Conheça exemplos de pessoas que defendem a causa LGBT em seus empreendimentos

Meu negócio é uma ferramenta de militância


Conheça exemplos de pessoas que defendem a causa LGBT em seus empreendimentos

Diversos fatores pesam na decisão de empreender. Algumas pessoas querem mais liberdade, outras buscam trabalhar no ramo preferido. Para Rodrigo Krás Borges, 29 anos, e Gabriel Dreher Bittencourt, 32, abrir um negócio foi a maneira de apoiar a causa LGBT+. Eles são proprietários do Workroom, primeiro drag bar do País, aberto em Porto Alegre.
Diversos fatores pesam na decisão de empreender. Algumas pessoas querem mais liberdade, outras buscam trabalhar no ramo preferido. Para Rodrigo Krás Borges, 29 anos, e Gabriel Dreher Bittencourt, 32, abrir um negócio foi a maneira de apoiar a causa LGBT+. Eles são proprietários do Workroom, primeiro drag bar do País, aberto em Porto Alegre.
Rodrigo conta que, antes da ideia do drag bar, planejava montar uma cafeteria com Gabriel. A sacada inédita surgiu em uma conversa de bar, no qual pediram uma bebida, coincidentemente, com o mesmo nome de uma drag queen do reality show RuPaul's Drag Race, exibido pelo canal VH1. "Imagina se existisse um bar temático, onde tivesse performances, que as pessoas entrassem e se sentissem no programa", pensou Rodrigo, na época. Ao compartilhar a ideia com Gabriel, que tem uma namorada fã do reality, decidiram o futuro da sociedade.
Rodrigo trocou o emprego formal na área de Administração, e Gabriel deixou o seu, no setor de Tecnologia da Informação (TI). Através de uma pesquisa de mercado, constataram que nenhum lugar oferecia a experiência de interação direta entre clientes e drags, havia somente as tradicionais performances.
A abertura, então, foi planejada para sincronizar com a exibição dos episódios da série. "Sentimos que era o momento certo de abrir, porque foi simultâneo à exibição da nova temporada de RuPaul's", conta Rodrigo. "Seria como a Copa do Mundo dos gays", compara.
MARCO QUINTANA/JC
Os empreendedores contam que tiveram receio quanto à aceitação, uma vez que trata-se de um estabelecimento que apoia a diversidade sexual. O conceito de drag bar repercutiu tanto que, em setembro de 2017, a cantora mais popular da cena, Pabllo Vittar, foi ao estabelecimento após seu show em Porto Alegre.
Foram investidos cerca de R$ 200 mil para reformar o espaço, que, anteriormente, funcionava como antiquário. Como é a estreia de ambos no empreendedorismo, os sócios contaram com ajuda de amigos em todas as etapas.
Rodrigo entende que, mais que um negócio, o Workroom tem um papel social importante, pois, além de abrir espaço para a prática da arte drag e dar oportunidade a um cast de 22 artistas - com cachê fixo -, emprega uma equipe de 12 pessoas, em suma LGBTs. Além disso, o estabelecimento possui banheiro sem gênero.
O bar comporta 71 pessoas sentadas. A nomenclatura dos drinks do cardápio faz referência a drags famosas. Os valores dos drinks variam de R$ 16,00 a R$ 24,00. As demais opções, que incluem outros tipos de bebidas e refeições, vão de R$ 13,00 a R$ 36,00. O estabelecimento funciona de terça-feira a sábado, das 19h à 1h da manhã. Na quarta-feira são exibidos episódios da série RuPaul's Drag Race, quinta-feira é a noite de lip sync (dublagem de músicas), enquanto na sexta-feira e no sábado ocorrem os shows de drags.

