A situação econômica mundial, a vida mais agitada, a mudança nos gostos com consumo, a influência da própria indústria e o clima trazem ao mercado de vinhos uma tendência: a de rótulos mais fáceis de beber, menos alcoólicos e mais leves.
A enóloga e proprietária da loja Vinho e Arte, Maria Amélia Flores, salienta que não é apenas o paladar do consumidor que está evoluindo. A situação econômica influencia na escolha do vinho. "Um grande vinho, complexo, intenso, único, requer 20 a 30 anos para atingir seu auge", explica. A vinícola precisa, para isso, ter capital de giro, tempo e estrutura para que fique estocado o tempo necessário sem ser comercializado. "As novas gerações, mesmo prezando a história e a origem, visam muito à capitalização de suas vinícolas, e isto está fazendo com que os vinhos fiquem prontos mais rápido."
O gosto do consumidor também tem sua parcela de responsabilidade na mudança de hábito. "Estava-se bebendo vinhos muito fortes, muito intensos, e o consumidor acabou cansando", diz ela. Um exemplo foi o hábito de vinhos com muito sabor de madeira, que também tende ao esgotamento. Outra forte influência no gosto do freguês é o bolso. Quanto mais leve e mais fácil de beber é o vinho, menos tempo de elaboração e menos custos ele tem, o que favorece o comprador. Um exemplo desse comportamento é o Chile, país que consome muito mais vinhos de consumo rápido do que encorporados.
A enóloga da vinícola Peterlongo, Deise Tempass, afirma que é crescente no mercado a produção de bebidas com notas mais jovens e frutadas e menos alcoólicas e, por essas características, considerados mais leves. "Devido ao nosso clima tropical, o consumidor procura vinhos com notas mais frescas e menos alcoólicas, mais fáceis de beber. Temos exemplos como os varietais Terras Merlot, Cabernet Sauvignon e Tannat", afirma.
Para Deise, os consumidores brasileiros, de modo geral, procuram primeiramente vinhos mais fáceis como forma de iniciarem-se no mundo do vinho. Com o aperfeiçoamento do paladar, tendem a migrar para os mais encorpados e estruturados. O enólogo da vinícola Dal Pizzol, Dirceu Scottá, destaca, dentro desse conceito, o crescimento de consumo dos Pinot Noir, Gamay, Cabernet Franc.
"São vinhos com conceito de novo mundo, tendência exatamente por serem mais jovens, agradarem mais consumidores, com valores mais acessíveis", diz Scottá.
Companhia perfeita para o happy hour
A harmonização dos vinhos para consumo rápido também é mais fácil, explica a enóloga Maria Amélia Flores, ao contrário de um grande vinho tinto, que requer uma alta gastronomia ou mais encorpada. "Esses vinhos de consumo corrente vão combinando bem com a gastronomia do dia a dia das pessoas, com massas, pizzas, risotos", comenta.
Por se tratar de vinhos com menos estrutura, mais jovens e menos alcoólicos, há, ainda, a possibilidade de consumi-los a qualquer hora do dia e em qualquer local, como happy hour ou na beira da praia e na piscina. "São fáceis de harmonizar com comidas leves de modo geral, como peixes, grelhados, saladas", também recomenda a enóloga Deise Tempass, da Peterlongo.
Dirceu Scottá, da vinícola Dal Pizzol, afirma que hoje a maioria do consumidor é adepta desse tipo de vinho para consumo corrente. Nos encontros mais reservados e específicos, em almoço ou jantar mais sofisticado, é onde ocorre a busca por um vinho mais evoluído, com mais estrutura.
O sommelier Julio Kunz destaca que, na década de 1990, quando os brasileiros reaprenderam a beber vinhos finos, quem consumia era um público mais velho e de maior renda. Hoje, o consumidor é um pouco mais jovem e gosta de beber vinhos em ocasiões descontraídas.
"Antigamente, bebia-se espumantes só no fim do ano, hoje, é bebida de happy hour. Antes, os vinhos acompanhavam as refeições, hoje, acompanham um bom papo e uma boa companhia, sem a necessidade de um prato. A ideia de vinhos mais leves é justamente para não haver necessidade tão rígida de harmonização. A descontração é o que deve guiar o consumo desses vinhos", aponta.