funcionária, Rossana Moreira, também 36, que abordasse o gerenciamento das necessidades dos hemocentros em seu trabalho de conclusão de curso na Universidade Federal de Santa Maria. Na época, ela estava se formando em Tecnologia em Sistemas para Internet. Nasceu, assim, o dispositivo (na época, uma plataforma no Facebook).
Hoje, virou aplicativo (cujo lançamento será neste mês) e faz a ligação entre o doador e a instituição, informando o usuário quando o hemocentro mais próximo está precisando do seu tipo sanguíneo. "É uma forma de ajudar na arrecadação, que é sempre escassa, e também de não haver desperdício, pois só é solicitado quando há necessidade", afirma Matias.
Além de o usuário poder marcar a data, hora e local da doação no próprio dispositivo, o hemocentro envia uma lista com os preparativos necessários.
"Muitas pessoas deixam de doar, pois chegam no local despreparadas", revela Rossana.
Neste ano, os sócios desenvolveram também uma funcionalidade para doação de medula óssea, que, conforme Matias, "é uma carência mundial". Rossana acredita que a aderência à novidade será boa, pois "o exame para o cadastro é supersimples, e, assim como o sangue, pode salvar vidas".
Os planos futuros para o Sangue Social são ambiciosos. A dupla à frente da funcionalidade pretende alcançar todos os estados brasileiros até 2017, e já está em negociações com empresas do exterior para investir na internacionalização do projeto.
Hoje, apenas o hemocentro municipal de Santa Maria é acessado pelos usuários. A expansão deve se dar através de parcerias.
"O sistema beneficia muito as instituições porque elas nos contam que a maior dificuldade é realmente divulgar sobre a falta de sangue", reforça Rossana. Ela afirma que o trabalho realizado nas redes sociais, principalmente pelo Facebook, gera muitos resultados.
"Nós procuramos estar sempre ativos na divulgação de conteúdo", detalha, explicando, ainda, que o fato de as pessoas terem constantemente o contato com informativos sobre doações de sangue estimula e propaga a ação.
O retorno dos usuários, por enquanto, é medido pela interação com as postagens, mas, com o aplicativo, os sócios poderão conhecer o índice de pessoas que efetivamente doam através do agendamento pelo sistema. A ideia, daqui para frente, é que o projeto se torne rentável através de editais públicos.
Antes mesmo do retorno financeiro, porém, está o sentimento de realização. "É muito legal quando nos envolvemos, vemos a carência na realidade dos hemocentros, e percebemos que o nosso trabalho pode ajudar", orgulha-se Matias.