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Cultura

- Publicada em 04 de Fevereiro de 2018 às 22:15

A forma da água, uma fábula para adultos

Um dos favoritos ao Oscar, A forma da água entra em cartaz neste feriado

Um dos favoritos ao Oscar, A forma da água entra em cartaz neste feriado


FOX/DIVULGAÇÃO/JC
Ricardo Gruner
A aclamação de A forma da água começou em setembro, quando ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza: nada mal para uma produção de fantasia, gênero constantemente esnobado em eventos normalmente associados a um cinema “cabeção” e autoral. Passados quatro meses, o filme entrou em cartaz no Brasil na última quinta-feira – já como líder no número de indicações e com o status de um dos dois favoritos ao Oscar de melhor filme, ao lado de Três anúncios para um crime (que estreia no dia 15).
A aclamação de A forma da água começou em setembro, quando ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza: nada mal para uma produção de fantasia, gênero constantemente esnobado em eventos normalmente associados a um cinema “cabeção” e autoral. Passados quatro meses, o filme entrou em cartaz no Brasil na última quinta-feira – já como líder no número de indicações e com o status de um dos dois favoritos ao Oscar de melhor filme, ao lado de Três anúncios para um crime (que estreia no dia 15).
A forma da água não é um longa-metragem de monstro convencional, característica que certamente seduziu os votantes do festival italiano. É também um romance, com tintas de aventura, de musical e até momentos de espionagem. Entretanto, peca por não se decidir se a história tem como foco crianças ou adultos: não fosse sexo e violência, certamente seria um filme infantojuvenil.
A narrativa se passa em meio à Guerra Fria, no começo da década de 1960. Os Estados Unidos estão perdendo a corrida espacial, mas um laboratório reserva aos norte-americanos aquilo que eles consideram um possível trunfo: uma criatura anfíbia, mas humanoide, capturada na Amazônia, onde era tratada como um deus. Elisa (papel de Sally Hawkings, indicada ao Oscar por sua atuação) trabalha na limpeza do local e se afeiçoa pelo ser misterioso.
Com esse recorte, o diretor Guillermo del Toro privilegia o amor em um conto que versa sobre o medo do desconhecido, mas também cita homofobia e racismo. São os outsiders, aqueles que têm dificuldades de se enquadrar na sociedade, que protagonizam o longa-metragem. Elisa, por exemplo, é muda, com origem latina, e tem como amigos uma negra (Octavia Spencer, que vive a faxineira Zelda) e um gay (Richard Jenkins, no papel do vizinho da protagonista). Todos eles passam por situações de violência, embora a opressão seja mais mencionada do que desenvolvida tematicamente, e todos têm papéis decisivos para o desenrolar da trama.
O diretor se sai muito melhor ao mostrar os efeitos da paixão em um nível pessoal do que ao tentar passar mensagens politicamente corretas. Elisa tem uma rotina de minutos contados, mas sua percepção do mundo muda conforme se envolve com a criatura. O amor é capaz de fazer alguém ver poesia até em pingos d’água, e Guillermo del Toro trata esse desabrochar com a sensibilidade dos apaixonados.
O fato do cineasta ser um obcecado por monstros deve ter ajudado. Conhecido especialmente por O labirinto do fauno (2006), o mexicano tem uma carreira inteira dedicada a filmes de fantasia. Entre outros projetos, dirigiu Hellboy (2004), trabalhou nos roteiros da trilogia O hobbit (2012-2014) e assina a série The Strain (2014-2017) como produtor executivo.
Para A forma da água, o realizador teve como inspiração O monstro da lagoa negra (1954), embora o filme faça referência também a outros filmes da era de ouro de Hollywood – algo que parece estar virando tendência. Por trás da perfumaria e das celebrações a diferentes gêneros, entretanto, o roteiro apresenta uma série de clichês que inclui até um vilão caricatural (Michael Shannon).
Além de disputar o Oscar nas categorias de melhor filme, direção e atriz, a produção ainda concorre aos prêmios de roteiro original, ator e atriz coadjuvantes (Octavia Spencer e Richard Jenkins), design de produção, fotografia, figurino, montagem, edição de som, mixagem de som e trilha sonora. A seu favor, o título já foi condecorado pelo Sindicato dos Produtores de Hollywood, cujos vencedores frequentemente coincidem com os eleitos pela Academia como melhor filme no Oscar.
Se Guillermo del Toro ganhar sua primeira estatueta de melhor direção, será o terceiro mexicano em cinco anos a realizar tal feito. Antes dele, Alfonso Cuarón (Gravidade, 2014) e Alejandro Iñárritu (Birdman em 2015 e O regresso em 2016) conquistaram a láurea. Em tempos de muros e preconceitos, parece ser a vez dos latinos em Hollywood. Ou, nesse caso, será que também dá para chamar del Toro de um outsider?
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