País procurado por 25 milhões de visitantes por ano - sendo que um dos fatores que impulsionam esse fluxo é o enoturismo -, Portugal foi eleito pelo Sebrae-RS para servir de modelo a 15 vinícolas das regiões da serra e da campanha gaúchas. Durante os dias 5 e 12 de maio, um grupo de empresários do ramo realizou visitas técnicas para observar os processos de fabricação de vinho nas regiões do Porto, Douro, Alentejo, Bairrada e Lisboa. "A agenda contemplou também todos os aspectos que envolvem o enoturismo, desde o vinho até as questões culturais das localidades, como os museus, por exemplo, pois a cultura é o que legitima determinada região e mostra de que forma foi feito uso disso no desenvolvimento de produtos", explica a técnica do Sebrae-RS Amanda Paim.
"O que mais me chamou a atenção foi a valorização do território e da cultura local, como uma forma de reconhecer o vinho produzido em uma região", comenta a diretora da Cristófoli Industria Vinícola do Brasil, Bruna Cristófoli. A empresa fabrica vinho há 20 anos, em Bento Gonçalves, e entrou para o mercado de enoturismo em 2010. Desde então, promove passeios, degustações, piqueniques e refeições harmonizadas.
Mas o diferencial aparece em "ideias simples", comenta a sócia-proprietária da Vinícola Peruzzo, Clori Peruzzo. "Em Portugal, os empresários juntaram enoturismo com história, o que me inspirou muito. Temos em Bagé o Forte de Santa Tecla, que teve sua fundação no contexto da invasão espanhola de 1763 a 1776", comenta a empresária. Segundo Clori, valorizar a história e cultura integradas ao enoturismo podem gerar muitas parcerias junto a museus e teatros.
À frente do projeto com foco no turismo realizado pela Vinícola Peruzzo desde 2014 (sete anos depois de fundada a empresa), a sócia-proprietária afirma que "aprendeu muito" durante a missão a Portugal. "A viagem foi impressionante, e gerou um aprendizado gigante para nossa região, que está iniciando o trabalho com enoturismo." Localizada a 10 km do Centro de Bagé, a empresa é uma das únicas duas do gênero na cidade, oferecendo visitas aos parreirais, almoço e jantar para grupos, degustação de vinhos, entre outros serviços.
"Em Portugal, o que mais me impressionou foi o apoio do poder público, envolvido com o turismo de forma institucional, o que faz diferença", opina Clori. A empresária já avalia a ideia de conversar com empresários de vinícolas de Candiota e Dom Pedrito para uma aproximação com os governos locais, neste mesmo sentido.
"Portugal cresceu muito no turismo como um todo, além de ser um grande produtor que concentra características semelhantes às duas regiões gaúchas", justifica a técnica do Sebrae-RS. A iniciativa contou com apoio do governo do estado do Rio Grande do Sul, Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Vinhos do Brasil e da vice-cônsul de Portugal, Adriana de Melo Ribeiro. "A ideia é promover a diversificação dos produtos turísticos da serra gaúcha por meio da troca de experiências em um dos destinos mais importantes do mundo e o maior no consumo da bebida", destaca Amanda.
Os empreendedores fazem parte dos projetos coletivos Enoturismo na Serra Gaúcha e Enoturismo na Campanha e Fronteira Gaúcha, que trabalham de forma distintas. Na Serra, o objetivo é diversificar a oferta, enquanto na Campanha, onde o turismo focado no vinho está em fase de crescimento, a principal meta é qualificar a os roteiros oferecidos.
Diversificação e tradição são marcas fortes nas propriedades centenárias
Fazenda do Esporão está localizada em área de 1,8 mil hectares
VINICOLA HERDADE DO ESPORÃO/ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Entre as visitas da comitiva gaúcha em Portugal, os projetos da Câmara do Município de Monsaraz e o trabalho de enoturismo da propriedade Herdade do Barrocal foram alguns dos destaques. Participantes da missão técnica promovida pelo Sebrae-RS e parceiros conheceram propriedades centenárias, que passaram por processos de revitalização para qualificar e promover o enoturismo na região. O encontro contou com a participação do prefeito e presidente da Rede Europeia de Cidades do Vinho (Recevin), José Calixto; e do executivo da Associação de Municípios Portugueses do Vinho (AMPV), José Arruda. "Nesta visita, ficou muito clara a importância do município e da Recevin para desenvolver o enoturismo", ressalta a técnica do Sebrae-RS Amanda Paim. "A cidade de Monsaraz registrou um grande incremento na hospedagem, e possui hoje uma produção anual de 30 mil litros de vinho - o que resultou na forte promoção do enoturismo."
Propriedade com mais de 200 anos - que, nos últimos 15, passou por uma estruturação -, Herdade do Barrocal possui área de hospedagem com 40 apartamentos, antigamente ocupados por funcionários da fazenda. "Muitos aspectos nos chamaram a atenção, especialmente pelo modelo de negócio, que garante uma taxa de ocupação média de 90%", destaca Amanda. A técnica do Sebrae avalia que a visita do Barrocal "agregou muito para o grupo", especialmente pela semelhança com as estâncias tradicionais da região da Campanha. "Mostrou o quanto é possível reutilizar e aproveitar as estruturas tradicionais para o turismo de luxo", disse.
Para o proprietário da Bodega Sossego, de Uruguaiana, e presidente da Associação dos Vinhos da Campanha, René Moura, "foi muito importante o contato com o prefeito José Calixto" para conhecer melhor os projetos desenvolvidos em Monsaraz. Entre outras atividades, a primeira visitação dos empreendedores ocorreu na Fazenda do Esporão, localizada no Alentejo, caracterizada por campos vastos, semelhantes à Campanha. "A propriedade possui uma área de 1,8 mil hectares - bem maior do que as fazendas em solo gaúcho. São mais de 30 castas, ou seja, tipos de uva cultivados", observa Amanda. O local recebe 25 mil visitantes por ano, sendo que 40% desse total é de brasileiros. Atualmente, a fazenda produz 23 tipos de vinho e três variedades de azeite. O faturamento anual registra € 40 milhões, sendo que € 1 milhão é resultante do enoturismo.