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Cultura

- Publicada em 08 de Fevereiro de 2018 às 01:50

Filme indicado aos Oscar mostra desavença entre libanês cristão e refugiado palestino

Enredo destaca uma troca de desavenças que resulta em panorama de ódio racial e religioso

Enredo destaca uma troca de desavenças que resulta em panorama de ódio racial e religioso


IMOVISION/DIVULGAÇÃO/JC
Ricardo Gruner
Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, a produção libanesa O insulto começou a ganhar projeção internacional no Festival de Veneza, quando o veterano palestino Kamel El Basha levou o prêmio de melhor ator. Devido a polêmicas relacionadas à sua produção anterior, O atentado (2012), o longa-metragem entra em cartaz nesta quinta-feira com um aviso imposto por autoridades seu país de origem: "O filme não representa a visão do governo libanês".
Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, a produção libanesa O insulto começou a ganhar projeção internacional no Festival de Veneza, quando o veterano palestino Kamel El Basha levou o prêmio de melhor ator. Devido a polêmicas relacionadas à sua produção anterior, O atentado (2012), o longa-metragem entra em cartaz nesta quinta-feira com um aviso imposto por autoridades seu país de origem: "O filme não representa a visão do governo libanês".
O enredo destaca uma troca de desavenças que resulta em um panorama de ódio racial e religioso. Basha, ator de teatro que fez sua estreia no cinema com o filme, interpreta um engenheiro, Yasser. O personagem é um refugiado palestino que vive na capital libanesa, onde coordena trabalhos de manutenção de vias públicas. Após ele perceber uma calha problemática na varanda de um apartamento, tem início um progressivo caos na cidade. Entusiasta do Partido Cristão, o morador da residência é Toni (papel de Adel Karam), que responde grosseiramente ao imigrante. Irredutíveis, os dois vão resolver as desavenças na Justiça.
O insulto é um drama social que parte da realidade destes dois homens para explorar conflitos comuns ao mundo árabe. Mesmo assim, a narrativa contempla a dinâmica dos filmes de tribunal hollywoodianos - para o bem ou para ou mal - e até uma tentativa de reviravolta digna de novela mexicana.
Se, na forma, o filme não se destaca, no conteúdo é assertivo ao expor as feridas da guerra civil vivida pelo Líbano entre os anos de 1975 e 1990. Em vez de assumir lados, coloca todos como vítimas e agressores em alguma medida. Fica evidente a fraqueza humana, agravada e amparada por um histórico de violência amplamente contextualizado ao longo da produção. O diretor Ziad Doueiri frisa que, mesmo que não sirvam como justificativas, traumas por vezes funcionam como catalisadores de ações extremas.
Narrativa padronizada à parte, o roteiro consegue ao menos ilustrar o quão complexa é a realidade dos dois protagonistas. Culpa, dignidade e anseio por justiça se misturam com a história de seus povos. Toni, em certo momento, fala a Yasser que gostaria que Ariel Sharon, ex-primeiro-ministro de Israel, tivesse exterminado todos os palestinos. Yasser, no entanto, se recusa a repetir, na corte, o que ouviu de seu interlocutor - porque se sente culpado pela maneira como reagiu e pela dimensão que o caso ganhou.
Já o aviso que abre o longa-metragem foi colocado para evitar censura. O atentado (2012), longa-metragem em que Ziad Doueri destaca um médico palestino que vive em Tel Aviv. Ele é surpreendido quando a polícia afirma que sua esposa foi responsável pela explosão de uma bomba em um restaurante. A produção é até hoje banida das salas de cinema libaneses. Dias após a láurea no Festival de Veneza do ano passado, o diretor chegou a ser detido em Beirute - ainda por causa do filme anterior. O realizador foi interrogado a respeito de parte das gravações terem acontecido no Israel e liberado em seguida - mas acredita que a polêmica tardia foi na verdade uma tentativa de encobrir o lançamento do seu novo filme.
Pode ser que o contexto político ajude O insulto, o primeiro filme libanês indicado ao Oscar. Na corrida pela estatueta, os produtores têm como concorrentes dramas da Suécia (The Square), Chile (Uma mulher fantástica), Hungria (Corpo e alma), todos já exibidos ou ainda em cartaz em Porto Alegre, e Sem amor, representante russo que estreia hoje na Capital. Há quem acredite que, no ano passado, por exemplo, o longa iraniano O apartamento tenha sido eleito melhor filme estrangeiro como uma resposta ao presidente norte-americano, Donald Trump. O governante havia recém-anunciado um decreto que impedia, por 90 dias, a concessão de vistos para migrantes ou turistas de países como Iraque, Irã, Líbia e Síria.
Também chamam atenção os filmes que Ziad Doueri já superou na disputa pelo ouro. Entre os títulos que ficaram de fora dos finalistas ao Oscar estão Em pedaços (Alemanha), de Fatih Akin, obra que recebeu o Globo de Ouro e rendeu a Diane Kruger o prêmio de melhor atriz em Cannes; Happy end (Áustria), mais novo longa do badalado diretor Michael Haneke; e 120 batimentos por minuto, filme de Robin Campillo líder em indicações ao César, o "Oscar da França", país onde foi realizado.
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