Produzir, usar e jogar fora um produto é um ciclo que, definitivamente, está fora da economia do futuro. O alerta é do secretário de Estado do Ambiente de Portugal, Carlos Martins. "Existe um conjunto de resíduos que deve ser encarado como matéria-prima e, para isso, precisamos de um planejamento para a sua recuperação e transformação em outros produtos. É um desafio não apenas do Brasil, mas mundial", comenta. Ele foi um dos painelistas do 1º Seminário Internacional de Resíduos Industriais e Urbanos, realizado durante a 8ª edição da Fiema Brasil - Feira de Negócios, Tecnologia e Conhecimento em Meio Ambiente. O evento aconteceu até esta quinta-feira em Bento Gonçalves (RS) e é promovido pela Fundação Proamb.
Martins apresentou o case de sucesso de Portugal nesta área. Em 1997, o país tinha apenas lixões como destino final para todos os resíduos gerados. Cinco anos depois, chegou a uma situação de lixão zero. "A partir de 2002, já tínhamos uma rede de infraestrutura para atender essa área e políticas de logística reversa em mais de nove segmentos de resíduos. Hoje, estamos entre os países que melhor conduzem essa área no mundo", conta.
Para ele, os estados brasileiros podem seguir um caminho similar. Porém, terão que contar com o que foi decisivo em Portugal: vontade política e sensibilização e educação ambiental para a população. "Os padrões ambientais são muito exigentes e as leis sozinhas não resolvem os problemas", alerta. O secretário aposta que esse tema vai crescer de importância nos próximos anos, na medida em que se reflete diretamente na qualidade de vida das populações. "Queremos que as pessoas vivam mais, com saúde e um melhor ambiente. Para isso, é imperativo resolver melhor esse tema dos resíduos", assegura.
O consultor para a área de valorização de resíduos Francisco Leme relata que é preciso acelerar os projetos nessa área. O especialista comenta que, se 14% do resíduo urbano, industrial e agrícola gerado no Rio Grande do Sul fossem tratados com as tecnologias já disponíveis no mercado e transformado, seria possível gerar energia elétrica para cobrir toda demanda do Estado. "O Brasil tem um potencial enorme de transformar os resíduos de problema em oportunidade de melhoria ambiental, social e de novos negócios", aponta.
Leme acredita que a Fiema Brasil vai servir de ponto de partida para uma ação mais efetiva. "Reunimos um grupo de pessoas e vamos criar um plano para o Rio Grande do Sul na área de resíduos", diz, destacando que a ideia é apresentar esse projeto ao governo do Estado.
Na Fiema Brasil, expositores demonstraram produtos voltados para a gestão ambiental. A Opersan Soluções Ambientais é de São Paulo e está prospectando o mercado gaúcho. A empresa uma das maiores de tratamento de água e efluentes para o mercado privado, atua com duas modalidades, e tem no seu portfólio contratos que tratam dois metros a 1 mil metros cúbicos por hora de água ou efluentes.
O cliente envia o seu efluente por caminhão ou tubulação e o tratamento é feito em uma das seis unidades da Opersan, que ficam em São Paulo, Rio de Janeiro, Blumenau e Camaçari. A companhia também presta serviço dentro do cliente, projetando, construindo e operando o sistema. "Temos a flexibilidade de trabalhar com diferentes tecnologias para atender de forma customizada o cliente", conta o diretor de Desenvolvimento de Negócios da Opersan, Diogo Taranto.
Já a Sanwey apresentou, na Fiema, embalagens para transporte de resíduos e transporte de produtos perigosos. As bags têm tamanhos variados, homologação marítima e terrestre e são feitas com um polietileno interno que é todo lacrado. Da parte da costura até a que em contato com o produto ali colocado, tudo é soldado. As bags estão sendo comercializadas para indústrias, condomínios e para os municípios.
BRDE avalia lançar títulos aderentes aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
O Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) está analisando, junto com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Europeu de Investimento (BEI), o lançamento no mercado de títulos aderentes aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organizações das Nações Unidas (ONU). "Talvez possamos nos tornar o primeiro banco do mundo com um projeto deste nível", comenta o diretor de Planejamento do BRDE, Luiz Corrêa Noronha, que participou quinta-feira do 6º Congresso Internacional de Tecnologia para o Meio Ambiente, parte da agenda Fiema Brasil.
