O setor de refrigerantes no País está em franco recuo. Nos dois últimos anos, a retração foi de quase 6%, pior resultado desde 2010. A expectativa para 2017 é de manutenção destes índices. Parte considerável das indústrias agora busca atuar em outros segmentos, como o de água mineral, tendo em vista uma tendência de diminuição de gastos do consumidor e a procura por produtos saudáveis.
A avaliação do presidente da Associação dos Fabricantes de Refrigerantes do Brasil (Afrebras), Fernando Rodrigues de Bairros, é de que a atual crise financeira gerou esse impacto, não só em seu setor. "Existe uma retração no mercado que afetou todo mundo", comenta. O executivo ainda alega que o verão, um dos potencializadores de vendas do setor, não está tão rigoroso quanto em outros anos, especialmente no Sul.
Relatório da Nielsen (empresa de pesquisa de mercado) no segundo semestre de 2016 aponta que 60% dos itens que compõem a categoria não-alcoólica crescem apenas em produtos com embalagens econômicas. Em contrapartida, a indústria reagiu aumentando a importância dos descontos. O mercado de bebida em geral, de acordo com a pesquisa, seguiu o mesmo caminho em 90% das categorias.
Como os consumidores têm o preço no centro do planejamento, pelo relatório da Nielsen existe uma tendência de troca de canal de abastecimento. Enquanto os hipermercados eram a preferência, hoje o atacarejo predomina por serem, em média, 13% mais competitivos.
Além da questão econômica, a busca por saúde também interfere no setor, especialmente o de refrigerantes. Na comparação entre novembro de 2015 e o mesmo mês de 2016, últimos dados consolidados do setor em função da queda da obrigatoriedade do Sicobe (sistema de controle de bebidas), em dezembro passado, a categoria de refrigerantes teve queda de -8,6%, enquanto o segmento de água mineral subiu 4,6%.
Quando observamos os dados consolidados dos dois segmentos quanto a consumo per capta do mercado brasileiro, a disparidade é ainda maior. Enquanto o consumo de refrigerantes passaram de 88,9 litros por pessoa em 2010 para 75,1 litros em 2015, a água mineral teve um aumento significativo de 34,3 litros por pessoa, para 62,8 litros. Na comparação, há uma queda de 15,5% nos refrigerantes contra a alta de 83% na água. Os dados foram repassados pela Associação Brasileira de Refrigerantes e Bebidas não-alcoólicas (Abir).
No momento, o setor avalia como será a medição da produção daqui em diante. Bairros lembra que no início o Sicobe oferecia dados extremamente precisos de cada estado da federação. "Tínhamos um dado bom (de controle) e agora não temos mais nada", afirma. Com as dificuldades, parte da indústria de bebidas, especialmente de refrigerantes, busca expandir seus produtos para chás e sucos voltados ao emagrecimento, já que a tendência de consumo global é esta.
Pelo relatório da Nielsen, 57% dos consumidores brasileiros estão tentando emagrecer, quando a média mundial é de 50%. Mesmo assim, as categorias saudáveis ainda precisam de desenvolvimento, já que dependem dos heavy buyers (consumidores de alta frequência/volume). A própria água mineral parece uma solução bastante viável ao segmento. "As empresas buscam alternativas para compensar a queda, e a questão da saúde também influencia na hora de fazer a escolha por um novo produto."
Fruki inaugura CD em Pelotas e investe em linha funcional
No mês que vem, a região Sul do Estado passará a contar com um centro de distribuição (CD) da empresa de refrigerantes e água mineral Fruki. A empresa, que está há um mês operando no mercado catarinense, lançará oficialmente os trabalhos em seu novo espaço da marca em Pelotas no dia 10 de março. Com investimento de R$ 20 milhões, a área construída é de 10 mil metros quadrados. A expectativa é de que o novo posto auxilie na difusão da marca em um milhão de consumidores.
O terreno do novo CD tem 30 mil metros quadrados, nos quais já funcionam armazéns, prédios administrativos, além das construções auxiliadores. O pátio permite o estacionamento de cerca de 40 caminhões. No centro de distribuição da Região Metropolitana, localizado em Canoas, a capacidade de estacionamento é de 180 veículos de transporte de mercadoria.
O espaço está em funcionamento desde a semana passada. Foram deslocados para lá 10 caminhões, 10 automóveis, 25 motocicletas e 60 pessoas, que atuaram já nos primeiros instantes de funcionamento. A expectativa é de que este número se eleve conforme a consolidação do novo CD.
Pelotas foi escolhida pelo grande número de consumidores da região. Somente a cidade promete um mercado consumidor vasto, por contar com 300 mil habitantes. Além disso, o município está localizado em ponto estratégico por ficar próximo a Rio Grande, São Lourenço e Canguçu. "As cidades da região compõem um mercado potencial de um milhão de pessoas", explica o presidente da empresa, Nelson Eggers.
Essa não é a única novidade apresentada pela Fruki nos últimos tempos. Os trâmites de uma nova planta avançam. "Em março, começaremos a desenvolver o projeto e esperamos que a edificação fique pronta em 2020", conta Eggers, sobre a fábrica que será instalada em Paverama, município próximo a Lajeado, que fica no caminho para a capital gaúcha.
O terreno adquirido para o empreendimento tem cerca de 90 hectares. "Temos espaço para promover o desenvolvimento da Fruki no Rio Grande do Sul por um século", brinca o empresário, que confiará novos produtos à fábrica. Bebidas funcionais, sucos, chás e isotônicos são as novas apostas. Energéticos e os sucos serão lançados ainda este ano.
Uma maior abrangência de mercado já estava prevista em 2015, no entanto, os planos agora parecem mais concretos. Inclusive o plano para o lançamento das cervejas de consumo popular e especiais já está preparado pelo empresário. "Vamos iniciar a produção das cervejas em parceria com outraos fabricantes, antes de nosso lançamento em Paverama", adianta Eggers.