Heitor José Müller, presidente da FIERGS
A quarta Revolução Industrial não é um desafio exclusivo do setor produtivo. O Brasil, como um todo, precisa estar preparado, promovendo mudanças importantes nas regras da economia nacional. A convergência de processos inteiramente automatizados com o ingresso da internet nas linhas de fabricação, compondo um circuito de empresas, máquinas, softwares e aplicativos, representa apenas uma parte desse fenômeno que terá impactos muito além do salto de eficiência.
Mas, os benefícios da "Indústria 4.0" só poderão ser assimilados com a modernização - imprescindível e urgente - de vários fatores do ambiente de negócios do País. Se o arcabouço das leis trabalhistas, por exemplo, permanecer o mesmo que está em vigor há 30, 50 ou até 70 anos - como é o caso da Consolidação das Leis do Trabalho - iremos perder a corrida por um futuro melhor para a sociedade brasileira.
Leis ultrapassadas, a proliferação infindável das reclamatórias trabalhistas e o corporativismo nos poderes públicos explicam a lamentável posição do Brasil nos certames internacionais de competitividade. E, infelizmente, somos um dos três países com o maior número de desempregados no mundo, ao lado da China e da Índia, segundo relatório da OIT. Mesmo diante dessa triste realidade, ainda há grupos contrários à evolução das relações entre empregados e empregadores.
Os que se opõem à essencial modernização das leis trabalhistas provavelmente são aqueles que acumulam privilégios. A esses, não importam as filas nas agências do Sine, nem a "calamidade financeira" dos Estados, provocada em grande parte pelo custo do funcionalismo e de seus sistemas previdenciários.
E quem paga a conta? São os contribuintes e as empresas privadas que, através da astronômica carga de impostos, sustentam uma máquina estatal que não cabe no PIB brasileiro. Mais ainda: a Justiça do Trabalho, a pretexto de proteger o trabalhador, quando adota decisões extremas, agrava as crises e engorda as estatísticas do fechamento de vagas.
Os privilegiados poderão dizer que essa posição é conservadora e expressa apenas os interesses de uma elite. Porém, qual a realidade de fato?
Os empreendedores não têm garantia de mercado para seus produtos ou serviços, nem estabilidade nas margens de venda, nem aposentadoria integral, e dependem das oscilações das vendas, do câmbio e dos humores dos mercados sob a avaliação diária dos consumidores. E a rentabilidade ao final de cada mês não é um "direito adquirido".
A nenhum empregador interessa demitir pessoas, pois sinaliza seu insucesso. E o desemprego reduz a demanda, prejudicando os negócios. Uma pessoa sem renda será um consumidor a menos. Por isto, a geração sustentada de postos de trabalho está nos objetivos da iniciativa privada e de suas entidades representativas, como a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul. Infelizmente, as lideranças laborais não admitem essa verdade. Elas atuam exclusivamente em função dos que ainda têm empregos e dos privilegiados, buscando sempre manter a situação mais conveniente, sem mudanças, sem evolução.
Logo, conservadores são os que desejam a perpetuação da CLT de 1943. Já os mais de 12 milhões de desempregados têm, na modernização das leis trabalhistas, a chance de mudar suas vidas. Mudanças que incluem até a tão reclamada e fundamental segurança dos cidadãos, pois quanto mais pessoas estiverem empregadas e satisfeitas, menores serão os índices de violência.
Claro que a nova indústria, cujas linhas de produção serão alimentadas por informações na "nuvem", exigirá um novo perfil de executivos e de empregados. O Sistema FIERGS já está atuando nesse sentido, desde as escolas de ensino médio inovadoras do Sesi - nas quais os alunos têm aulas de robótica -- até os Institutos de Inovação e de Tecnologia que o Senai vem implantando no Rio Grande do Sul, passando pelos cursos de gestão avançada disponibilizados pelo Instituto Euvaldo Lodi.
Todo esse esforço, no entanto, precisa ser complementado por ações modernizadoras, sem as quais o advento da quarta Revolução Industrial no Brasil ficará cada vez mais distante. Estarmos preparados para esse salto de competitividade econômica implica combinar diversos fatores que abrangem a desburocratização nacional, a desregulamentação dos mercados, o estímulo ao empreendedorismo e a sistemática evolução das diversas legislações que pesam sobre a economia, junto ao equilíbrio das finanças públicas federais, estaduais e municipais. Por isto, as atuais propostas de reformas estruturais devem ser apoiadas como um primeiro passo para participarmos desse novo ciclo econômico e social. Sem essa modernização do ambiente de negócios, não será possível dispormos de uma pujante indústria 4.0, enquanto o arcabouço legal - incluindo a legislação trabalhista - ainda estiver no patamar 1.0.
Confira aqui a entrevista de Heitor Müller durante o evento de premiação do Marcas de Quem Decide 2017: