Semáforos inteligentes acionados remotamente para liberar a passagem de ambulâncias, postes de iluminação com sensores de presença e serviços adicionais como Wi-Fi e prédios automatizados são alguns dos exemplos já práticos de como os projetos de cidades inteligentes avançam no mundo e no Brasil. Mas será que estamos preparados para isso tudo? Especialistas do IEEE, a maior organização profissional do mundo dedicada ao avanço da tecnologia em benefício da humanidade, alertam que a implantação desses sistemas inteligentes deve levar, inevitavelmente, a problemas de cibersegurança, como privacidade e ameaças a dados pessoais, e questões éticas, que precisam ser considerados. Eles participaram, ontem, de um painel no Futurecom, em São Paulo.
"A tecnologia tem que ajudar a melhorar a qualidade de vida, o desenvolvimento sustentável e os serviços urbanos", defende o professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e especialista do IEEE, Paulo Miyagi.
De fato, há uma grande revolução acontecendo. As populações estão constantemente migrando para as cidades, o que aumenta o desafio da convivência de um grande número de pessoas nos centros urbanos. Um dos aspectos das smart cities é a modernização das redes de energia, que devem ser mais automatizadas e alinhadas com matrizes sustentáveis como a solar e a eólica. Sem falar na eletricidade ocupando alguns novos espaços, como é o caso dos veículos elétricos. "Tudo isso será controlado por sistemas automáticos que operam por sensores, e que levam a uma preocupação com a segurança. A invasão a um desses sistema é potencialmente perigosa e danosa", alerta Cyro Boccuzzi, presidente do Fórum Latino-Americano de Smart Grid e especialista do IEEE.
Além da cibersegurança, outro aspecto relevante é a ética aplicada à tecnologia. "Quando ouço falar de smart cities, fico pensando em como todos esses dados dos cidadãos que são coletados estão sendo usados", questiona o professor da Ufrgs e especialista do IEEE, Edson Prestes. Segundo ele, as pessoas precisam estar atentas para as novas ameaças. Um exemplo foi o que aconteceu nos Estados Unidos, quando as funcionalidades de uma casa inteligente foram usadas para abuso doméstico. O marido acessava remotamente o sistema para aumentar a temperatura e emitir sons muito altos, com a sua esposa dentro. Parece ficção, mas não foi. "Essa foi uma situação real de uso da tecnologia para agressão psicológica", reforça Prestes.
Dentro desse contexto das cidades inteligentes, outro risco é o da geração de viés das informações que são coletadas das pessoas. É comum companhias, como de seguro saúde ou concessão de crédito, usarem dados de uma média da sociedade para fazer uma avaliação individual. "Há alguns anos, teve o caso de uma empresa de cartão que estava reduzindo o crédito de pessoas com base em onde elas faziam compras. Isso é um exemplo de uma arbitrariedade do sistema", critica.