O Brasil, ao lado de outros 13 países que formam o chamado Grupo de Lima, afirmou que não reconhece o resultado da eleição na Venezuela, na qual o presidente Nicolás Maduro foi declarado vencedor no domingo.
Em nota emitida na manhã de ontem, os governos brasileiro e de Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia, expressaram que "não reconhecem a legitimidade do processo eleitoral que teve lugar na República Bolivariana da Venezuela, concluído em 20 de maio passado, por não estar em conformidade com os padrões internacionais de um processo democrático, livre, justo e transparente".
No documento, os países também concordam em reduzir o nível de suas relações diplomáticas com a Venezuela e que chamarão para consultas os embaixadores em Caracas. Além disso, ressaltaram o "aprofundamento da crise política, econômica, social e humanitária que deteriorou a vida" dos venezuelanos, resultando no intenso fluxo de imigrantes para regiões próximas.
O Grupo de Lima ainda lamentou a "grave situação humanitária na Venezuela" e disse que uma reunião com autoridades do país será convocada para tratar de imigração e saúde pública. O encontro deve ser realizado no Peru no começo de junho.
Os Estados Unidos também fizeram fortes críticas ao processo eleitoral venezuelano. O vice-presidente norte-americano, Mike Pence, afirmou ontem que a eleição foi "uma farsa", "nem livre, nem justa". Em comunicado, Pence disse que o resultado foi ilegítimo e é mais um revés para a "orgulhosa tradição democrática da Venezuela". O vice-presidente afirma em sua nota que os EUA não ficarão parados observando a miséria do povo venezuelano. "A América se posiciona contra a ditadura e com o povo da Venezuela", disse.
Ainda que o oposicionista Henry Falcón liderasse as pesquisas realizadas antes da votação de domingo, a reeleição de Nicolás Maduro era dada como praticamente certa pelos analistas políticos venezuelanos. O comparecimento às sessões eleitorais foi muito inferior ao visto nas eleições anteriores. Apenas 46% dos eleitores participaram do pleito, que foi boicotado pelas principais frentes de oposição venezuelanas. Na última votação presidencial, a presença foi de 79%.
O candidato derrotado não reconheceu o resultado. Falcón disse que a eleição não existiu e pediu uma nova votação. Com 92% das urnas apuradas, Maduro tinha 5,8 milhões de votos (68%), contra 1,8 milhão (21%) de seu adversário. O término do mandato está previsto para 2025.
"Nunca antes um candidato havia ganho com 68% dos votos. Nocaute", foram algumas das primeiras palavras do presidente, que criticou as denúncias da oposição, mas ofereceu um governo de unidade. Falcón, por sua vez, se disse disposto a concorrer novamente em dezembro, data prevista para a disputa eleitoral até a antecipação do processo por Maduro.
Falcón denunciou mais de 900 irregularidades no processo. O principal oponente de Maduro reclamou da presença de postos de informação e controle chavistas a menos de 200 metros dos locais de votação. Também questionou o pagamento prometido pelo governo aos que registrassem seu voto nesses pontos por meio da "carteira da pátria", um sistema de identificação criado para monitorar e, assim, estimular a participação de seu eleitorado. O registro tem 16 milhões de pessoas.
"Prometeram 10 milhões de bolívares (US$ 12, pela cotação do mercado negro, quatro vezes o salário-mínimo) a quem registrar seu votos nos 'pontos vermelhos'. Não podemos vender nossa dignidade", reclamou Falcón. Outro opositor, Javier Bertucci, que obteve 925 mil votos, fez denúncias semelhantes.