Empreender com orgulho e sem descer do salto

O stiletto - tipo de dança utilizado pelas grandes divas pop, como Beyoncé, que mistura passos de hip-hop sobre o salto alto - tem ganhado espaço nas academias. Admirador do estilo e ciente da popularização do mesmo, Gabriel Ribeiro, 24 anos, decidiu se tornar professor da modalidade e de ritmos dance em academias e estúdios.
Mas não foi somente o gosto pela dança que o fez empreender por este caminho. Gabriel é gay assumido, ciente de que homem dançar de salto é uma forma de enfrentar certos preconceitos. Com o apoio da família, ele decidiu levar a dança como um negócio, de fato, em 2013, quando ainda morava em Rio Grande.
Em novembro de 2017, Gabriel se mudou para Porto Alegre, onde fatura, também, como drag queen, conhecida na cena drag como Bibi Ribeiro, integrante do casting do Workroom. Além disso, se apresenta em festas, e os cachês variam dependendo da proporção do evento.
O maior ganho fixo vem do vínculo com academias. Embora estereotipado, o empreendedor calcula que cerca de 30% de seus alunos de stiletto sejam homens, os outros 70%, mulheres.
Gabriel afirma que dar aulas é uma forma de militar pela causa LGBT+, pois ocupa diferentes espaços e tem oportunidade de dar visibilidade à questão. "Apoio os homens que querem espaço para externar sua sensualidade", comenta. Suas aulas de stiletto ocorrem, na Capital, no Espaço Aldeia (rua Santana, nº 252, no bairro Farroupilha) e na Moinhos Fitness (Benjamin Constant, nº 1.598, bairro São João), e, em Pelotas, na DC Fitness. As aulas custam R$ 120,00, duas vezes por semana.
FREDY VIEIRA/JC

A aceitação pessoal através da liberdade

Tiago Schmitz, 35 anos, proprietário do Charlie Brownie, que tem duas unidades na Capital, luta, através do seu negócio, por uma causa que também é sua: a LGBT+. A marca, criada em 2014, iniciou vendendo brownies pela internet e ganhou sua primeira unidade física no ano seguinte.
Após passar por uma depressão desencadeada pela não aceitação de ser gay e por perceber o quanto um ambiente organizacional pode ser prejudicial neste conflito, enxergou, no empreendedorismo, a possibilidade de liberdade. "Existia preconceito quanto aos outros homossexuais, eu absorvia e não me sentia confortável para combater, pois poderia ser demitido", lembra.
E foi somente depois da consolidação da marca própria no mercado gaúcho que se sentiu seguro para falar abertamente sobre sexualidade e levantar bandeiras. Para ele, "as marcas, também, precisam sair do armário". Por isso, seus produtos levam mensagens sobre diversidade.
Tiago acredita que as empresas de pequeno porte, como a Charlie, não precisam necessariamente ter políticas relacionadas ao tema, mas podem contribuir com ações rotineiras. E ressalta: mais do que se especializar para atender o público LGBT+, é preciso acolher funcionários que assim se classificam.
FREDY VIEIRA/JC
Durante a organização da parada livre de 2017, por exemplo, prateleiras do Charlie deram espaço para livros de Organizações Não Governamentais (ONGs) LGBTs e reverteu as receitas de alguns produtos para colaborar com o evento, como o Drink do Amor Livre, que custava R$ 19,90, e a Marmitinha recheada de doce de leite com Nutella, no valor de R$ 8,00. Além disso, o empreendedor leva a questão do respeito a palestras que realiza em escolas e abre sua loja para a realização de projetos culturais para o público LGBT+.
Na unidade do bairro Cidade Baixa, logo na entrada, há um aviso de intolerância à intolerância de qualquer tipo. "É um ambiente de proteção, as pessoas vão e conseguem ficar sem problemas de estar com seus respectivos parceiros", destaca. "São espaços de aceitação, quem se sentir desconfortável que deve sair", aponta.
O Charlie Brownie da Cidade Baixa funciona todos os dias. Os preços de doces e sobremesas custam de R$ 5,00 a R$ 34,00. As opções de bebidas vão de R$ 16,90 a R$ 29,90. O espaço de dois andares suporta 45 pessoas sentadas.