Um grupo de cientistas comandado por médicos gaúchos desenvolveu um exame considerado inovador em meio à pandemia do novo coronavírus. O teste, além de identificar se a pessoa já teve contato ou não com o vírus, indica se o paciente está desenvolvendo imunidade contra a Covid-19. O Laboratório Mont'Serrat, de Porto Alegre, será o primeiro a aplicar os exames, a partir desta segunda-feira (8).
A tecnologia totalmente brasileira tem potencial para mudar o panorama de enfrentamento à pandemia, explica Alberto Stein, médico, doutor em medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e membro do grupo de pesquisa. "É uma ferramenta para enfrentar a doença com mais segurança", diz Stein, à medida em que as pessoas saibam se estão seguras para retomar suas atividades. O pesquisador lembra que 85% dos contaminados pelo vírus são assintomáticos ou têm sintomas muito leves.
O teste é realizado a partir de uma coleta de sangue que quantifica a presença de anticorpos reagentes à proteína S (responsável pela ligação do vírus com a célula humana). Estudos mostram que parte dos anticorpos produzidos contra essa proteína seriam neutralizantes, ou seja, anticorpos que inibem a ligação da proteína S do vírus à enzima ACE2, presente na superfície das células pulmonares.
"Nem todo anticorpo reagente contra a proteína S é neutralizante, mas todo anticorpo neutralizante age contra a proteína S, ou seja, os anticorpos que podem indicar imunidade com relação à Covid-19 são os que reagem à proteína S", explica Stein. Mas a avaliação exige cautela. Ainda não se sabe, por exemplo, a quantidade de anticorpos necessária para que o paciente seja considerado imune ao novo coronavírus, esclarece o médico.
Os demais exames de teste rápido identificam a proteína N, encontrada no RNA viral, mostrando somente se houve contato ou não com o vírus, explica Stein. Os anticorpos contra a proteína N não são neutralizantes e, portanto, os exames não dão informação sobre a imunidade contra o coronavírus.
O exame já vem sendo realizado em outros países como a Espanha, mas, no Brasil, ainda é novidade. A iniciativa com a expertise brasileira vem sendo desenvolvida pela empresa gaúcha Imunobiotech desde março. A expectativa é de que a tecnologia possa ser estendida a outros laboratórios do País.
Em Porto Alegre, o teste realizado no Laboratório Mont'Serrat terá resultado disponível em 24 horas. Dependendo do volume de testes, este prazo pode ser reduzido para 6 horas. O custo do exame é de R$ 250,00 e pode ser realizado mediante agendamento prévio, como medida de evitar aglomerações no laboratório, lembra o presidente do laboratório, Sérgio Oliveira. O local é um dos que
já vinha realizando testes rápidos sobre a doença.