A ONU tem como meta reduzir a pobreza, proteger o planeta e garantir paz à população mundial. Para alcançar essa meta global até 2030, 17 motivos foram elencados para o projeto denominado ODS. Entre eles estão fome zero e agricultura sustentável, saúde e bem-estar, água potável e saneamento e cidades e comunidades sustentáveis. Durante a Fiema Brasil, braço da ONU ligado ao desenvolvimento, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), apresentou o projeto.
Noronha explica que muitos bancos internacionais lançam títulos verdes no mundo, mas no caso dos ODS, a abrangência é maior. Basicamente, o investidor comprará os títulos - que seriam certificados pelo BID de que serão usados para fazer coisas boas para o meio ambiente e para as políticas sociais - em troca de uma determinada taxa de retorno. O BRDE vai pegar esse dinheiro, investir nos seus nossos projetos que têm aderência aos ODS e acrescentar o Spread.
O processo ainda está no início e o sucesso da parceria vai depender de quanto o mercado vai querer cobrar por isso. "O BEI, que tem as menores taxas do mercado e que já é parceiro do BRDE, disse que, se fizermos esse lançamento, eles comprarão metade, o que já é um passo importante", analisa o gestor. Isso tudo começou quando o BRDE percebeu que as suas operações possuíam elevada aderência com os ODS - mais precisamente, 83%. O índice de impacto total da carteira BRDE nos ODS é de 114,6%, ou seja, alguns projetos atendem a mais de um dos 17 itens.
Independentemente da ideia de lançamento dos títulos ODS, o BRDE firmou um acordo com o PNUD para a capacitação dos seus técnicos. Hoje, os profissionais recebem os projetos e os classificam de acordo com a linha de crédito. No futuro, vão fazer isso de acordo com os ODS. Quanto mais o projeto for aderente, menos pagará de Spread. "Eles vão auxiliar a nos transformar no banco dos ODS na região", projeta Noronha.
O programa de Responsabilidade Socioambiental do BRDE contempla três eixos, o que inclui o cuidado com o impacto direto da própria atividade diária do banco, de seus profissionais e do impacto dos financiamentos feitos. A instituição está revisando todo o seu compliance, para minimizar os riscos de, por exemplo, financiar uma indústria química ou uma barragem que possam enfrentar alguma dificuldade na sua execução e acabar afetando o ambiente.
O terceiro pilar é, justamente, fomentar os investimentos nesta área por meio de uma linha de crédito acessível e fácil para quem quiser fazer investimentos sustentáveis. "A única maneira de fazer isso é diminuindo nosso Spread e aumentando prazo e foi o que fizemos no final de 2015 ao criar a linha BRDE Produção e Consumo Sustentável (PCS)", conta o gestor.
O banco aderiu ao modelo nacional já existente no Ministério do Meio Ambiente. Entre 2005 e 2015, o BRDE destinou R$ 1 bilhão em projetos do PCS e, de 2015 a 2017, repetiu o valor, só que neste caso em apenas dois anos. No ano passado, essa foi a linha mais ativa do BRDE, com um total de R$ 480 milhões - a meta para este ano é superar esse valor.
Parceria transforma lixo em brinde
Em parceria com a Bio 8, empresa de Bento Gonçalves que oferece serviços na área ambiental, a Fiema está transformado o lixo produzido na própria feira em brindes para distribuição ao público.
O processo de transformação do lixo é dividido em etapas. Primeiro, os resíduos são depositados na máquina moedora. Após, o material triturado fica homogêneo e de fácil moldura, possibilitando a criação de formatos. "Foram 200 quilos de materiais descartados, equivalentes ao que a feira vai produzir. Isso se transforma em 300 porta lápis ou vasinhos. Esse montante será distribuído entre o público da Fiema que visitar o estande da Bio 8", conta Nikolas Winck, engenheiro ambiental da empresa.