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Direitos Humanos

- Publicada em 26 de Julho de 2017 às 22:23

Após tragédia, ativista Barbara Penna quer ajudar outras mulheres

'Eu não queria e não poderia ser mais uma, afirma ativista

'Eu não queria e não poderia ser mais uma, afirma ativista


JONATHAN HECKLER/JC
A sequência de agressões e ameaças que Barbara Penna, de 23 anos, sofria de seu ex-namorado chegaram a um extremo trágico em 7 de novembro de 2013. Após uma discussão, João Guatimozin Moojen Neto jogou álcool no apartamento onde ela residia com os dois filhos, na Zona Norte de Porto Alegre, e sobre o corpo de Barbara. Tentando fugir, ela foi jogada da janela do terceiro andar pelo agressor, teve 40% do corpo queimado e uma série de lesões causadas pela queda. Os filhos - Isadora, de dois anos, e João Henrique, de três meses de idade - morreram sufocados pela fumaça. O vizinho Mario Ênio Pagliarini, de 76 anos, que tentou salvar as crianças, também faleceu.
A sequência de agressões e ameaças que Barbara Penna, de 23 anos, sofria de seu ex-namorado chegaram a um extremo trágico em 7 de novembro de 2013. Após uma discussão, João Guatimozin Moojen Neto jogou álcool no apartamento onde ela residia com os dois filhos, na Zona Norte de Porto Alegre, e sobre o corpo de Barbara. Tentando fugir, ela foi jogada da janela do terceiro andar pelo agressor, teve 40% do corpo queimado e uma série de lesões causadas pela queda. Os filhos - Isadora, de dois anos, e João Henrique, de três meses de idade - morreram sufocados pela fumaça. O vizinho Mario Ênio Pagliarini, de 76 anos, que tentou salvar as crianças, também faleceu.
Quase quatro anos e centenas de cirurgias depois, Barbara retomou a vida da melhor forma possível, e luta para que outras mulheres ameaçadas pelos companheiros não passem por um sofrimento semelhante. Casada e com uma filha, Luísa, de um ano e nove meses, ela hoje é uma ativista pelo fim da violência de gênero e, ao lado do marido, toca para a frente o Instituto Barbara Penna, que busca empoderar mulheres para que saiam de relacionamentos abusivos e busquem um novo caminho.
Ontem, ela participou do Seminário Interno da Patrulha Maria da Penha, promovido pela Brigada Militar (BM) para atualizar os agentes no combate à violência doméstica e familiar.
Barbara só soube da morte dos filhos após quatro meses internada, metade deles em coma induzido. E a ideia de ajudar outras mulheres sob ameaça foi crescendo nela desde então. "Quando descobri o que aconteceu, não tive dúvidas de que precisava lutar por justiça. Eu já estava com uma rede de força nas redes sociais, com muita gente me apoiando. Vi muitos relatos de mulheres pedindo ajuda. E eu ficava muito tempo sozinha no quarto, sem conseguir sequer falar, e ficava pensando no que faria quando saísse do hospital. Não queria e não poderia ser apenas mais uma", diz ela.
No momento, o instituto, fundado em 2014 por Barbara e seu marido, Robson da Silveira, luta para ter uma sede própria em Porto Alegre. A ideia é que, com auxílio da iniciativa privada, o espaço possa ser aberto até o final deste ano, oferecendo atendimento jurídico e psicológico, além de cursos profissionalizantes para mulheres. Já existem propostas para que o grupo, futuramente, tenha sede também em estados como Paraná e Bahia.
A independência financeira, aliás, é um ponto fundamental para o instituto. Barbara lembra que, apenas quatro dias depois da data em que o crime ocorreu, começaria um curso profissionalizante para trabalhar em um salão de beleza. A perspectiva de vê-la obtendo o próprio sustento foi, segundo ela, um dos estopins para a tragédia. "Estamos batendo bastante na tecla dos cursos profissionalizantes para que a mulher não tenha essa dependência financeira. Essa é uma das coisas que mais ouvimos falar, de mulheres que têm filhos e não conseguem cuidar (por não terem dinheiro), e o marido não deixa (trabalhar); que se sentem diminuídas e ameaçadas por causa disso."

Julgamento de agressor pode acontecer ainda neste ano

Ao mesmo tempo que luta para dar apoio a outras mulheres, Barbara também se engaja na busca de justiça. Réu confesso e pai de uma das crianças mortas no incêndio, o agressor será levado a júri popular, em um julgamento que pode acontecer ainda neste ano.
"Uma hora eu quero que saia (o julgamento), na outra, não, porque vou ter que lembrar de tudo que aconteceu. Mesmo que eu viva a minha história 24 horas por dia, quando o julgamento acontecer vai ser bem mais complicado. Mas tento deixar o que ainda não aconteceu de lado e me focar no hoje, no que estou fazendo, que é tentar ajudar a salvar a vida das mulheres, para que elas não passem pelo que eu passei", acentua.
Ainda há cirurgias a serem feitas, além de um longo processo de fisioterapia. Sua gravidez envolveu riscos, já que o coração estava enfraquecido pelas muitas operações, e a prótese interna que colocou na perna direita precisará ser substituída em alguns anos, com custos que o Sistema Único de Saúde (SUS) não poderá arcar. Mas, em nome de sua própria história e de muitas outras, ela não se permite esmorecer. "Quero que as pessoas entendam que elas têm a obrigação de denunciar. Discando três números no telefone, uma vida pode ser salva. É preciso enxergar a vizinha, a irmã, a amiga que está passando por uma situação que todo mundo sabe que não é normal. As pessoas não podem ter medo, elas não podem se calar, precisam saber que a lei está do nosso lado."
A Patrulha Maria da Penha existe desde 2012 no Rio Grande do Sul e, atualmente, atende 27 municípios no Estado. Em 2016, foram realizadas mais de 18 mil visitas a mulheres vítimas de violência doméstica ou familiar, atuando em conjunto com o Judiciário no cumprimento de medidas protetivas e ajudando na prevenção de novos casos. As vítimas podem ligar para o número 180 (Central de Atendimento à Mulher).