As recomendações foram feitas pela Comissão de Artrite Reumatoide da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), que tem como membro o médico Claiton Brenol, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e gestor do serviço de reumatologia do Hospital Mãe de Deus. “Existe um grande volume de novos conhecimentos científicos na identificação e no tratamento das comorbidades associadas à doença. Indivíduos com esse diagnóstico têm maior chance de apresentar outras doenças, como aquelas de etiologia autoimune, além de hipertensão arterial sistêmica, de dislipidemia e diabetes mellitus”, explica o médico.
Assim, de acordo com ele, um manejo mais adequado destas enfermidades é fundamental para a vida dos que têm artrite, pois, como o risco cardiovascular é maior, o índice de mortalidade também aumenta. O especialista afirma que essas recomendações são importantes para o diagnóstico precoce e o tratamento adequado.
As novas orientações foram publicadas na Revista Brasileira de Reumatologia. Algumas delas são: evitar doses elevadas de corticoides por períodos prolongados; análise regular de densitometria deve ser efetuada em pacientes com mais de 50 anos; pacientes devem ser instruídos a evitar quedas, aumentar a ingestão de cálcio e exposição ao sol, e praticar exercícios físicos com frequência. Além disso, o cuidado de uma equipe multidisciplinar, com a participação ativa de um reumatologista, é recomendado para o tratamento e monitorização das doenças associadas.
Jornal do Comércio – Estas novas recomendações servem como base para os médicos da área tratarem os seus pacientes?
Claiton Brenol - Recomendações médicas baseadas na revisão da literatura científica chanceladas por sociedades médicas como a Sociedade Brasileira de Reumatologia ou a Associação Médica Brasileira são fontes confiáveis que auxiliam na atualização e no acesso a informações da comunidade médica em geral.
JC - A artrite reumatoide tem cura? Os pacientes conseguem, com o tratamento adequado, levar uma vida normal?
Brenol - Não. Não existe nada conhecido que faça desaparecer a doença, como acontece, por exemplo, com uma infecção quando se faz o tratamento com o antibiótico certo. Contudo, a artrite reumatoide pode ser bem controlada e ter seus sintomas resolvidos quando se atinge a remissão da doença. Remissão é uma fase em que a doença deixa de estar ativa, com o desaparecimento da dor e do inchaço das juntas e com a normalização dos exames de laboratório. É como se a pessoa estivesse curada, fazendo com que consiga obter uma qualidade de vida comparável àdas pessoas sem a doença.
JC - A mortalidade é alta?
Brenol - Pacientes com a doença apresentam taxas aumentadas de mortalidade em comparação com a população em geral. Pacientes portadores têm uma sobrevida menor do que a da população em geral. A expectativa de vida pode diminuir em até dez anos, dependendo da gravidade e da idade de início da doença. As principais causas de morte descritas são infecções, doenças linfoproliferativas, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, complicações gastrintestinais e relacionadas às manifestações sistêmicas da artrite reumatoide, sendo que as doenças cardiovasculares estão entre as principais causas de morte hoje. Assim, estas recomendações também alertam os médicos sobre a prevenção dos fatores de risco relacionados às doenças cardiovasculares.
JC - A doença tem mais incidência em idosos ou pode aparecer em qualquer idade?
Brenol - A artrite reumatoide acomete cerca de 1% da população. Qualquer pessoa, desde crianças até idosos, pode desenvolver a doença. No entanto, ela aparece mais comumente em mulheres por volta dos 35 e 45 anos de idade. Pessoas com história da enfermidade na família têm mais chance de desenvolver a doença.