Porto Alegre,

Anuncie no JC
Jornal do Comércio. O jornal da economia e negócios do RS. 90 anos.

Publicada em 16 de Março de 2018 às 15:49

Eu, Pessoa

Max Lacher

Max Lacher

ISADORA TITTON/DIVULGAÇÃO/JC
Compartilhe:
Jornal do Comércio
O papel dos robôs ou da inteligência artificial já vem sendo retratado faz muito, tanto na literatura quanto no cinema. Isaac Asimov, em 1950, escreveu Eu, Robô e, nos anos 2000, o livro serviria de inspiração para Will Smith interpretar o Detetive Del Spooner que odiava as máquinas. O filme Inteligência Artificial abordou com delicadeza e melancolia, entre outras coisas, como os robôs podem (?) ser substitutos de seres humanos e a relação que se estabelece entre eles; e o impagável Blade Runner, em sua versão original, para ficar apenas com uma lista restrita de filmes, fez com que refletíssemos sobre até que ponto existe diferença entre a razão de existir de um humano ou de um replicante. Será que replicantes terão crises existenciais?
O papel dos robôs ou da inteligência artificial já vem sendo retratado faz muito, tanto na literatura quanto no cinema. Isaac Asimov, em 1950, escreveu Eu, Robô e, nos anos 2000, o livro serviria de inspiração para Will Smith interpretar o Detetive Del Spooner que odiava as máquinas. O filme Inteligência Artificial abordou com delicadeza e melancolia, entre outras coisas, como os robôs podem (?) ser substitutos de seres humanos e a relação que se estabelece entre eles; e o impagável Blade Runner, em sua versão original, para ficar apenas com uma lista restrita de filmes, fez com que refletíssemos sobre até que ponto existe diferença entre a razão de existir de um humano ou de um replicante. Será que replicantes terão crises existenciais?
Esses elementos todos faziam parte do mundo da ficção, mas eles já saíram das telas e das páginas dos livros faz algum tempo. Os robôs cada vez mais vivem fisicamente ao nosso lado. Pequenos robôs nos indicam o que ler e o que não ler no facebook. Neste último SXSW, o Diretor de Engenharia do Google, Ray Kurzweil, disse que, em um futuro breve (seja o que isso queira dizer) todos nós seremos híbridos. Talvez a primeira sensação ao ouvir isso, principalmente para aqueles mais velhos, como eu, seja de temor de que aquilo que só parecia ficção científica tenha se tornado realidade e que, um dia, talvez, tenhamos que enfrentar as máquinas que buscam dominar o planeta terra, pois os homens o estão destruindo (ou qualquer outro motivo, razoável, ou não, para que isso aconteça).
Contudo, esta transformação tecnológica não pode ser vista de forma isolada. Para forjar essa mudança é necessário entender o caldo cultural que veio se formando e, portanto, necessário acrescentar outros elementos nesta mistura além do tecnológico. No aspecto do comportamento humano, passamos a questionar conceitos e paradigmas até pouco inquestionáveis, como a questão de gênero, algo tão forte como as mudanças tecnológicas. Faz pouco tempo, o significado de homem e mulher era bem claro e os desdobramentos disto como casamento também. Desde a consciência do papel da mulher e de sua respectiva mudança comportamental, esses conceitos mudaram e fizeram o homem (pelo menos alguns) repensar o seu papel no mundo, algo que vem sendo realizado com certa dificuldade. No aspecto organizacional, observa-se que as estruturas que conhecíamos até agora estão mudando. As empresas estão com estruturas mais enxutas, ou em alguns casos, nenhum nível hierárquico e atuando mundialmente, uma vez que as lógicas anteriores já não davam conta das novas demandas da contemporaneidade.
Esses e outros fatores criaram um momento único de transformação do mundo. O que é sólido se desmanchando no ar. Tudo passou a ser líquido ou até mesmo gasoso. E as marcas onde entram nesse cenário?
Os primeiros conceitos de marca remetem a queimar o gado com a intenção de identificá-lo. Assim, a ideia de trabalhar uma marca sempre esteve ligada a questão de gerar uma identificação de forma a tornar-se distinguível.
No mundo competitivo de hoje esse trabalho se tornou absurdamente mais árduo. A oferta por produtos e serviços cresceu de uma forma inimaginável, chegando em algumas circunstâncias a causar confusão no consumidor. As formas de contato das empresas com os clientes e clientes potenciais também mudaram e hoje, graças às redes sociais, podemos falar e conhecer muito mais gente. Ao mesmo tempo, o consumidor está mais crítico. Muitos antes de entrarem no site das empresas que ele quer consultar, entra em algum site de reclamação para ver o que os outros estão dizendo sobre aquela empresa. Aliás, "os outros" como referência, ganham um destaque neste novo processo de compra.
Neste cenário competitivo destacar-se passou a ser algo muito mais complexo e difícil de ser realizado pelas empresas. Portanto, a marca ganha em relevância na medida em que ela pode gerar este destaque e esta distinção e este é um diferencial difícil de ser copiado.
Para tanto, as empresas perceberam que este novo consumidor já não se importava apenas com os produtos / serviços oferecidos. Os valores que as empresas carregam passam a ter relevância. As causas que as empresas defendem também e, por fim, mas não menos importante, entender o propósito de uma empresa passou a ser fundamental para que os consumidores escolham se querem, ou não se relacionar com ela.
E nós? E as pessoas? Qual o nosso papel nesse processo e na relação com as marcas?
Primeiro, devemos lembrar que nós, pessoas, antes mesmo das empresas, já usávamos a marca no nosso nome, na nossa forma de vestir, de se portar, nas tatuagens que fizemos e naquelas que tentamos apagar. Mesmo que tenhamos um nome igual ao de alguém que conhecemos, sempre se busca diferenciar um do outro, seja abreviando, seja chamando pelo sobrenome, por um apelido, enfim, sempre buscamos traduzir nossa individualidade, ou o fato de sermos únicos.
Segundo, também não podemos esquecer que todas estas e outras mudanças foram feitas pelas pessoas. Como sempre, nós, seres humanos é que fazemos ou deixamos de fazer algo.
Mas também podemos analisar sobre um outro prisma. Quando falamos de marca, seja pessoal, de uma organização ou produto/serviço estamos sempre falando em pessoas, pois isso tem uma força muito grande. Desfrutar uma bela vista é algo que pode nos marcar, mas pessoas nos marcam de uma forma muito mais profunda. E tudo o que as empresas querem é poder marcar aqueles que querem e se relacionam com nossos produtos/serviços. Este trabalho exige gente, exige humano. Pessoas tem a capacidade de sentir, de perceber e assim reagir. Além do mais, pelo menos por enquanto, só as pessoas podem possuir duas características que as máquinas não possuem: empatia e criatividade.
Que venham as máquinas, que venham os robôs, que venha a inteligência artificial, mas acima de tudo que nos lembremos que tudo isso só faz sentido por nós, que as vezes não parecemos tão humano, mas somos.
 

Notícias relacionadas