Felipe Villela, 25 anos, morador de Porto Alegre nas horas vagas (!), viaja o mundo empreendendo num ramo pouco comum, o de agroflorestas. De junho a agosto deste ano, por exemplo, ele estará na Indonésia, treinando jovens para que entendam como é possível usar os recursos naturais de uma forma mais sustentável. O projeto será financiado pela empresa sueca Dome Village, que trabalha com bioarquitetura.
A relação íntima de Felipe com a natureza não é de hoje. Ele começou, há algum tempo, na Holanda, a reNature Foundation, e se considera um homem de sorte por poder pensar no outro em seu trabalho. "Me sinto privilegiado por ter as condições de pensar no próximo. Muitas pessoas têm que batalhar no dia a dia para pensar no seu próprio umbigo. Eu tenho tempo e disponibilidade para pensar no outro. As pessoas que têm condições financeiras, se pensassem mais no próximo, poderiam gerar uma vida mais harmônica e pacífica, o que resolveria vários problemas sociais", acredita. Na entrevista abaixo, ele fala mais sobre como será essa experiência na Ásia.
GeraçãoE - Como você leva a reNature Foundation pelo mundo?
Felipe Villela - Começamos com o objetivo de restaurar a natureza através da agrofloresta e trabalhar em comunidades locais pelo mundo afora para entender as necessidades de cada local que esteja com o solo degradado e que possa ser transformado em agrofloresta - que é um sistema agrícola produtivo sem precisar desmatar as florestas. A gente quer incentivar as comunidades locais a melhorar as condições econômicas dessas áreas e provar que é possível não desmatar as florestas e, ainda assim, gerar uma renda. Queremos, inclusive, trabalhar com comunidades indígenas, providenciar conhecimentos técnicos através de especialistas. Vamos fazer o piloto na Indonésia, onde ficaremos por três meses, fazendo uma imersão, treinando jovens de uma universidade.
GE - Por que começar na Indonésia?
Felipe - É uma ilha que está sendo ameaçada pela mudança climática e pela alta temporada de chuva, o que provoca invasão de água e alaga as propriedades e lavouras. Essa água não está filtrando para dentro do solo, está escorrendo, por conta do desmatamento para óleo de palma e para monocultura e compactação do solo pela agricultura convencional. Vamos trazer a agrofloresta para essa ilha e mostrar como é possível ter um sistema mais resiliente para a produção de alimento. Vamos fazer também no México, Índia, África. Vamos começar a inspirar e treinar, não só agricultores, mas empresas e organizações para preservar nossos recursos naturais e fazer com que seja um negócio rentável.
GE - O que a agrofloresta é capaz de gerar?
Felipe - Usaremos tecnologias, como o blockchain, para poder valorizar todos os serviços ecossistêmicos. A agrofloresta vai além da produção de alimentos, a gente também beneficia todo o sistema da natureza. A gente planta água, sequestra carbono da atmosfera, fertiliza o solo. Hoje, o custo ambiental escondido por trás dos produtos não está sendo divulgado e cobrado. Minha ideia é voltar ao Brasil, trabalhar na Amazônia, Pará, com produção têxtil. Fazer tecidos vindos de fibras naturais de agroflorestas, para revolucionar o mercado têxtil, que hoje é o segundo mais poluente do mundo. A gente quer mostrar que é possível extrair fibras naturais de outras plantas, não só algodão. Queremos plantar algodão, banana, abacaxi. É possível produzir tecidos, tapetes, sem desmatar a floresta.
(veja outros cases de quem empreende pelo mundo aqui)
FICHA TÉCNICA
QUEM: Felipe Villela, 25 anos
ORIGEM: Porto Alegre (RS/Brasil)
DESTINO: Indonésia
NEGÓCIO: reNature Foundation (agroflorestas)