O relacionamento entre funcionários é um assunto que divide opiniões. Há quem defenda que o envolvimento pode fazer com que os problemas particulares afetem o trabalho e gerem perda de foco. Em alguns casos, o término de um namoro, por exemplo, acaba com o pedido de demissão de um dos parceiros - para evitar encontros. Quando ambos são sócios do negócio e essa opção é mais trabalhosa, como lidar? Resposta: tem que ter muito amor envolvido.
Como encontros românticos, muitas vezes, começam por conta de afinidades, pode surgir aí uma boa combinação para a formação de empresas também. Afinal, nada melhor do que duas pessoas apaixonadas pelo que fazem no comando de uma empreitada, certo? A clientela sente quando há paixão nos ambientes por onde frequenta. Ou seja, amor gera amor e, de quebra, lucros.
Luis Silveira, 40 anos, e Eduardo Geraldes, 29, são casados há três anos. Eles se conheceram quando o primeiro ainda empreendia em uma tortaria com a mãe. Começaram a namorar e Geraldes foi se envolvendo também no negócio.
Ao perceber que a harmonia dava certo para o trabalho, criaram juntos um novo projeto: a
Pink Velvet Bakery, uma das confeitarias queridinhas de Porto Alegre, instalada na avenida Venâncio Aires, nº 757. Donuts e até um hambúrguer de chocolate com Nutella
(abaixo!!) fazem sucesso entre o público.
Desde o começo, a dupla garante que tudo funcionou bem em termos de afinidade para decisões. E teve de ter muito jogo de cintura. Como eles não conseguiram investimento externo para dar o pontapé inicial, ficaram um ano vendendo tortas por encomenda para juntar dinheiro e montar o espaço, como manda o nome, todo decorado em tons de rosa.
Após quase dois anos da inauguração, a marca já conquistou mais de 16 mil curtidas no Facebook e 13 mil seguidores no Instagram. Apenas em 2015, a unidade recebeu cerca de 50 mil pessoas.
Quem vê os números positivos, porém, não imagina os tantos percalços que tiveram (e ainda têm) de ser superados. "É difícil. Na janta, a conversa é sobre problemas da empresa. Quando viajamos é porque tem a ver com a loja. Quando tem crise no trabalho, vai para o casamento. É complicado separar", esmiúça Geraldes.
O casal, inclusive, morava ao lado da confeitaria para otimizar o tempo do trabalho. Até que o distanciamento se fez necessário. Em abril deste ano, deram o primeiro passo: mudaram para um apartamento mais longe. Foi para aliviar a mente.
Nesta mesma vibe de adequações para equilibrar a vida profissional e pessoal estão os namorados e sócios Martina Seibel e Rodrigo Cury, ambos com 23 anos. Eles se conheceram em 2010, no curso de Design da UniRitter. Após dois de amizade, a sintonia evoluiu para o namoro e o empreendedorismo.
Durante três anos, trabalharam juntos em um projeto para desenvolver pares de óculos com madeira reutilizável. Em 2013, a iniciativa universitária virou a empresa
Preza.
Assim como na Pink, o começo foi difícil. Em 2014, a dupla alugou um escritório e ganhou o 1º lugar em Design de Moda e Acessórios do 5º Prêmio Bornancini (uma competição nacional na área do Design) e conseguiu a primeira parceria com uma marca conhecida no Rio Grande do Sul, a Enzo Milano. Isto impulsionou a divulgação orgânica na mídia e ajudou as vendas. Apenas em 2015, o faturamento chegou a cerca de R$ 70 mil. Só que, com o crescimento da empresa, vem cada vez mais trabalho.
"A parte ruim é trabalhar 24 horas por dia. A gente só vai em eventos por causa da Preza. É uma dedicação integral. Não fazemos coisas que casais fazem, como ver séries, por exemplo, porque é produção de dia e administração de noite", desabafa Cury. Martina completa: "Começou agora a apertar o botãozinho sinalizando que precisamos mudar algumas coisas, tentar tirar um tempinho para nós".
De acordo com a psicóloga e consultora de Recursos Humanos, Renata Tomasi, os casais estão fazendo bem em buscar essa mudança e refletir sobre o assunto. Segundo ela, eles só obterão sucesso em suas duas relações distintas se conseguirem separar ambos universos.
"Claro que nós somos seres integrais, mas é importante conseguir organizar isso. Problemas da empresa vão acabar refletindo no casal. Mas, se é bem administrado, a tendência é que dê certo", expõe Renata.
A dica é conversar muito, ter sintonia e, se preciso, buscar ajuda externa, pois cada caso é singular. "Se está com problemas na empresa, buscar uma ajuda especializada pode resolver, inclusive pode colaborar no lado pessoal. O problema que estava influenciando no relacionamento não estará mais. Ou vice e versa. Se o casal está com problemas em casa, uma terapia de casais também é interessante", explica. "A gente é muito oposto em quase tudo. O Luis é organizado e estratégico. Eu sou criativo, quero fazer de uma vez. Eu cuido do coração e ele da cabeça. A gente se complementa, por isso dá certo", revela Geraldes.
A psicóloga acredita não haver receita para os casais darem certo. O que importa é ambos conseguirem definir as habilidades fortes de cada um e dividir as funções. Mas tudo pode variar. Não é matemática.
"Se o par se complementa, pode ser bom. Porque cada um cuida do que se dá melhor. E pensar igual também pode ser bom, porque fica mais fácil de decidir. Mas, neste caso, às vezes, é interessante procurar ajuda de terceiros em áreas que ambos não tenham tanta expertise", reforça.
É justamente o que a Preza está fazendo. "Nós temos a mesma forma de pensar e os mesmos interesses. Isso funciona para nós", reflete Martina.
Como ambos se voltam mais para a parte do produto, no entanto, agora que a empresa cresceu, eles estão buscando consultorias para profissionalizar o projeto e gerir os negócios, ponto em que não possuem tanta experiência. Mesmo com esses desafios, Cury ressalta a importância do amor envolvido. "Se não fôssemos namorados, possivelmente não teríamos sucesso. Porque, quando bate aquela desmotivação, nos apoiamos um no outro."